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Estado

Esta semana adeptos de vários segmentos religiosos participaram no dia, 21, juntamente com representantes do Governo do Estado por meio da equipe da Diretoria de Proteção dos Direitos Humanos e Sociais da Secretaria de Defesa Social (Seds), de uma reunião onde foi discutida a criação de um Comitê de Diversidade Religiosa no Estado. Ao todo participaram 33 pessoas e o Conexão Tocantins ouviu a opinião de alguns representantes sobre a criação deste comitê religioso.

Ao ser questionado quanto à criação do comitê, o Padre Fábio, representando os católicos, afirmou ser positiva a iniciativa e espera maturidade de todos os lados. “Acho que é feito com fins de assegurar os direitos das pessoas manifestarem sua fé, positivo, mas espero que todos tenham maturidade” afirmou. Padre Fábio disse ainda acreditar na paz entre todos os credos e religiões, mas pontua que cada religião deve ser respeitada com suas especificidades, “ter a paz como plataforma da vida pressupõe respeito daquele que é diferente de mim, todos somos iguais, mas cada credo tem suas especificidades, que devem ser respeitadas”, concluiu.

O número de brasileiros que se declaram católicos caiu de 64% em 2007, quando houve a última visita de um papa ao País, para 57% em 2013, segundo pesquisa Datafolha.

Tiw Brás, representante dos pagãos, afirmou ao Conexão Tocantins se surpreender com essa iniciativa por parte do governo. “Não esperava que o governo fosse se preocupar com essa questão, achei surpreendente a autonomia dada a cada Estado para que tenham sua comissão religiosa própria”, pontuou. Brás disse ainda que os pagãos são vítimas de muita violência por parte da sociedade, “Nos Pagãos temos um histórico muito longo e cruel de pessoas mortas e queimadas, não se pode dizer que vamos nos reunir em lugares públicos, etc. que chamam a polícia, pedi segurança na reunião, necessitamos de proteção”, concluiu.

Pagão trata-se de todos aqueles que cultivam uma espiritualidade holística, xamânica e muitas vezes politeísta. O movimento ainda é fraco, pelo menos na América Latina, mas a vários adeptos no Tocantins. Cultuam a natureza e são isentos das leis religiosas.

Mãe Magda, 60 anos, assim conhecida por representar o Candomblé de Angola, Terreiro de Oxum, também foi entrevistada pelo Conexão Tocantins, e disse ter achado maravilhoso tanto a reunião com os diversos adeptos de variadas religiões quanto a ideia de criação do comitê religioso.“ Acho maravilhoso, só assim as pessoas passam a respeitar a gente, tá muito bagunçado”, afirmou.  

“Argumentei na reunião sobre termos um canto, para que quando houver uma agressão sabermos onde procurar e tomar as providências. O afrodescendente é muito descriminado, moro há 22 anos no Tocantins e já passei por muitas coisas aqui”, pontuou Magna salientando pela necessidade de um local onde não só os seguintes do Candomblé, mas também de todas as outras religiões, possam procurar ajuda em casos de agressões ou direitos violados.

Mãe Magda finalizou dizendo: “respeito todas as religiões e gostaria que todos também respeitassem ninguém é melhor do que ninguém”, afirmou.

Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação. É uma das religiões de matriz africana mais praticada, tendo dois milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil.

Sem monopólio

Edy Cesar, um dos organizadores do 3º Encontro Nacional dos Ateus (ENA) que será realizado em Palmas, e membro da Sociedade Racionalista do Tocantins, representando o ateísmo, disse ao Conexão Tocantins ser muito importante debater a diversidade religiosa, pois tira o monopólio de uma religião específica. “No momento em que o governo tira o monopólio de uma religião, e começa a debater diversidade religiosa é muito importante, pois, as religiões de matriz africana, por exemplo, acabam sofrendo um certo preconceito de uma parte da sociedade” Afirmou Cesar. 

“Acredito na existência de preconceito contra os ateus ou talvez receio dentro da sociedade no Estado, uma vez que a influência católica e evangélica é muito forte no Tocantins, assim, pessoas não atreladas a essas religiões sofrem”, ainda salientou.

Cesar ainda argumentou que a organização do ateísmo no Estado é com o sentido de não parecer uma religião, e que poderia ter ateus na reunião como defensores dos direitos humanos. “O ateísmo no Tocantins e no Brasil, não é organizado de forma sistêmica, até para não parecer uma religião em si, e numa comissão como essa, poderia ter ateus não enquanto religião, mas defensores dos direitos humanos” disse Cesar, que perguntado sobre o porquê de não ter um representante ateu na reunião, salientou: “na realidade não fomos convidados por parte do governo para participar dessa reunião, agora seria interessante a participação, exatamente para pautar a importância do Estado laico”, pontuou.

O Ateísmo, no sentido amplo, é a rejeição ou ausência de crença na existência de divindades. É difícil determinar quantos ateus existem no mundo atualmente com precisão, mas segundo o censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010,os ateus ainda são uma minoria de cerca de 615 mil pessoas no País.

A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 5º, inciso VI, dispõe que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.