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Estado

Indígenas da Aldeia Funil, de Tocantínia, estiveram no início da semana em Palmas, na Secretaria de Defesa Social (Seds), participando de reunião com representantes de entidades municipais, estaduais e federais, para debater problemas relacionados ao alcoolismo enfrentado pelas comunidades indígenas nas aldeias Xerente do Tocantins. 

“A Secretaria de Defesa Social convidou as instituições envolvidas nesta temática para idealizarmos, juntos, na efetivação de um projeto de recuperação de dependentes do alcoolismo, que possa ser implantado emergencialmente dentro dessas aldeias”, explica Magda Valadares, diretora de Ações Sobre Drogas, da Seds.  

Durante a reunião, os líderes da etnia Xerente falaram sobre o problema enfrentado por jovens e adultos dentro das comunidades. “Nós viemos aqui mostrar a nossa situação e pedir apoio. Todos nós temos alcoólatras em nossas famílias. Temos casos de pessoas que desaparecem por vários dias, perdidas no vício, e depois voltam para casa em situações muito tristes”, relata Levi Xerente. “O problema enfrentado por um de nós dentro da aldeia é um problema que afeta a todos. Queremos, com parcerias, levar para nossa comunidade, para todo o povo akwen, oportunidades de recuperação para quem sofre com esse problema”, reforça Romário Xerente.

Depoimento

O vice-cacique Davi Kucanomiré Xerente relatou a própria experiência com o alcoolismo, emocionando os demais participantes. “Neste mês de junho completou sete anos que eu parei de beber. Perdi membros da minha família para o álcool. Depois de muito sofrer, consegui retomar meu caminho, com o apoio do Alcoólicos Anônimos e da Secretaria de Defesa Social, que me ofereceram uma oportunidade. Hoje eu quero retribuir o que recebi, contribuindo da mesma forma com a minha comunidade”. 

Presente na reunião, Vilmar Xerente, assistente social que atua no Distrito Sanitário Especial Indígena, do Ministério da Saúde, falou sobre as particularidades da cultura indígena. “Esse pedido de apoio, vindo de dentro da comunidade, é algo muito importante e inédito. A problemática vivenciada pelo povo Xerente acontece também nas aldeias das etnias Apinajé, Krahô e outras. Esse projeto que desenvolveremos em parceria, poderá, com o tempo, beneficiar a todos”.

Propostas

Entre as sugestões apresentadas pelos participantes, escolheu-se pela elaboração de um projeto similar ao realizado pelos Alcoólicos Anônimos, instituído em 12 passos, que poderá ser implantado dentro da aldeia. Sobre a questão, os indígenas propuseram a capacitação de membros da própria comunidade para desenvolver ações preventivas e de tratamento. “Podemos treinar os próprios indígenas para atuar nas aldeias e dar continuidade às ações. Usaremos nosso conhecimento de causa, aliado ao conhecimento das instituições, a fim de desenvolver um programa duradouro e de resultado efetivo”, aponta Romário Xerente. 

“O próximo passo será uma reunião com os representantes do Alcoólicos Anônimos, prevista para esta semana, para debatermos a possibilidade de elaboração de um programa a ser desenvolvido junto à comunidade da Aldeia Funil. Em seguida, visitaremos a comunidade para continuar a estruturação das propostas, em parceria com os próprios indígenas. Queremos desenvolver um trabalho multidisciplinar, envolvendo as áreas da saúde, educação, esportes, assistentes sociais, psicólogos, o Grupo Amor Exigente, entre outros, já que este é um problema não só de saúde”, afirma Magda Valadares. 

Participaram da reunião representantes da Funai, Casa de Recuperação Leão de Judá, Centro de Direitos Humanos de Palmas, Secretaria de Saúde, Secretaria da Educação, Conselho Estadual Sobre Drogas, OAB Tocantins, Polícia Militar, Universidade Federal do Tocantins (UFT), Ministério da Saúde, psicólogos e assistentes sociais. (Ascom Seds)