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Saúde

Foto: Angélica Mendonça
  •  Dona Maria Neuza é parteira há 26 anos
  • Maria Flor, da Aldeia Krahô Santa Cruz, diz que a missão de ser parteira passou de geração em geração

Mulheres espalhadas por várias localidades do Tocantins desempenham um dos ofícios mais antigos da humanidade, o de ajudar outras mulheres a dar a luz a seus filhos. Essas mulheres são denominadas parteiras tradicionais e assim acompanham a grávida durante a gestação, o parto e pós-parto, prestando assistência ao parto domiciliar, tendo como base saberes e práticas tradicionais. No Tocantins, as parteiras tradicionais somam 67 mulheres atuantes em 11 municípios. Entre essas parteiras, estão 52 indígenas das etnias Apinajé, Krahô, Javaé e Xerente.

A técnica na Área de Saúde da Mulher da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) Margarida Araújo explica que desde 2008 o Estado apoia essa prática através do projeto ‘Situação do Parto Domiciliar no Tocantins: cadastramento, capacitação e inclusão de parteiras tradicionais no Sistema de Saúde’, que, além de encontrar essas parteiras realiza eventos para trocar experiências, e aperfeiçoar o trabalho já desenvolvido. Ainda por meio do projeto, são entregues equipamentos básicos de assistência imediata ao recém-nascido do programa Rede Cegonha, como balança pediátrica, estetoscópio, toalha, capa de chuva, fraldas, entre outros.

Margarida ainda explica o trabalho que as parteiras tradicionais desenvolvem. “As parteiras tradicionais são figuras muito importantes na cultura popular brasileira. Elas atuam em áreas onde, às vezes, os serviços de saúde são menos acessíveis. Elas prestam apoio, são solidárias e prezam pela autonomia da mulher durante o trabalho de parto, sendo uma referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS) no que diz respeito às práticas de humanização do parto”, destaca.

Maria Neuza Moraes Cruz conta que iniciou o ofício de partejar quando uma vizinha que estava em trabalho de parto e sozinha pediu ajuda e ela, instintivamente, amparou a criança ao nascer. “Eu fiz o primeiro parto quando eu tinha 32 anos de idade; já faz 26 anos que sou parteira, já fiz o parto de 204 crianças. Aonde me chamar eu vou, as mulheres gostam de mim e dizem que sentem confiança”, relata. Maria Neuza conta que todo o material usado nos partos está sempre esterilizado. “Eu nunca sei a hora que vou ser chamada, por isso deixo tudo prontinho”, diz.

A indígena Maria Flor, da Aldeia Krahô Santa Cruz, município de Itacajá, fala que a missão de ser parteira passou de geração em geração. “Aprendi acompanhando a minha avó e também ajudando a minha mãe. Depois que elas morreram, eu fiquei com a tarefa de ajudar os nenéns a nascerem”. Maria Flor afirma que a mulher e o bebê é quem decidem a hora de nascer. “Quando a mulher começa a sentir a dor, ela manda me chamar e eu fico até na hora que mulher ganha o nenê. Pode ser de tarde, de noite, de madrugada, qualquer hora, são eles que decidem quando nascer”, explica a parteira, dizendo ainda que o papel dela nesse processo é o de dar apoio, de dar carinho e incentivar a mãe.

Municípios

O projeto ‘Situação do Parto Domiciliar no Tocantins: cadastramento, capacitação e inclusão de parteiras tradicionais no Sistema de Saúde’ contempla os municípios de Esperantina, São Miguel, Maurilândia, Campos Lindos, Goiatins, Barra do Ouro, Conceição do Tocantins, Tocantinópolis, Paranã, Formoso do Araguaia, Lagoa do Tocantins, Itacajá, Tocantínia e Lagoa da Confusão. (ATN)