Mude o seu olhar, tente ver por outro ângulo. A solidariedade deve pautar as relações entre as mulheres, ainda que tenhamos divergências de ideias. Somos poucas nos espaços de poder, não há tempo para rivalidade, não cabe agressividade para com aquelas que contrariam as expectativas da sociedade e participam ativamente da vida pública.
A reprodução de discursos que atribuem valores negativos às mulheres não fortalece a nossa luta. Esta postura acaba estimulando a desigualdade de gênero nos espaços de poder. Ainda que não seja proposital, é preciso reconhecer que uma parcela das mulheres acaba reforçando a naturalização do discurso de inferioridade perante os homens, propagado pelos mecanismos de educação.
O que nos faz lembrar o mestre Paulo Freire em sua afirmação de que "Quando a educação não é libertária, o sonho do oprimido é ser o opressor." Ou de Simone de Beauvoir, escritora, filósofa, ensaísta e feminista francesa, considerada uma das mais importantes representantes do Movimento Existencialista francês "O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos".
Deixe de ser cúmplice e ajude a desconstruir esse modelo de sociedade que limita a participação das mulheres em razão do seu gênero. Solidariedade para com as mecânicas, engenheiras, matemáticas, políticas e outras mulheres que já enfrentam muitas barreiras para ocupar esses espaços historicamente masculinos. Por isso, ao se deparar com uma mulher em situação de desrespeito é nosso dever prestar assistência e solidariedade a ela, e não reforçar o discurso machista e atribuir a ela toda culpa pelo ocorrido.
Os últimos acontecimentos envolvendo a Presidenta Dilma exemplificam bem essa situação. Não importa se Dilma é de um partido contrário ao seu, se defende ideias contrárias às suas. O fato é que nada justifica o compartilhamento de material pornográfico com a imagem da Presidenta da República em redes sociais. É estarrecedor ver qualquer pessoa compartilhar esse material. No entanto, ver mulheres partilharem é, simplesmente, desolador.
Dilma foi a primeira mulher a ser eleita e reeleita Presidenta da República. E isso é muito significativo para nós mulheres brasileiras. Ela ocupa o maior cargo da República Federativa e possui uma trajetória de resistência. Enfrentou a ditadura militar, lutou a favor da democracia e nunca desistiu de sonhar com um Brasil mais justo e inclusivo.
Não estamos a defender que não se deve criticar os resultados do seu governo, mas o quanto é importante manter a sobriedade ao criticar; e de reconhecer que, para a luta das mulheres, demos um passo importante com a sua eleição e reeleição.
A quem interessa a ausência de mulheres nos espaços públicos? A quem interessa o fortalecimento dos valores machistas e patriarcais? Reflitam sobre isso antes de reproduzir, no convívio social, discursos que só fortalecem a divisão entre nós, mulheres. Nada de dizer "que ela é difícil de lidar", "que é agressiva e que por isso é despreparada".
Da próxima vez que uma mulher for ofendida faça diferente, mude o seu olhar, seja solidária e fortaleça a luta de muitas outras que, apesar das dificuldades, buscam nos representar em diferentes espaços de decisões, mesmo que muitos façam lembrar que esses não são ambientes para mulheres. A essas guerreiras, representada pela Presidenta Dilma, nossa solidariedade.
Gleidy Braga Ribeiro é jornalista e secretária de Estado da Defesa e Proteção Social