O presidente estadual do PT Tocantins, Júlio César Brasil, afirmou durante entrevista exclusiva ao Conexão Tocantins nesta quarta-feira, 13, que ainda há espaço para conversação, com as deputadas federais do PMDB Tocantins Josi Nunes e Dulce Miranda que declararam que irão votar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O presidente do PT lembrou que o partido ajudou a eleger o governo do peemedebista Marcelo Miranda e disse que a aliança não pode ser só no momento da eleição. Segundo ele, os votos do partido na Assembleia Legislativa do Tocantins, onde possui três deputados, tem sido cem por cento fieis ao governador Marcelo Miranda e tem ajudado a governar, por isto entendendo que a recíproca precisa ser verdadeira no plano federal.
Segundo Júlio César, não há motivos para que o PMDB trate o PT “da maneira que está anunciando que tratarão”.
O presidente do PT ainda fez um pedido para que a bancada de deputados federais do Tocantins reflita com bastante atenção e que não se deixem levar pelos argumentos da mídia, que olhem para o Estado e vejam quem foi o governo que ajudou a melhorar cem por cento das pequenas cidades do Tocantins, que incluiu o Tocantins no mapa do Brasil. Ele pediu aos parlamentares que votem olhando para a população mais pobre, para o povo mais carente e que esqueçam pelo menos por um minuto, os grandes interesses que os estão pressionando.
Confira abaixo a entrevista na íntegra do presidente Júlio César Brasil
Conexão Tocantins – Presidente, a votação do impeachment da presidente Dilma está marcada para domingo. Na opinião do senhor, o que levou a esse cenário de possível cassação da presidente?
Júlio César - A nossa opinião é bastante conhecida. Para nós o que existe é um terceiro turno, nunca se encerrou a eleição de 2014, infelizmente para o Brasil, além de erros pontuais que foram cometidos na gestão, mas que não justificam o processo de impeachment.
CT – No cenário político local o PT participa da aliança política que elegeu o governador Marcelo Miranda (PMDB). Como o senhor analisa o atual posicionamento das deputadas federais do partido (Josi Nunes e Dulce Miranda) que resolveram apoiar o impeachment a partir de uma orientação do diretório regional do partido?
JC – Olha, nós conversamos, temos conversado com o Governo (do Estado) que é parte interessada neste processo e esperamos que o governo oriente, pondere, converse com o seu partido e estamos tendo esta situação posta aí. Deputadas federais que nós ajudamos a eleger, pois estávamos na mesma coligação que elas. Os votos do PT ajudaram a eleger essas deputadas e elas agora estão aí anunciando o voto (a favor do impeachment). Nós achamos que ainda há espaço para conversação, tanto que estamos conversando ainda, mas vemos com grande preocupação, pois a aliança não pode ser só no momento da eleição. A eleição tem que ser após também e, além do que, o PT tem sido base de apoio para este governo aqui no Tocantins. Os nossos votos, do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa tem sido cem por cento fieis a esse governo, tem ajudado a governar. Então a gente entende que a recíproca precisa ser verdadeira, não há motivos para que o PMDB do Tocantins nos trate da maneira que está anunciando que tratarão.
CT – Na opinião do senhor, essa orientação do diretório local do PMDB para essas deputadas pode ser encarada como uma derrota da senadora Kátia Abreu (PMDB) dentro do partido, uma vez que ela participa do governo da presidente Dilma Rousseff como ministra?
JC – Bom, isso são conflitos internos do PMDB que eles têm que falar por eles. Nós do PT temos os nossos conflitos, mas debatemos e discutimos internamente e encaminhamos, levando em consideração, sempre, o interesse da sociedade, o interesse local, o interesse do governo. Então, a gente espera que o PMDB tenha a capacidade de fazer isto também, até porque, que eu saiba o Governo Federal não tem se comportado como inimigo ou adversário do Governo do Estado do Tocantins e, querendo ou não, essas deputadas podem facilitar a vida deste governo estadual, assim como as ações, os votos delas podem também dificultar a vida do governador.
CT- O senhor acha que esse posicionamento, essa divergência interna do PMDB regional, pode ser em função já de um processo eleitoral a nível estadual para 2018 que já está antecipado e há interesses divergentes dos dois grupos?
JC- Não, esse conflito dentro do PMDB é mais é falta de capacidade de gerenciar conflitos.
CT- A falta de capacidade seria dos dois líderes maiores do partido, senadora Kátia Abreu e governador Marcelo Miranda?
JC – Não, mais especificamente do Marcelo. A eleição do Marcelo só deslanchou quando a Kátia Abreu veio para dentro do PMDB e pegou a eleição dele para fazer. Por exemplo, em junho de 2014 nós não tínhamos ainda sentado com o PMDB do Tocantins porque eles não tinham capacidade de conduzir o processo. A partir do momento que a Kátia Abreu veio, as coisas começaram a fluir, a eleição do Marcelo começou a acontecer. Qual foi o primeiro ato de governo? Foi o rompimento com o principal apoiador que o Marcelo Miranda teve na campanha e que teria no mandato. Então acho que é mais incapacidade de quem está governando, do que da própria Kátia Abreu. Ela está fazendo a gestão dela, tem um grupo político forte espalhado aí pelo Estado, está fazendo gestão. Então eu acho que o que está faltando mesmo é o governo mudar o rumo das coisas, é valorizar a aliança que o elegeu e que o ajuda a governar. Eu acho que é por aí!
CT- E como que o senhor acha que vai ficar essa aliança local dos dois partidos e o posicionamento, lógico, dos três deputados do PT na Assembleia Legislativa, caso as deputadas do PMDB mantenham o posicionamento delas e votem no domingo a favor do impeachment da presidente Dilma?
JC – Toda ação inevitavelmente causa reação. Nós temos sido base fiel e ajudado esse governo a se sustentar, agora, nós somos de grupo, a nossa militância não é cega e nem é muda, ela vai cobrar dos nossos dirigentes alguns posicionamentos. Então, cabe ao governo ponderar se somos importantes ou não nesse processo, cabe aos nossos deputados ouvir a militância e no momento oportuno vamos fazer essa discussão e podem sim, vir mudanças no relacionamento lá na Assembleia Legislativa, no governo. Agora, nós não estamos nesse governo de favor, nós estamos participando da gestão estadual porque ajudamos a eleger o governador, ajudamos a eleger as deputadas federais que estão dizendo que vão votar favoráveis ao golpe, nós ajudamos a eleger senador. Então a gente está participando do governo porque a gente conquistou esse espaço no voto e nas ruas.
CT- Voltando a falar do cenário federal, essa radicalização que aconteceu e o senhor falou de golpe, o PT vem sempre batendo nesta tecla. Do ponto de vista da tramitação, o impeachment a gente sabe que é uma questão constitucional, os motivos do impeachment é que realmente podem ser questionáveis e, naturalmente, por este ângulo, é que acredito que o PT esteja batendo na tecla do golpe. Voltando na primeira questão que eu coloquei para o senhor, o que levou a essa radicalização? Que erros o governo Dilma cometeu que levou a esse tipo de reação da bancada federal, de todas as bancadas lá na Câmara Federal? O que o senhor acha que aconteceu? Faltou diálogo da presidente com os deputados, faltou ela negociar, articular da forma como o ex-presidente Lula articulava anteriormente? Onde ela errou?
JC- Na verdade, na minha avaliação, o que nós estamos vivendo é o ápice do mercantilismo da política e do enfraquecimento partidário. Os partidos já não têm o devido controle das suas bancadas. Na verdade, não é falta de negociação, acho que o grande problema é negociação demais. Hoje, cada voto, olha aqui para o Tocantins, olha para os demais estados, cada voto é negociado um a um. Vamos olhar para a Assembleia (Legislativa) como é que tem sido feito.
CT – O senhor não acha que o fato da presidente Dilma ter tido um comportamento diferente do que até então era um modus operandi, de não fazer esse tipo de negociação que do ponto de vista do eleitor e ao olhar da sociedade chega a ser até antiético, na questão do toma lá dá cá, levou a esse posicionamento e os deputados a se posicionarem desta maneira?
JC- A questão é a seguinte. Acho que o governo, inclusive o governo da Dilma, concedeu demais, inclusive ao PMDB. Um partido que tem sete ministérios não é pouca coisa, mas eles querem mais e o outro que tem três ministérios quer mais também e o outro também quer mais, é isso que estou dizendo. Na verdade, o que está acontecendo é que se quer implantar um parlamentarismo no País. É poder demais para o parlamento, é poder demais para cada deputado. Se o poder estivesse dado para o parlamento para o partido, acho que não era tanto problema. A questão é; quem está extremamente empoderado é cada parlamentar em si, que cada um fala por si, cada um negocia por si e quer o seu quinhão da República.
CT- O posicionamento hoje dentro da Câmara dos Deputados, o senhor acha que existe por trás um interesse da elite, principalmente da elite empresarial que financiou as bancadas no Congresso? Recentemente um levantamento mostrou que 70% dos parlamentares foram financiados pelas 10 maiores empresas do País. A gente vê hoje a Fiesp defendendo uma agenda e patrocinando líderes de movimentos na internet que levam uma massa da população para as ruas, para essas manifestações, uma agenda que bate contra, por exemplo, a agenda dos movimentos sociais e dos sindicatos que se fortaleceram nos últimos dez anos.
JC – Olha, que há retrocesso, que vai acontecer retrocesso nos direitos sociais, nos direitos das pessoas, isso aí é inegável. A terceirização, essa questão das horas de trabalho, dos direitos dos trabalhadores. Não é à toa que a Fiesp - Federação da Indústria do Estado de São Paulo - juntamente até com algumas entidades do exterior, americanas, estão bancando este processo. A gente compreende, quando te falo que é o ápice do mercantilismo na política, é isso! O deputado que for eleito pelas empresas, naturalmente ele vai ter que defender os interesses dessas empresas. Se para isso tiverem que quebrar e vender a Petrobras, quebrar e vender o Brasil, vão vender! Os caras pensam dessa maneira, não tem como escapar. Agora, eu não acredito que os movimentos sociais e sindicatos se fortaleceram muito nos últimos dez anos. Acho que os grandes avanços se deram mais na área social, no direito das empregadas, etc. Se tivesse se fortalecido (os sindicatos) não tínhamos chegado aonde chegou, teria conseguido agir com mais força. Na verdade, o nosso governo enfraqueceu os movimentos sociais, nosso governo foi atendendo as pautas, nós avançamos nos direitos e, isso é normal, quando se avança nos direitos se recua nas mobilizações. A verdade é que os movimentos sociais estavam muito encolhidos, nós estamos rearticulando os movimentos sociais, a sociedade está se rearticulando nesse momento de crise, mas nos últimos dez anos o que houve foi um arrefecimento, um calmamento dos movimentos.
CT- Em 2012 nós tivemos parece que 870 greves no País, em 2013 essa quantidade de greve saltou para 2.050 e isso coincidiu com aquele processo, com as primeiras manifestações de rua, principalmente as mais radicais de junho. O senhor acha que houve, nesse sentido, uma influência naquele momento, dos movimentos sindicais e desse aumento consistente da quantidade de greve?
JC- Não sou habilitado para dar posicionamento sobre isso porque acompanho pouco essa questão dos movimentos dos trabalhadores. Não tenho uma opinião segura sobre isto, mas arrisco a dizer que talvez o inverso. Talvez as marchas de junho é que tenham estimulado o surgimento de novas greves porque, como afirmei anteriormente, os movimentos sociais estavam um pouco acalmados, estavam um pouco acomodados. Foi a necessidade que fez com que os trabalhadores se reorganizassem e historicamente é assim que as coisas acontecem. É no aperto que os trabalhadores e os movimentos se organizam e se articulam. Então, não tenho dúvida do que o que está por vir é extremamente preocupante para os trabalhadores e os mais diversos segmentos. Vende-se a ideia de que o impeachment é para melhorar a economia do Brasil, é porque a Dilma teria feito corrupção, que tem a ver com a Petrobras e a gente sabe que não tem nada a ver. O que está acontecendo é um golpe orquestrado pela mídia, pelo judiciário brasileiro que está a serviço desse golpe, o judiciário brasileiro, boa parte dele tem estado a serviço desse golpe. Os índices de radicalização, de desrespeito ao direito das pessoas só tem aumentado. Então enquanto os aparatos de governo começam a recrudescer na sua violência, houve uma denúncia anônima para a Polícia Federal aqui e foi o suficiente para levarem nove pessoas em condução coercitiva, numa denúncia anônima. Já desencadeou um processo de condução coercitiva, ninguém estava fugindo, ninguém estava cometendo crime, mas é assim. Daqui a pouco nós vamos ver, na hora que houver uma denúncia sobre qualquer cidadão, primeiro vão prender, condenar e depois nós vamos investigar para ver se de fato. Esse é o nosso erro, por isso a gente chama esse processo que está em andamento no Brasil de golpe porque os direitos das pessoas já estão sendo desrespeitados e serão muito mais se esse golpe se concretizar.
CT – Caso a presidente se livre no domingo do impeachment, na opinião do senhor, quais são as ações que o governo deve tomar a partir dali para corrigir a rota, para poder ter uma melhor relação com o Congresso, o que o senhor acha que deve ser feito?
JC – Olha, para nós, mesmo com a derrota do golpe no domingo, não quer dizer que o golpe acabou, ele vai continuar até porque as forças retrogradas e conservadoras que estão lá no Congresso vão continuar tentando destruir este governo de qualquer maneira. Então para nós é bem claro, a luta continua.
CT- Para finalizar. Que mensagem o senhor teria para mandar hoje para os parlamentares do Tocantins que no domingo vão participar do processo de votação do impeachment?
JC – Olha, aos parlamentares do Tocantins eu peço que reflitam com bastante atenção, que não se deixem levar pelos argumentos da mídia, que olhem para o Estado e vejam quem foi o governo que ajudou a melhorar cem por cento das pequenas cidades do Tocantins, que incluiu o Tocantins no mapa do Brasil e que votem olhando para a população mais pobre, para o povo mais carente e que esqueçam pelo menos por um minuto, na hora de votar, que esqueçam os grandes interesses que estão pressionando eles e que até possivelmente tenha bancado suas campanhas, financeiramente falando. Peço que olhem para o povo do Tocantins, que olhem para os mais fracos, olhem para os pequenos municípios, que olhem para o futuro do Estado e para o futuro do Brasil. Nós temos muita preocupação com o que pode vir com o resultado dessa votação.