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Educação

Já estão abertas as inscrições para o Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, uma iniciativa do Baobá – Fundo para Equidade Racial, Instituto Unibanco, e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que visa identificar, reconhecer e acompanhar projetos de gestão escolar voltados ao desenvolvimento e à implementação de práticas capazes de elevar os resultados educacionais dos jovens negros e negras do Ensino Médio.

Essa é a segunda edição do edital, que em 2014 selecionou dez projetos no País. Um deles foi desenvolvido pelo Colégio Estadual de Cristalândia, o “Batuque”, no município de Cristalândia interior do Tocantins.O projeto foi implementado em 2015 e reuniu alunos e professores de diversas disciplinas na única escola de Ensino Médio do município, para o estudo da história dos povos afro-brasileiros e africanos. 

A nova edição do edital também irá selecionar dez projetos em todo o país. Cada um receberá até R$ 35 mil  para ser desenvolvido ao longo de 2017. Podem participar da seleção escolas públicas de Ensino Médio e organizações sociais, de todo o Brasil, em parceria com escolas, legalmente formalizadas e com atuação na área da Educação e superação das desigualdades raciais. As inscrições podem ser feitas até 30/11 pelo endereço http://www.institutounibanco.org.br/juventude-negra. A divulgação dos finalistas será feita em fevereiro de 2017. A seleção dos projetos caberá unicamente à Comissão de Seleção, formada por representantes do Baobá – Fundo para Equidade Racial, do Instituto Unibanco, da UFSCar e outros especialistas convidados.

O primeiro edital, lançado em 2014, recebeu inscrições de mais de 120 projetos de escolas públicas de Ensino Médio e de organizações sociais (parceiras das escolas públicas). Foram selecionados quatro projetos da região Nordeste, três da região Norte, dois da região Sul e um da região Sudeste. 

Cultura e história africana no interior do Tocantins 

O projeto “Batuque” existe há uma década no Colégio Estadual de Cristalândia e foi idealizado pela professora de História e Filosofia, Elizabeth Aires Leite. Ela decidiu desenvolver a iniciativa após a conclusão de um projeto de especialização sobre a Lei 10639, de 2003, que propôs novas diretrizes para o ensino da cultura e da história dos povos afro-brasileiros e africanos nas redes pública e municipal. “Eu queria aplicar na prática o que havia discutido durante minha especialização”, explica. O nome “Batuque” foi escolhido em referência ao bater dos tambores, segundo ela, “um chamamento” aos jovens. “Cristalândia é uma cidade muito pobre, que oferece poucas atrações culturais ou formas diferentes de pensar. Dessa forma, o ponto de referência dos meninos e meninas é a escola. Eles estão lá dia e noite”, diz a professora. 

O Colégio Estadual de Cristalândia é o único que oferece Ensino Médio na cidade de pouco mais de 7 mil habitantes, distante cerca de 130 km da capital Palmas. 

“No início, era difícil trabalhar essa temática na escola, apesar de cerca de 70% dos alunos serem negros. Em todo lugar existe o conflito racial, mas vivíamos um ambiente calado, silenciado em relação ao assunto”, lembra a professora Elizabeth. “Hoje se fala abertamente sobre preconceito e discriminação. Os ex-alunos nos trazem retorno quando vão fazer a universidade em outras cidades, dizem que levam para a vida o que aprenderam na escola em Cristalândia”.

O projeto “Batuque” é oferecido aos alunos do 2º ano do Ensino Médio e conta com 90% de adesão da turma. Durante o ano, são ministradas palestras sobre história e cultura dos povos afro-brasileiros e africanos, seminários para sensibilização sobre o tema, rodas de conversa sobre cinema e literatura, e religiões de matriz africana, inclusive com a participação de professores da Universidade Federal do Tocantins. Também são realizadas oficinas em parceria com outras disciplinas, que vão da confecção de bonecas negras à dança e percussão. “É muito bom quando realizamos trabalhos diferenciados, que transpõem a sala de aula, porque os alunos se envolvem. Procuramos criar momentos para que os alunos dos outros anos também participem”, explica.

Panorama

Nas últimas décadas, as discussões e ações em prol do acesso de jovens negros e negras à educação no Brasil tiveram significativo avanço. Os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2014) mostram que, pela primeira vez em sua série histórica, mais da metade dos brasileiros de 15 a 17 anos que se autodeclararam pretos ou pardos ao IBGE estão estudando no Ensino Médio. No início da década passada, o percentual era de apenas 25%. 

No entanto, ainda é muito preocupante a desigualdade revelada na comparação entre o desempenho no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) dos jovens negros e os demais grupos. O aprendizado é em média 15 pontos inferior ao dos estudantes brancos. As desigualdades raciais mostram que a equidade precisa ser um princípio estruturante das políticas educacionais e uma realidade nas escolas brasileiras.

Prazos do Edital

24/10 a 30/11/2016 

Período de inscrições

13/02/2017

Divulgação dos finalistas

Fevereiro/2017

Previsão de início da execução dos projetos

Dezembro/2017

Previsão de encerramento dos projetos

Sobre o Instituto Unibanco

Fundado há 34 anos, o Instituto Unibanco é uma das instituições responsáveis pelo investimento social privado do conglomerado Itaú Unibanco e busca contribuir para a melhoria da qualidade da educação, por meio do fortalecimento da gestão escolar com foco na melhoria do Ensino Médio. Atualmente, concebe, avalia e dissemina soluções voltadas para essa etapa do ensino para ampliar as oportunidades educacionais dos jovens, em busca de uma sociedade mais justa e transformadora. O Instituto Unibanco concentra a sua atuação no aprimoramento da gestão escolar, fomentando a geração de conhecimentos que melhorem a qualidade da educação e a efetividade das políticas públicas, contribuindo assim para a redução das desigualdades.

Sobre o Fundo Baobá

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é uma organização da sociedade civil em fase de construção e consolidação do seu fundo patrimonial, que tem como objetivo, em longo prazo, se tornar sustentável e ter receita própria para apoiar as iniciativas em prol da equidade racial. Fundado em fevereiro de 2011, o Baobá é uma associação sem fins lucrativos, cuja meta é estimular o crescimento da cultura de justiça social e filantropia, baseado em ações éticas, justas e efetivas para a transformação social do país. Para cumprir sua missão, definiu alguns eixos estruturantes de atuação na sociedade brasileira, a partir da análise das demandas mais emergenciais para a promoção da equidade racial: Desenvolvimento Econômico, Comunicação, Combate à Violência Racial, Participação Política, Fortalecimento Institucional de Organizações do Movimento Negro e Educação, sendo este último um elo de extrema importância para impulsionar os demais eixos estruturantes e, assim, contribuir para construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Neab/UFSCar

O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade Federal de São Carlos foi criado em 1991, por iniciativa de professores, estudantes, servidores e de militantes do Movimento Negro da cidade de São Carlos/SP. Desde sua criação, o Neab tem desenvolvido atividades de pesquisa, ensino e extensão. Seus objetivos são: realizar estudos cujos resultados possam ser aplicados na formulação e execução de políticas públicas de promoção da equidade racial; estudar e divulgar a realidade dos descendentes de africanos na sociedade brasileira; analisar as relações interpessoais, culturais, sociais, econômicas mantidas pelos descendentes de africanos com outros grupos étnico-culturais com quem convivem, com vistas a criar mecanismos de combate ao racismo e as discriminações; registrar a memória social afro-brasileira; promover a formação de professores, agentes comunitários e outros educadores, para que promovam atitudes de respeito às culturas dos grupos de diferentes etnias e classes sociais presentes na escola, bem como organizem programas e materiais de ensino que visem ao diálogo entre estas culturas e que a escola tem por meta transmitir.