O Tocantins continua empenhado na busca de alternativas para implantar serviço especializado em cirurgias cardíacas pediátricas. A possibilidade da implantação é cada vez mais factível com a capacitação especializada que será oferecida pelo Hospital do Coração (Hcor), de São Paulo (SP), a 27 profissionais de saúde do Tocantins a partir do mês de fevereiro.
As vagas serão destinadas a médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas e outros profissionais comprometidos com o projeto de implantação do serviço especializado. Os profissionais serão capacitados dentro do HCor, serviço de referência no País para este tipo de procedimento e que realiza anualmente cerca de 250 cirurgias cardíacas pediátricas em crianças oriundas de serviços públicos, privados e conveniados de todo o Brasil. Somente em 2015, 18 crianças do Tocantins foram atendidas no HCor para realização de cirurgias cardíacas delicadas. Em 2016, até o momento, 26 crianças foram encaminhadas para o hospital paulistano.
Nesta terça-feira, 13, uma equipe técnica do Ministério da Saúde e do Hcor visitou os hospitais estaduais da Capital para, a pedido do Governo do Estado, avaliar o projeto da Secretaria de Estado da Saúde de implantação do serviço e orientar o grupo encarregado do projeto sobre como proceder com os trâmites e providências a serem tomadas. Segundo a superintendente de Políticas de Saúde do Tocantins, Margareth Amorim, a relação de profissionais com perfil recomendado pela equipe do HCor será definida até a primeira semana de 2017. As capacitações acontecerão, conforme distribuição de vagas e cronograma acertado diretamente com a equipe do hospital paulistano entre fevereiro e dezembro do próximo ano. Os profissionais participarão de capacitação, visita e estágio observacionais de 30 a 40 dias no HCor. A intenção é que eles se tornem multiplicadores na rede estadual para ampliar o quadro de profissionais habilitados a atuar no novo serviço.
Após as visitas, a equipe técnica fez orientações e sugestões para o grupo da Secretaria de Saúde, que elaborou um projeto para implantação do serviço no Estado. Entre as orientações está a de que se priorize o Hospital Geral de Palmas (HGP) como a unidade de referência para o serviço e que as cirurgias pediátricas sejam a prioridade inicial.
Implantação e habilitação
A gerente da Cardiopediatria do HCor, Ieda Jatene, avaliou o esforço do Tocantins como promissor. “É muito viável. A grande intenção disso tudo é que essas crianças não precisem se deslocar para longe de suas cidades, desestruturando suas próprias famílias. Um serviço de qualidade, como este que está sendo programado, vai atender a muitas destas crianças que precisam ser tratadas. A Região Norte tem 90% de déficit de atendimento para criança cardíaca, então tudo que se possa fazer para montar um serviço a vai seguramente contribuir para atender um expressivo número de crianças, beneficiando a região do Tocantins e entorno”, completou, acrescentando que o serviço também integrará a rede nacional de regulação.
A representante do Ministério da Saúde, Neli Muraki Ishikawa, esclareceu também que a habilitação do serviço junto ao Ministério da Saúde deve acontecer com o serviço já em funcionamento. Segundo Neli, a intenção é que profissionais do Estado sejam capacitados e, posteriormente, se credencie um serviço local para receber recursos que permitam a implantação do serviço de cirurgia cardíaca congênita. “O quantitativo de crianças que necessitam desse procedimento no Tocantins é considerado alto e como nos estados onde são feitos os procedimentos as demandas também estão altas, não há condições de se atender a todas as solicitações, por isso é importante que haja esse serviço no próprio Estado”, informou.
“É importante destacar que não é de um dia para o outro que se passa a realizar este tipo de procedimento. O Hcor demorou mais de 20 anos para chegar ao patamar que está, de referência para todo o País. É preciso que haja interesse mútuo da gestão e da equipe que vai participar da capacitação para que o processo sejam contínuo”, afirmou a gerente Ieda Jatene.
Fila de espera
Ieda destacou ainda que mesmo com a implantação dos serviços no Tocantins, isso não resolverá o problema de filas. “A partir do serviço instalado as filas continuarão, não há como mudar isso. No Hcor temos fila de três meses de espera. Hoje não há como receber nenhum paciente, porque não temos leitos. É preciso entender que não adianta querer fazer, tem que se fazer o que é possível. Mandar uma criança para outro estado sem ter condições de este recebê-la não resolve. Entendemos a angústia das famílias, mas é preciso estar a par da realidade do País”, enfatizou.
Fábio Papa Taniguchi, também da equipe do Hcor, ressaltou os critérios que precisam ser avaliados para que o Tocantins esteja apto a receber os serviços e que o projeto deve incluir outras perspectivas, que ampliem o projeto de cirurgias especializadas como uma etapa de uma política de linha de cuidado dedicada ao assunto. “A vontade de se ter este tipo de serviço conta, mas é preciso analisar a capacidade de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) existente para absorver os pacientes, a estrutura física é muito importante. A equipe que irá passar pelo treinamento precisa estar 100% comprometida, pois os custos são altos e não pode haver desistência dos envolvidos”, destacou.
O secretário de Estado da Saúde, Marcus Musafir, afirmou a viabilidade do projeto e ressaltou que o Tocantins vem buscando todas as formas de diminuir a angústia das famílias que sofrem a espera de uma vaga. “Ficamos muitos felizes com esta oportunidade que o Ministério da Saúde e o Hospital do Coração estão nos dando, pois nosso foco é o paciente e queremos fazer o melhor dentro da nossa realidade. A partir desta visita, faremos o que nos for recomendado. Nossa conclusão é de que a implantação do serviço é viável e isso nos deixa extremamente satisfeitos”, disse.
Atualmente crianças com indicação de cirurgia cardíaca são cadastradas no Cadastro Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) para identificação de vagas em centros especializados do País. Segundo o cirurgião cardiovascular do HGP e titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, Henrique Furtado, o déficit de atendimento de crianças com cardiopatias congênitas é uma realidade nacional em razão da pouca oferta de profissionais habilitados, da complexidade das cardiopatias neonatais e pediátricas e do subfinanciamento por parte do Ministério da Saúde de serviços deste tipo de demanda. Apesar disso, segundo o cardiologista, as cardiopatias cardíacas matam três vezes mais que o câncer no País.