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Turismo & Lazer

Foto: Maradona

O que começou como uma proposta de desenvolver projeto voltado para jovens empreendedores acabou por se transformar em produto de valorização e elevação da autoestima de toda uma comunidade. Há exatamente um ano, um grupo se formou e deu início a trabalho que resultou na marca Mumbuca, apresentada oficialmente, à comunidade e aos visitantes, durante a 9ª edição da Festa da Colheita do Capim Dourado, encerrada no domingo, 17, no Povoado do Mumbuca, em Mateiros, Tocantins.

A marca se apresenta como o primeiro resultado efetivo de trabalho que se propõe a contribuir com o desenvolvimento da economia colaborativa e o empreendedorismo juvenil na região do Jalapão. Foi durante uma reunião realizada no auditório da Controladoria Geral do Estado (CGE), que o presidente da Associação da Prosperidade da Seicho-No-Ie no Estado do Tocantins, Nelson Masaharu Saijo, juntamente com o economista José de Ribamar Félix, servidor da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Cultura (Seden),  e as jovens Ilana Cardoso e Leia Gomes, do Povoado do Mumbuca, deram início ao projeto Empreendedorismo Juvenil do Jalapão (EJJ).

A partir daquela reunião, Nelson Masaharu buscou apoio de mais um integrante da Seicho-No-Ie, o CEO da Alphapex e idealizador do Unibanco 30h, Milton Massayoshi Yuki, que encarou o desafio e saiu de São Paulo para conhecer o Jalapão. Já na primeira reunião com a comunidade Mumbuca, em setembro de 2016, ele compreendeu o que viria a ser o ponto de partida do projeto: elevar a autoestima da juventude da comunidade. Ainda naquela ocasião, foi surpreendido com uma sugestão de uma das moradoras do povoado, quando esta defendeu que o Mumbuca precisava de uma marca.

“Eu jamais imaginava ouvir isso em uma comunidade quilombola. Isso chamou muito a minha atenção e vi que tinha muita coisa de valor aqui e que a gente precisava atrair os melhores talentos, de qualquer lugar que fosse, para conseguir entender e traduzir essas demandas, na intenção de valorizar a comunidade. A marca foi o ponto de partida”, explicou Milton.

Tendo a autoestima da juventude como foco do projeto, Nelson Masaharu relatou que foram traçados três pilares para nortear o trabalho, sendo a criação da marca o primeiro deles. “Porque essa comunidade deve ter orgulho de onde é, de onde veio; ter orgulho de ser mumbuquense e de serem artesãos”, disse. O segundo pilar foi criar um plano de marketing e o terceiro, com base neste plano, trabalhar a comercialização dos produtos.

Desenvolvendo o primeiro pilar

Ao retornar a São Paulo, Milton entrou em contato com Murilo Saito, diretor de criação da Agência Mãe, que se engajou no projeto. “Tive a oportunidade de vir ao povoado em fevereiro deste ano, para conhecer a comunidade. Era uma responsabilidade muito grande que a gente realmente entendesse o que estava acontecendo aqui e que essa imagem representasse a história, o amor que essas pessoas dedicam por meio do seu trabalho e que a gente trouxesse também, junto com isso, o resgate histórico-cultural”, afirmou Murilo.

Além deste resgate, acrescenta, o projeto buscava ser atraente para os jovens da comunidade e capaz de transmitir, a quem visse a marca, a representação do Mumbuca. “Queríamos que as pessoas vissem um produto, sentissem que aquilo tem uma história, um valor e que, ao comprar um presente, não estão comprando apenas um brinco, mas os 200 anos de história dessa comunidade”, argumentou o diretor.

Os moradores do povoado tiveram um papel fundamental no projeto. Engajados, eles se organizaram para custear o registro da marca. “Cada artesão cedeu uma peça. Eles levantaram os recursos e mandaram para a empresa responsável pelo registro da marca. Essa participação da comunidade foi muito importante”, destacou Nelson.

O resultado agora é comemorado pelos artesãos. “Quando as pessoas virem a marca, vão saber que o que estão comprando é do Mumbuca. É um anseio da comunidade há muito tempo e vai nos representar não só na questão do artesanato, mas também na cultura, que é muito forte na nossa comunidade. A marca chegou no momento em que estamos precisando, porque o capim dourado está, hoje, com uma divulgação muito grande, mas lá fora não se sabe a origem deste capim dourado, quem são as pessoas que deram início a ele. Essa marca vai ser a nossa referência. É algo que vai agregar valor ao produto do artesanato”, frisou Ilana Ribeiro.

União

Ao falar sobre a marca, Milton Massayoshi, acompanhado da esposa Meyreluci Yoko Oyama Yuki, lembrou que o grupo envolvido do projeto trabalha seguindo um princípio japonês chamado de musubi, que conforme explicou, significa a união simbiótica entre diferentes partes para criar um valor e ter um significado para a vida. “O que está acontecendo com a marca é a própria concretização da ideia do musubi, onde várias pessoas, várias instituições e toda a comunidade estão se unindo para criar valor para o Mumbuca”.

Além da Associação da Prosperidade da Seicho-No-Ie, o projeto conta com apoio do Serviço Social da Indústria (Sesi),  Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Instituto Federal do Tocantins (IFTO) e Governo do Tocantins.

Novos projetos

Apontado como responsável por direcionar o projeto aos jovens da região do Jalapão e à comunidade quilombola, o economista José Ribamar enfatizou a sinergia do grupo em torno do fortalecimento das comunidades. A proposta, disse ele, começou de forma despretensiosa, mas com foco na juventude, no empreendedorismo e na busca por provocar ou despertar a construção de lideranças. “Temos uma sequência que não sabemos qual será ainda, mas as próximas reuniões e debates vão trazer mais sinalizações e canalizar essas energias para bons projetos. Estou vendo que essa rede voltada para o empreendedorismo juvenil vai crescer. Temos que nos articular para ampliar às demais comunidades, envolvê-las e provocá-las. É provocando que as coisas vão andando”, enfatizou.

Tradição

O Povoado do Mumbuca é uma comunidade remanescente de quilombo reconhecida pela Fundação Palmares. Foi uma das matriarcas da comunidade – Guilhermina Ribeiro da Silva, conhecida como Dona Miúda (1928-2010) - a precursora do trabalho artesanal com o capim dourado. Os moradores se orgulham em contar que Dona Miúda herdou o talento de sua mãe, que, por sua vez, aprendeu a arte com a avó. Dona Miúda repassou a técnica às novas gerações e, dessa forma, o capim dourado se tornou a principal fonte de renda e responsável por melhorar a vida das famílias não só do Mumbuca, mas de outros povoados da região.

Há nove anos, a Associação dos Artesãos Extrativistas do Povoado do Mumbuca, com apoio de diversos parceiros, entre os quais o Governo do Tocantins, realiza a Festa da Colheita do Capim Dourado. A festa tem o propósito de comemorar o início do período de coleta do capim dourado, que somente é autorizada pelos órgãos ambientais entre os dias 20 de setembro e 30 de novembro.