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Opinião

Foto: Divulgação

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A pouco mais de dois meses do pleito de 7 de outubro, não se sabe quem se sentará na cadeira presidencial, mas um cenário já está bem definido: seja quem for o eleito, comandará um país rachado, com bandas em litígio. De um lado, grupos oposicionistas, alguns sob o habitat de partidos que se dizem de esquerda, outros impregnados por um discurso de cunho militarista, com foco na defesa da ordem, e uma terceira ala, cuja inspiração é a real politik com o lema “chegar ao poder a qualquer custo”.

A rigor, não se trata da versão clássica entre direita e esquerda, a partir da observação de que, após a queda do Muro de Berlim, ficou difícil sustentar o escopo do socialismo clássico ou do comunismo, ainda mais quando o principal partido desse grupamento – PT -, afundou-se no pântano da corrupção, flagrado, ao lado de outros, nos dois mais impactantes escândalos da atualidade: Mensalão e Petrolão(Operação Lava Jato).

A propósito, o cientista político espanhol, Manuel Castells, no Caderno Aliás, do Estadão, pontua que a nossa grande questão “não é mais o embate entre direita e esquerda, e sim de partidos democráticos (ainda que corruptos) contra uma coalizão neoautoritária apoiada por grupos de interesses ideológicos extremistas internacionais”.

O fato é que estamos diante de uma paisagem devastada por granizos  de ódio atirados reciprocamente por militantes e setores de classes médias, cada qual desfraldando bandeiras e palavras de ordem. Muitos defendem mudanças, não deixando ver, porém, pontos de vista sobre programas fundamentais, como as reformas política, fiscal-tributária, previdenciária, entre outras. O discurso do arquipélago petista fica nas generalidades: trabalhadores perderam direitos com a reforma trabalhista, a pretendida reforma previdenciária acabará com a classe trabalhadora, patati-patatá. Diferenças se vêem no campo das privatizações, quando o verbo passa a defender, sem restrição, o Estado paquidérmico, ocupado por militância sem mérito, como se viu nos 13 anos do petismo no poder.

Na verdade, parcela do ódio destilado no meio social saiu do PT, cujo lema tem sido apregoado até hoje pelo comandante-em-chefe dos exércitos petistas, Luiz Inácio, e reverberado por generais de seu séquito. O lema, de todos conhecido, é: “Nós e Eles”, apartheid social que divide bons e maus, bandidos e mocinhos. Quem se sente atingido por esse torpedo separatista, como as poderosas classes médias de São Paulo, faz soar por todos os lados muita indignação.

Não há, portanto, condição para se juntar as alas adversas em um espaço de harmonia e boa convivência. Ainda mais quando o ícone das oposições,  Lula da Silva, encontra-se preso, com o petismo e satélites entoando loas ao “salvador da Pátria”, exigindo sua libertação e a condição de elegibilidade para ele. O espetáculo tem o objetivo de sensibilizar as margens, propiciando uma mobilização centrípeta, das periferias para o centro da sociedade.

A estratégia do PT busca juntar em eventual 2º turno os partidos da esquerda e do centro-esquerda do arco ideológico (uso a abordagem apenas para distinguir uns partidos de outros) – PT, PSOL, PC do B, PDT e PSB -, avolumando a massa partidária para ganhar o pleito. Se conseguir ser vitorioso ou eleger alguém de sua aliança, a operação “desmonte das reformas feitas” tomará a atenção do novo governante. Haja articulação para garantir condições de governabilidade. Se perder, são previsíveis ações de rua, não se descartando a tradicional depredação de patrimônio público e privado.

A tão almejada harmonia social não virá no primeiro ciclo do novo governante. Que deverá se preocupar com as condições de governabilidade  necessárias para aprovar os programas do governo no Congresso. Só depois divisaremos paz social.        

Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato