A iniciativa do projeto que estimou como o mercado de leite seria em 50 anos foi liderado por Jack Britt (North Carolina State University) e publicado no Journal of Dairy Science (Volume 101, Edição 5, pag. 3722–3741). O artigo cobriu muita coisa, mas aqui destacaremos alguns tópicos sobre as mudanças que poderemos ver na seleção genética.
Espera-se ver constantes ganhos em rendimento de gordura e proteína, estima-se que a produção do volume de sólidos, dobre nos EUA. Isso requer ganhos um pouco mais rápidos do que temos experimentado nos últimos 50 anos, mas seremos auxiliados pela seleção genômica que facilitará as taxas mais rápidas de mudança.
Maiores rendimentos de sólidos necessitam de maior produção de leite. Dobrando a produção de leite seria igual a termos um rendimento médio de leite de aproximadamente 23.000 kg. Isso parece um número muito alto para a média dos EUA, mas tenha em mente que várias vacas já conseguiram produções superiores a 30.000 kg e alguns rebanhos já tem médias acima de 18.000 kg. Os níveis de produção de leite tendem crescer a uma taxa mais lenta do que a de sólidos, devido aos sistemas de pagamento que favorecem os sólidos sobre o leite fluido, podemos não dobrar a produção de leite, mas grandes ganhos estão estimados.
Quão baixo podemos ir?
Enquanto estimamos o crescimento das produções, os intervalos entre gerações se tornaram mais curtos. Já vimos um grande declínio no intervalo entre gerações, entre os touros e seus filhos, através dos intensos métodos de seleção usados pelas centrais de I.A. O atual intervalo de geração entre reprodutores, atualmente é um pouco mais de dois anos. . . quatro anos menos do que a uma década atrás. E um intervalo de 17 meses poderá ser possível com novilhas bem criadas e touros que já estejam férteis aos 8 meses de idade.
Pode ser possível diminuir ainda mais o intervalo de geração no futuro, através de inovações na área da reprodução. De fato, pode ser possível que embriões se tornem pais de embriões. Oócitos viáveis e espermatozoides já foram produzidos a partir de células-tronco embrionárias em camundongos. Se tais métodos forem aperfeiçoados em bovinos, nós poderemos genotipar embriões e identificar aqueles que gostaríamos de "acasalar". Em teoria, poderíamos até "acasalar" um embrião com si mesmo. Se isso parece um pouco absurdo, você talvez esteja certo. Atualmente, tais técnicas não estão nem perto de serem implementadas, mas quem sabe daqui a 50 anos? Previsão genômica para múltiplas gerações de embriões seria impreciso hoje, dada a uma grande diferença entre a geração mais recente de embriões “pais” e a população prenunciada das vacas em lactação.
Resistência à doença
Tuberculose (TB) é endêmica em grande parte da população mundial de bovinos e é um perigo para as vidas das vacas infectadas e as pessoas com quem entram em contato. E se pudéssemos escolher eliminar a susceptibilidade à TB?
Geneticistas do Reino Unido desenvolveram avaliações genômicas para resistência à TB, através da avaliação de dados de animais abatidos. Nós não poderemos ser capazes de eliminar a suscetibilidade em 50 anos, mas poderíamos ir bem adiante nesse caminho que é longo, para reduzir a suscetibilidade à tuberculose, tristeza bovina, febre aftosa e várias outras doenças infecciosas.
Isso seria benéfico, particularmente nos países em desenvolvimento onde faltam os controles a doenças, que existem em países desenvolvidos. Resistência a doenças infecciosas são apenas uma das possibilidades que poderíamos desenvolver nos próximos 50 anos. Seleção de proteínas especializadas para produzir mais efetivamente queijo ou outros produtos, já pode ser avistado no horizonte. Estamos observando alguns desenvolvimentos nas avaliações genômicas para eficiência alimentar, e há possibilidade também de que poderemos ser capazes de selecionar para reduzir a poluição causada pelos dejetos das vacas.
Avaliações genéticas para nitrogênio da ureia do leite pode ser usado como um caminho para selecionar vacas que venham a eliminar menos nitrogênio através das fezes, embora esse conceito é altamente especulativo, muitos geneticistas já consideram essa possibilidade.
Edição de genes
A edição de genes é viável para algumas características relativamente simples, como a criação de bovinos que já nascem sem chifre (mochos), alteração do alelo beta-caseína A1 para o alelo A2, criando o gene “SLICK” (pelo curto) para combater o estresse calórico em regiões quentes. Mas precisamos deixar claro, que no momento, a edição de genes ainda não foi aprovada para uso em animais destinados à produção de alimentos e talvez possa nunca ser, mas a possibilidade certamente existe. Nós podemos até ser capazes de ir além dessas mudanças relativamente simples e editar grandes porções do genoma para otimizar características como rendimento de leite e fertilidade.
Cinquenta anos atrás, a inseminação artificial estava a caminho de se tornar a ferramenta que dominaria a reprodução de gado leiteiro, e a transferência de embriões estava prestes a emergir. Nós sabíamos a respeito de DNA e poderia ter previsto que os testes de DNA se tornariam importantes, mas nós não sabíamos nada sobre a ciência da genômica, que permitiu a criação de animais baseados em DNAs. Nós certamente veremos muitas mudanças na pecuária de leite durante o próximo meio século. E atentem que nem estamos citando o que pode acontecer nas áreas de epigenética e microbioma.
Então, o que perdemos e o que antecipamos, que talvez não se realizará? Isso é difícil de dizer, pois a única coisa certa sobre prever o futuro é que, desconsiderando a intervenção divina, você errará muitas coisas!
*Fábio Fogaça é gerente de produto leite importado da Alta