Dos 139 municípios tocantinenses, 121 apresentaram entre os anos de 2014 e 2017, na água que abastece suas populações, todos os 27 tipos diferentes de agrotóxicos que as empresas de abastecimento são obrigadas por lei a testar. O levantamento divulgado recentemente foi realizado pela ONG Repórter Brasil, a Agência Pública de jornalismo investigativo, em parceria com a organização suíça Public Eye.
Destes 27 pesticidas, 16 são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como extremamente ou altamente tóxicos s e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Palmas aparece na lista de capitais com concentração múltipla destes agrotóxicos.
Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento.
De acordo com o levantamento, o Tocantins ficou em 4º lugar no número de cidades que detectaram todos os 27 pesticidas testados. Atrás de Santa Catarina em 3º com 228 cidades; Paraná em 2º com 326; e São Paulo em 1º com 504 cidades.
No Tocantins ficaram de fora 18 municípios nos quais a água não foi testada no período, a maioria na região norte do estado: Lavandeira, Talismã, Chapada de Areia, Pedro Afonso, Bom Jesus, Itacajá, Santa Fé do Araguaia, Darcinópolis, Angico, Ananás, São Bento, Cachoeirinha, Axixá, Maurilândia, Tocantinópolis, Itaguatins, Sítio Novo e Araguatins.
Na capital, Palmas, dos 27 agrotóxicos detectados na água que abastece a população, 11 são associados a doenças crônicas, como cânceres, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. São eles: Alaclor, Atrazina, Carbendazim, Clordano, DDT + DDD + DDE, Diuron, Glifosato, Lindano, Mancozebe, Permetrina e Trifluralina.
Também foram identificados outros 16 tipos de agrotóxicos. A mesma situação foi verificada em Araguaína e Gurupi - as duas maiores cidades do estado em número de habitantes, respectivamente, após a capital.
Segundo o levantamento, os números revelam que a contaminação da água está aumentando. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017.
A Repórter Brasil, Agência Pública e a Public Eye fizeram um mapa onde é possível consultar o nível de contaminação das águas em cada município, revelando ainda quais estão acima do limite de segurança de acordo com a lei do Brasil e pela regulação europeia, onde fica a Public Eye. O mapa pode ser consultado tanto no site da Agência Pública quanto no portal da Repórter Brasil.
O Conexão Tocantins solicitou posicionamento da BRK Ambiental, empresa responsável pelo abastecimento de água em Palmas e diversas outras cidades do Estado e também da Agência Tocantinense de Saneamento (ATS), que realiza o abastecimento em alguns municípios do interior, além das secretarias de Saúde e de Agricultura do Estado.
BRK Ambiental
Por meio de nota a BRK Ambiental informou que a qualidade da água fornecida à população é atestada por testes realizados diariamente, segundo os parâmetros da Portaria N° 5/2017 do Ministério da Saúde. Segundo a empresa, no Tocantins são mais de 70 mil análises realizadas todos os meses que avaliam características diversas, incluindo análises para avaliar a presença de agrotóxicos. Ainda segundo a BRK Ambiental, todos os testes realizados desde 2014 mostram que os níveis apresentados estão abaixo do nível permitido. A concessionária assegura que a água distribuída na cidade está dentro dos padrões de qualidade e respeita os limites de segurança estabelecidos pelos órgãos de fiscalização. (Matéria atualizada às 18h30)
