A capital do Tocantins, Palmas, completa seus 30 anos na próxima segunda-feira, 20, sob a liderança de uma mulher, a prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB). Com pouco mais de um ano de mandato, pois só assumiu a Prefeitura após a renúncia de Carlos Amastha (PSB) em abril do ano passado, para concorrer à eleição de governador, Cinthia tem deixado sua marca na administração municipal, mas, acima de tudo, sua marca na política tocantinense.
Não é comum uma mulher estreante no “jogo dos tronos” - alusão à série de TV preferida da prefeita, Game of Thrones - que é a política chegar à administração da capital, o maior colégio eleitoral do Estado, e ainda com apoio do Legislativo, prestígio no governo estadual e Congresso Nacional.
“Ao completar 30 anos, Palmas alcança um novo momento de sua história, com planejamento e todo o esforço da gestão municipal em dar um salto de qualidade para o crescimento sustentável da nossa linda Capital. A gestão dá sua contribuição como propulsora do desenvolvimento, ao implementar ações que colaborem com o setor produtivo, contemplem o saneamento das contas públicas sem deixar de lado a humanização e atendimento de qualidade a todos os palmenses”, avalia a prefeita.
Relação com Legislativo
Após enfrentar um período de rusgas com a Câmara Municipal no início de sua gestão, principalmente pelos estigmas deixados pelo antecessor, Cinthia Ribeiro conseguiu construir uma relação de cordialidade com os vereadores. No início sofreu derrotas e recebeu críticas. Lúcio Campelo (PR), por exemplo, chegou a declarar na tribuna que a prefeita havia se afastado da Câmara, preferindo o embate ao diálogo, como fazia o seu antecessor.
A gestora entendeu o recado e alinhou. Pouco depois, o mesmo vereador autor das críticas, mudou o tom e declarou que a prefeita mostrava comprometimento com a cidade e diálogo com a Casa.
A aprovação unânime do orçamento de Palmas para 2019, dentro do prazo regimental, permitiu que Cinthia iniciasse o ano com o controle de 100% do orçamento, um privilégio para poucos gestores e fato inédito no parlamento nas últimas legislaturas. A líder do governo na Câmara, vereadora Laudecy Coimbra (SD) apontou este fato como um dos exemplos do bom relacionamento entre Legislativo e Executivo e disse que, como líder, tem uma posição confortável na Casa graças a esse entrosamento. “Eu só tenho que administrar uma questão ou outra entre os vereadores quando algo não sai totalmente do agrado, mas de maneira geral minha situação como líder é bastante confortável graças ao perfil da prefeita de diálogo com o parlamento”, disse.
Na posse da nova mesa diretora da Câmara o presidente Marilon Barbosa (PSB) estreitou o diálogo e sinalizou apoio à gestão de Cinthia. Foi nesse clima de cordialidade que o ano legislativo de 2019 começou no mês de fevereiro e tem imperado até o momento “praticamente sem oposição”, como lembra Coimbra.
Caracterizada por ter um posicionamento conservador e composta quase que exclusivamente por homens – a única mulher é a própria líder do governo - a Câmara acabou por abraçar a figura da mulher-prefeita com pouco tempo na política, ao contrário da maioria dos parlamentares, mas que demonstra habilidade para tal como poucos políticos “experientes”. Para Laudecy isso exige um duplo esforço por parte, tanto dela, quanto da prefeita. “Existe sim um preconceito, não é declarado mas fica implícito. Mas nosso posicionamento é de cordialidade quando tem de ser e de postura incisiva quando necessário”, pontua.
A habilidade política de Cinthia Ribeiro foi além dos limites municipais – limites territoriais e de poder. A gestora esteve no Senado Federal, Câmara dos Deputados e até no Palácio Araguaia com o governador Mauro Carlesse (PHS). Além de fazer parte da diretoria da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), como vice-presidente de relações institucionais – cargo que lhe dá projeção.
Desfeitos os palanques eleitorais em outubro do ano passado, Cinthia tratou de reunir-se imediatamente com Mauro Carlesse, mesmo tendo apoiado Carlos Amastha para o governo. A audiência, naturalmente, foi uma praxe, mas como tudo na política revela sinais importantes com os dois gestores exalando juras de diálogo e trabalho em parceria.
A prefeita também esteve presente na cerimônia de posse do governador, ocasião na qual Carlesse deu o tom da lua de mel entre as duas gestões. Um casamento que, não sendo dos mais íntimos, pelo menos até o momento não deu também sinais de crise.
Já em Brasília, com portas abertas no Congresso Nacional, Cinthia Ribeiro percorreu Câmara e Senado em busca de apoio. Ainda no ano passado, em pleno fervor da campanha eleitoral, conseguiu apoio dos deputados federais Vicentinho Júnior (PR), na viabilização de recursos para um programa de energia solar; Dulce Miranda (MDB) e Josi Nunes (PROS) com emendas no Ministério do Turismo.
Com visão política, ou, no mínimo, muito bem tutelada, Ribeiro fez questão de participar da posse da bancada federal do Tocantins no Congresso tendo recebido convites de parlamentares como os senadores Eduardo Gomes (MDB) e Irajá Abreu (PSD) e dos deputados federais Vicentinho Alves (PR), e Osíres Damaso (PSC).
Rixa
Como não poderia deixar de ser na política, as desavenças são uma constante. No caso de Cinthia Ribeiro, seu desafeto vem de onde menos se esperava: do próprio partido. Não o PSDB como todo, é fato, mas do presidente regional do partido, o ex-senador Ataídes Oliveira.
Iniciada pouco após Ataídes indica-la como vice de Amastha, a inimizade entre os dois ganhou vulto em 2017 quando o presidente a destituiu da Comissão Provisória do partido e a impediu de fazer uma reunião de chapa no diretório estadual, tomando forma definitiva nas eleições do ano passado quando, declaradamente, Cinthia manifestou apoio às candidaturas de Eduardo Gomes e Vicentinho Alves ao senado, em detrimento do presidente de seu próprio partido (Ataídes) que concorria à reeleição.
Cinthia viu um magoado Ataídes mover contra ela um processo administrativo disciplinar na tentativa de expulsa-la do partido. A expulsão chegou a ter um parecer favorável da comissão de ética do PSDB, mas foi suspenso pela justiça e finalmente arquivado pela Executiva Nacional no início deste ano. Não sem antes deixar um lastro de ataques e desabafos em redes sociais. Até mesmo o PSDB-Mulher Nacional entrou na briga e classificou algumas declarações de Ataídes contra Cinthia como machistas e misóginas.
2020
Com moral alta, rejeição baixa, ficha limpa e um evidente gosto para a política, é natural que Cinthia Ribeiro esteja pavimentando o caminho da própria reeleição em 2020.
Entretanto, como uma estreante na política, a prefeita ainda precisa angariar mais capital político e, talvez o mais importante, saber mantê-lo e não perde-lo até o ano que vem. O apoio e prestígio que mantém atualmente é grande, mas podem não ser garantidos para o amanhã.
Outro desafio é encontrar um partido que a acolha, com boas condições políticas (tempo de propaganda eleitoral, fundo partidário) e que lhe permita a candidatura à reeleição, visto que o atual partido, liderado por um desafeto, pode ser um gargalo à esta pretensão.
Perfil
Cinthia Ribeiro, é goiana da cidade de Anápolis. Formou-se em fonoaudiologia pela Unip em Brasília onde também começou a ter os primeiros contatos com a política ao trabalhar no Senado da República. Foi lá onde ela conheceu o senador João Ribeiro com quem se casaria.
Cinthia Ribeiro só entrou efetivamente para a política após o falecimento de João Ribeiro, candidatando-se à vice-governadora em 2014. Não foi eleita, mas foi convidada por Amastha para ser sua vice em 2016. Assumiu a prefeitura em abril de 2018 após a renúncia do titular e tem governado desde então.