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Opinião

Foto: Divulgação/Agência Brasil

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O bolsonarismo inaugurou o modo petista de governar pela direita. O método é o mesmo, apesar dos sinais trocados. Se baseia em uma visão binária de mundo que consiste apenas em duas metades. Aqueles que não são bolsonaristas, são comunistas, e os que optam por não ser petistas, são taxados de fascistas. Não existe espaço para a ponderação, razão e entendimento. O modelo mental é de destruição do oponente, jamais de construção de soluções. Em qualquer ambiente desta polarização, quem não está do meu lado não é considerado adversário, mas um inimigo a ser destruído.

Por certo, as redes sociais deram voz a uma grande parcela da população que não conseguia ser ouvida, entretanto, a qualidade do debate caiu vertiginosamente. Isto ocorre porque as redes criam bolhas, por meio de algoritmos que atraem os iguais e afastam os divergentes. Um fenômeno que gera uma falsa sensação de aceitação no todo e que acirra o discurso binário. Grupos falam para si mesmos e sua bolha artificial.

Ao associarmos o ímpeto de destruição do oponente à falsa sensação de aceite geral, criamos o modelo de discurso político atual. Como a construção não é objetivo de ambos grupos, a forma moldada de debate político é da deslegitimação do oponente por meio ataques e agressões, que não visa atacar seus argumentos, mas invalidar o interlocutor. O que menos interessa neste campo é o debate de ideias, prevalecendo sempre a tese de que um grupo é o dono da razão.

Neste caso, a divergência é sempre mais importante do que a convergência. Assim, se na direita bolsonarista temos um liberal, que concorda com a agenda do governo, mas critica Bolsonaro por não ter avançado nas privatizações, certamente será taxado de traidor, esquerdista ou até mesmo de comunista. Do outro lado, a mesma coisa, apenas mudando o sinal, com os ataques circulando entre fascistas e xenófobos. O que importa é divergir, atacar, agredir e se autoafirmar para sua bolha.

O Brasil perde com este movimento raso e simplista, que leva a política para rumos diferentes de seu propósito original. A política é feita de adversários, não de inimigos, da criação de consensos e da construção de maiorias. Quando dentro da política, divergência, destruição e rivalidade entram em cena, a democracia se enfraquece e tendências autoritárias, que podem vir da direita ou esquerda, sentem-se mais confortáveis para surgir como alternativas.

Vale lembrar também que este mecanismo é vantajoso para os radicais, que precisam do polo opositor para sobreviver, um sistema que se retroalimenta da rejeição e do ódio, que funcionam como combustível na arena eleitoral. Sem antagonistas, o modelo perde tração, quando entram em cena a convergência e a boa política. Em última instância, quando os radicalismos se fortalecem, a democracia se enfraquece. Sem os extremos, o sistema encontra sua harmonia.

Não teremos chance de vencer a pandemia, tampouco o caos econômico que se instalou no Brasil, se seguirmos reféns deste pensamento simplista e tosco. O binarismo político leva à servidão, submissão e cegueira intelectual e política. O Brasil merece mais do que isso.

*Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado.