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Opinião

Jair Bolsonaro é o ponto inicial e final desta história. Isto porque chegou à Presidência da República embalado em uma onda de reformas, mudanças e esperança. Representava a ruptura com os erros do passado e a vontade de fazer política de uma maneira muito diferente daquela que reinava no país há tanto tempo. Embalado pelo lavajatismo e também pelo antipetismo, tinha o apoio para fazer as coisas de forma diferente.

No poder, Bolsonaro voltou a encarnar o deputado do baixo clero que transitou pelo parlamento por quase três décadas. Retomou um discurso de campanha, levando a beligerância para dentro do Palácio do Planalto. Longe de governar, passou a usar a tática do enfrentamento como motor de suas narrativas.

No Congresso Nacional optou pela pauta de costumes, deixando as reformas estruturais em segundo plano, assim como as iniciativas anticorrupção propostas pelo Ministro da Justiça, Sérgio Moro. Mesmo assim, mais por empenho do parlamento do que realmente por esforço do governo, conseguiu aprovar uma Reforma da Previdência. Se tornaria a única vitória em um deserto de propostas.

Ao encarar a pandemia, percebeu-se, o Brasil não havia feito a lição de casa. As reformas seguiam emperradas, a liderança do governo era amadora e Bolsonaro seguia mais interessado em criar narrativas do que encarar a realidade. Em pouco tempo a inércia cobrou o seu preço. Contas desajustadas, leitos lotados, descrédito governamental enquanto o Presidente conduzia seu show alicerçado em cloroquina e negacionismo.

Depois de um ano de pandemia, o foco surge na reeleição e dentro de uma nova coalizão capitaneada pelo centrão. Mas talvez seja tarde demais. Sem recursos e endividado, o país surge mais cético e decepcionado com a falta de resultados do bolsonarismo. O populismo presidencial perde seu encanto na medida que a realidade se abate diante dos bolsos dos brasileiros, agora vazios, encarando uma variante de vírus letal.

Acenos antidemocráticos, crises intermináveis, incompetência na compra de vacinas, choques entre os poderes e enfrentamento com o alto comando militar são apenas alguns dos ingredientes de uma presidência que passa longe de suas promessas e acenos eleitorais. Um verdadeiro estelionato eleitoral que cala fundo em enorme parcela da população que acreditou nas palavras de um presidente, hoje desacreditado.

O descrédito de Bolsonaro se ampliou em suas bases eleitorais. Está longe dos liberais, lavajatistas, conservadores e antipetistas. Conseguiu se afastar do mundo financeiro, que divulgou manifesto contra o governo, ao mesmo tempo que entrou em choque com os militares, resultando no afastamento conjuntos dos comandantes das Forças Armadas.

Bolsonaro desembarca em 2022 controlando a máquina, mas eleitoralmente fraco. Pressionado pelos números de Lula e pela possibilidade de uma candidatura de centro, pode inclusive ficar fora do segundo turno. Não foi por falta de aviso. O declínio bolsonarista é um fenômeno previsto. O Brasil é muito grande para ser governado refém de narrativas populistas. Ao desconhecer as razões de sua vitória em 2018, segue firme em direção da derrota em 2022.

*Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-diretor da Apex-Brasil e diretor-executivo do Interlegis no Senado.