Era um sábado, quando o jovem Cleiton Lima Pinheiro, então com 15 anos, acompanhou o lançamento da pedra fundamental de Palmas, no dia 20 de maio de 1989. No mesmo ano, em 28 de dezembro de 1989, com seus 16 anos, Cleiton foi o segundo servidor público civil a chegar para organizar a implementação da Capital mais jovem do Brasil, que deixaria de ser em Miracema do Tocantins, até então, capital provisória.
“Eu era muito jovem e era uma grande aventura. Lembro que tinha chovido muito e não era possível passar na estrada que ligava Miracema a Palmas, as pontes estavam cobertas de água, e viemos pela BR-153 até Fátima, e depois pegando estrada para Porto Nacional, e assim chegar aqui. O nosso trabalho era preparar a chegada do então governador Siqueira Campos e dos deputados estaduais e membros do Judiciário, Ministério Público e do Tribunal de Contas, pois dia 1º seria instalada a Capital do Tocantins em Palmas”, relembra.
Cleiton conta que, para receber os deputados, secretários de Estado, desembargadores, conselheiros de Contas e promotores de Justiça foram construídas casas na Arse 14 (110 Sul), conhecida como Vila dos Deputados. Já os servidores públicos, ainda em janeiro de 1990, receberam lotes na Arse 51 (504 Sul), onde deveriam iniciar a construção de suas casas e se instalarem. “Nesse primeiro momento, alguns abandonaram os lotes ou venderam e deixaram Palmas. O dia a dia era complicado, não havia água encanada e nem energia elétrica na quadra. Para construir eu buscava água todos os dias junto com pedreiro no córrego, que passa ao lado do Espaço Cultural. Também não havia onde comprar material de construção em Palmas, tinha que vir de fora. O governo também fazia casas na 51, de madeirite, para quem estivesse com mais pressa ”, detalha.
Dia a dia
Enquanto as casas estavam sendo feitas, os servidores públicos dormiam nos alojamentos. Cleiton conta que onde hoje é o prédio da OAB-TO ficava o alojamento feminino e onde fica a sede dos Correios, o alojamento masculino. O bandejão, que era o refeitório onde servia as refeições para os servidores públicos, funcionava onde atualmente está o Senai/Cetec. “O primeiro restaurante foi da Sônia, mais ou menos localizado de frente onde hoje é a UPA Norte”, relembra. Cleiton acrescenta que ainda nos primeiros meses de 1990 também foram loteados os Jardins Aurenys I, II e III, que começavam também a crescer em paralelo a toda construção do plano diretor.
“Depois do trabalho, o lugar de encontro e lazer era em uma represa que ficava onde hoje é o prédio da Embrapa, esse era o ‘point’ da Capital em 1990.” Outra curiosidade, segundo se recorda Cleiton, é que nos primeiros seis meses de Palmas havia o decreto da Lei Seca, proibindo a comercialização de bebida alcoólica. Com um sorriso no rosto, o pioneiro rememora que havia um grande atoleiro na Avenida JK, logo depois da Panificadora Roma, e que os ventos de julho e agosto eram tão fortes que, dependendo do local em que estivesse, carregava uma pessoa.
Do improviso à conquista da independência financeira
“No primeiro momento, tanto a Prefeitura de Palmas quanto a Câmara Municipal, foram instaladas em um prédio onde hoje é o Parque Cesamar, mas poucos meses depois já estava sendo inaugurado o Paço Municipal na Praça do Bosque dos Pioneiros, tudo era feito muito rápido, muita construção em madeirite. E no dia da inauguração, veio gente de todo lado, do Tocantins todo, para ver o então presidente Fernando Collor, foi um grande evento”, pontua Cleiton.
Nos primeiros anos de Palmas, Cleiton narra que o Fundo de Participação do Município (FPM) era depositado na conta do governo do Estado e que, apenas por volta de 1993, após a Prefeitura de Palmas ingressar com uma ação judicial, conquistou sua independência financeira.
“Nesse período, a gestão começou a abrir as valas para passar o encanamento de água. Era multidão de pessoas trabalhando. Começaram a abrir as avenidas, construíram a Praia da Graciosa. E o governo do Estado e a Prefeitura de Palmas lotearam novas quadras para os servidores públicos e moradores: Arse 61 (604 Sul), Arse 71 (704 Sul), Arse 72 (706 Sul), Arno 31 (303 Norte) e Arno 32 (305 Norte)”, detalha.
Cidade cresceu de forma rápida
“Eu nasci em Miranorte, aqui no Tocantins, a maior cidade que eu conhecia era Araguaína e, em 1990, discutindo com os colegas de trabalho, que inclusive conhecia cidades maiores, acreditávamos que Palmas levaria pelo menos 50 anos para chegar ao tamanho que tem hoje, com seus 32 anos”, pondera Cleiton. O servidor público relata que foi a partir de 1995 que Palmas começou a crescer de forma intensa, com pessoas chegando todos os dias, levando inclusive o Poder Público a criar barreiras de controle nas entradas da Capital.
“Logo após a criação de Palmas houve uma discussão pela retirada da Capital daqui e isso gerou certa instabilidade. Mas, depois de alguns anos de criação, as próprias pessoas que vieram no primeiro ano começaram a trazer os seus parentes, começaram a se instalar grandes empresas e tivemos um grande crescimento do comércio também”, relata Cleiton.
Um dos primeiros a chegar a Palmas, Cleiton, hoje com 47 anos, diz que seus planos são continuar morando em Palmas, onde se casou, teve suas duas filhas e quer se aposentar e continuar a investir e crescer com a cidade, onde aguarda a chegada da terceira filha.