Os acidentes ocasionados por serpentes representam um agravo para a saúde pública. Estes predominam na área rural, em jovens e adultos do sexo masculino, com maior incidência no período das chuvas. No Estado do Tocantins predominam os acidentes para o gênero botrópico (jararacas), sendo a serpente da espécie Bothrops moojeni a mais encontrada. O veneno foi estudado a fim de comprovar eficácia no tratamento com antiveneno (soro antiofídico) e com plantas medicinais do cerrado. Esse assunto é resultado de pesquisa científica que faz parte do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), financiado pelos Governo Federal e Estadual por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (FAPT).
Para a pesquisadora, Pós Doutora em Bioquímica de Proteínas pelo Instituto Butantan de SP, Carla Simone Seibert, ao analisar o comportamento das serpentes, é possível identificar a alteração na taxa metabólica quando as condições ambientais são desfavoráveis. “Elas se manifestam em ambientes noturnos, se alimentam de roedores, e os filhotes de anfíbios, já a reprodução ocorre nos meses de abril a junho com o nascimento de filhotes no período das chuvas, o que coincide com o período de plantio e colheita. Elas preferem estar próximas a lagos e rios, ambientes que lhe proporcionem melhor conforto térmico”, explicou a cientista.
Dados do Brasil/ Tocantins
A epidemiologia dos acidentes do Brasil, é considerada a maior, com destaque para as regiões Centro e Nortedo país. O padrão epidemiológico não altera há mais de 100 anos. Desta forma os acidentes com jararacas representam mais de 80% dos casos. A pesquisa revela ainda que existem mais de 112 espécies de serpentes identificadas no Estado, sendo 12 peçonhentas.
“Por ser o 3º Estado com o maior número de notificações para acidentes ofídicos na região norte do Brasil e estar acima da média nacional, alertamos a importância da prevenção de acidentes com serpentes, pois medidas simples podem fazer toda a diferença, tais como: uso de botas ou botinas para as atividades de campo, não colocar a mão dentro de buracos ou tocas; manter a vegetação baixa e reduzir possíveis abrigos para esses animais próximos das residências”, alerta a Professora Carla.
Cuidados em caso de acidentes
Diante de uma situação de acidentes com animais peçonhentos, a orientação é manter a calma; procurar identificar o gênero causador do acidente e o tamanho do animal, para informar ao médico, e ingerir bastante água e buscar imediatamente a Unidade de Saúde mais próxima, para tratamento. A pesquisadora revela ainda o que não se deve fazer em caso de acidentes com serpentes: como: usar torniquete, colocar sal, borra de café; ou outras substâncias que possam aumentar a infeção, furos ou cortes ao redor da picada, não ingerir bebida alcoólica, querosene, ou outras substâncias que possam agravar o quadro.
É importante destacar que os acidentes com serpentes causam inflamação, hemorragia no local da mordida, edemas, bolhas, necroses, síndrome compartimental, infecção bacteriana. A pesquisadora alerta ainda que a terapia antiveneno ou soroterapia é eficaz, mas precisa ser administrada antes da primeira hora depois do acidente.
Jararaca da espécie Bothrops moojeni tem o cerrado como um dos seus habitats; popularmente chamada de Caiçaca, Jacuruçu ou JararacãoEstudos com plantas medicinais
Estudo experimental comprovou o potencial da planta Jatropha elliptica (batata de teiú) em neutralizar a atividade do nervo frênico, induzido pelo veneno da serpente B. moojeni.
Já a planta Petiveria Alliacea L.(erva tipi) é repelente de serpentes e foi eficiente em neutralizar o edema induzido pelo veneno de B. Moojeni. Vale destacar que o estudo, como todo, foi realizado com o objetivo de levar o conhecimento popular sobre as serpentes, e sobre o uso adequado de plantas medicinais, além de levar orientação sobre a prevenção e cuidados em caso de acidentes. É importante destacar que as atividades foram testadas experimentalmente em camundongos.
Perfil da Pesquisadora
Carla Simone Seibert tem Pós-doutorado em Bioquímica de Proteínas – Instituto Butantan - SP (2005 / 2007). Mestrado e Doutorado em Ciências (Fisiologia Geral) pela Universidade de São Paulo - USP (1998 / 2005). Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do Tocantins (1997). É professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT) desde 2008, atuando nas modalidades de Licenciatura e Bacharelado, do Curso de Ciências Biológicas no Campus de Porto Nacional. É professora no programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente - UFT / Palmas. Desenvolve trabalhos com animais peçonhentos, ecofisiologia do envenenamento e interação socioambiental.
Apresentação
O assunto foi apresentado na 22º Feira de Tecnologia Agropecuária do Tocantins (Agrotins 2022) através de palestra a estudantes da área agropecuária, a pesquisadores e público em geral.