Por meio da Portaria nº 70/2022, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE), o Governo do Tocantins criou o Programa de Monitoramento e Conservação da Ariranha (Pró-Ariranha) no Parque Estadual do Cantão (PEC), região que atua como um dos instrumentos para conservação das populações remanescentes de ariranhas.
Desenvolver ações institucionais de longo prazo, de modo a contribuir com a conservação da ariranha na região do PEC, é o objetivo do Pró-Ariranha, como explica a coordenadora do programa, a bióloga do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), Samara Almeida. As ações do programa compreenderão atividades de gestão e pesquisa vinculadas à Gerência de Pesquisa e Informação da Biodiversidade (GPIB) do órgão ambiental, além das atividades de gestão e manejo das Unidades de Conservação (UCs) que formam o mosaico do Cantão, e ainda, firmar parcerias com instituições governamentais, de ensino e pesquisa e de organizações da sociedade civil.
"As áreas protegidas, como o Parque Estadual do Cantão, garantem a proteção frente às pressões antrópicas, o que favorece a recuperação populacional em ambientes naturais", pontuou a coordenadora, doutoranda pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ao considerar a necessidade em se ampliar estudos direcionadas à ariranha em áreas protegidas e nas de uso sustentável.
Ao todo o programa compreende 17 ações que engloba gestão, monitoramento, capacitação de funcionários, apoio às pesquisas científicas sobre a distribuição dispersão, biologia e ecologia da ariranha. Samara Almeida destaca ainda que a pesquisa em UCs realizada no âmbito institucional fortalece a implementação de planos estratégicos de pesquisa e gestão do conhecimento, pois pode gerar e sistematizar o conhecimento em temas críticos para o processo de tomada de decisão institucional.
Warley Rodrigues, diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Naturatins, frisa que um dos objetivos das UCs é proteger espécies ameaçadas de extinção em âmbito regional e nacional. Outro aspecto focalizado é o fomento ao ecoturismo no Parque, visto que a população de ariranhas do Cantão tem potencial para atrair ecoturistas.
Como parte do planejamento de atuação do programa, em abril deste ano, foi realizada uma capacitação com servidores do PEC e, ao longo de sete dias, no pico de cheia do rio Coco, foi realizada uma campanha de monitoramento.
Sobre a ariranha
A ariranha (Pteronura brasiliensis) é o maior carnívoro semi-aquático da América do Sul. No Brasil, está presente nos biomas da Amazônia, Pantanal e Cerrado e é considerada pela International Union For of Nature (IUCN), como espécie ameaçada de extinção.
No século passado, houve um declínio em suas populações devido à pressão excessiva de caça para a obtenção de sua pele e por degradações dos seus habitats. Atualmente, a ariranha tem enfrentado a perda do habitat por degradação e também poluição das águas. É considerada uma espécie guarda-chuva, pois requer uma grande área conservada para sobreviver.
Vivem em grupos coesos de dois a 16 indivíduos, formado por um par reprodutor e filhotes de várias estações reprodutivas e também indivíduos provenientes de outros grupos. Utilizam rios e lagos para executar seu comportamento natural, se alimentam principalmente de peixes e são especialistas em capturá-los em águas rasas, defendem ativamente o seu território com vocalização, marcação territorial e encontros agonísticos.
A espécie, mantém dentro do seu território, vários sítios que são os seus principais sinais no ambiente e que são construídos ao longo do barranco dos rios, lagos ou canais naturais onde as ariranhas limpam a vegetação e deixam rastros e marcas olfativas.
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A manutenção da diversidade biológica e a proteção de espécies ameaçadas, são objetivos gerais das UCs. Áreas protegidas, quando possuem vastas extensões geográficas, ampliam o potencial de conservação de grandes predadores através do fluxo gênico e da proteção de habitats restritos, que são necessários para a manutenção de espécies a longo prazo.
A ariranha é considerada uma espécie bioindicadora no planejamento e monitoramento da conservação. Seu monitoramento não envolve metodologias invasivas pois exibe na região do pescoço uma mancha que torna possível individualizá-la. É considerada um modelo animal para estudos em comportamento devido a sua complexidade comportamental e vocal. A presença de ariranhas no ambiente é sinônimo de ecossistema equilibrado.