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Opinião

A Paleontologia tocantinense é gigante e reconhecida nos quatro cantos do mundo. No nosso Estado dispomos de sítios fossilíferos que são conhecidos internacionalmente, tanto pela qualidade quanto pela quantidade dos fósseis.

Mas quem aí já conheceu um paleontólogo? E uma paleontóloga? Olá, muito prazer. Sou uma das paleontólogas que habitam essas terras quentes do cerrado tocantinense a mais de 13 anos. 

Muitas pessoas confundem a Paleontologia com a Arqueologia. Quantas vezes nós, paleontólogas somos interpeladas com o seguinte diálogo: “- O que você faz? - Sou paleontóloga! - Nossa, que legal, lá nas terras de meu avô tem muita machadinha e pinturas nas paredes das grutas.”

A Paleontologia é uma área da Geociências e da Biologia, interdisciplinar por natureza. De maneira geral, no Brasil, a Paleontologia (Paleonto, para os íntimos) é abordada obrigatoriamente em nível de graduação no curso de Biologia e de forma optativa nos cursos de Geologia e Geografia. Tem como objeto de estudo, seres vivos do passado, e quando tratamos de seres vivos, falamos desde bactérias até mamutes, de algas a árvores com frutos. Dessa forma, como qualquer outra ciência, a Paleonto é subdividida de acordo com o material/tipo de estudo – Paleozoologia,  Paleobotânica, dentre outras subdivisões. 

Para tornar-se uma paleontóloga, é necessário portanto, cursar uma graduação e uma pós-graduação (especialização, mestrado, e/ou doutorado). Os programas de mestrado e doutorado que contém a área de concentração em Paleontologia, geralmente são da área das Geociências ou da Biologia Evolutiva. Contudo há programas de pós-graduação em Ecologia que possuem linhas de pesquisa paleontológicas, como o Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ecologia e Conservação, da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Porto Nacional.

Já a Arqueologia é uma ciência relacionada a cultura e ao modo de vida de sociedades humanas, a partir de objetos materiais. No Brasil, para ser uma arqueóloga, é necessário cursar um curso de graduação em Arqueologia. 

Dessa forma, costuma-se confundir estas ciências devido as metodologias de campo, que incluem escavações e prospecções. Arqueólogas e paleontólogas promovem e participam de expedições em busca de peças raras e desconhecidas. Ronda o imaginário popular a paleontóloga como uma aventureira, vestida em vestes marrons, cheia de aparatos de escavação e um chapéu marrom. Os filmes Indiana Jones, Tomb Raider e Jurassic Park ajudaram muito nessa construção imaginária. E afinal, qual o filme da paleontóloga? 

No Tocantins, temos registros fósseis de animais marinhos, como por exemplo dentes de tubarões com cerca de 290 milhões de anos em Guaraí, crinóides de mais de 300 milhões de anos em Taquaruçu (sim... o sertão já foi um mar) e pegadas de dinossauros em Itaguatins, com cerca de 60 milhões de anos. Mas o mais importante e impressionante registro fossilífero do Estado é o Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Tocantins (MONAF), cuja sede está localizada no distrito de Bielândia, no município de Filadélfia, norte do Estado do Tocantins. Trata-se de uma Unidade de Conservação (UC), gerida pelo Naturatins, inserida na categoria de proteção integral. A comercialização ilegal de fósseis no distrito de Bielândia motivou a criação da unidade de conservação.

Seus fósseis compõem a Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional, palco de diversas pesquisas científicas, com a produção de importantes trabalhos de relevância nacional e internacional. Nesta ampla área geográfica, que corresponde a 32 mil campos de futebol, afloram milhares de fósseis de caules de samambaias, gimnospermas e outros grupos de plantas já extintas. A importância cultural, histórica e científica destas peças é inegável, e sua pesquisa tem formado paleontólogos e paleontólogas tocantinenses que tem atuado no Brasil e no exterior, desenvolvendo esta ciência. A simples existência dos “paus de pedra”, como são chamados estes fósseis na comunidade local, está atrelada à história destas comunidades. 

O grande desafio é introduzir e fomentar este riquíssimo patrimônio na rota do turismo tocantinense, com foco especial no turismo científico, já que o Monaf recebe cientistas estrangeiros e nacionais com frequência. A possibilidade de análises in loco é uma oportunidade de participação efetiva da comunidade local como partícipe ativo nas pesquisas paleontológicas, dirimindo assim a colonização da ciência, a extração dos tesouros científicos das terras a quem são pertencentes. Nesse sentido, proteger é garantir essa riqueza como um patrimônio que servirá ao conhecimento do nosso estado e a geração de novos cientistas, pois, como já se sabe, conhecer o passado nos ajuda a conhecer o presente e o futuro. 

*Etiene Fabbrin Pires Oliveira é profª drª. na Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Câmpus de Porto Nacional