A bancada tocantinense na Câmara dos Deputados preferiu se calar quanto ao pronunciamento transfóbico do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) no plenário da Câmara nesta quarta-feira, 8 – Dia Internacional da Mulher. O deputado mineiro usou a tribuna do plenário para atacar mulheres-trans. Ele chegou a colocar uma peruca loira, autodenominando-se “deputada Nikole” para dizer que “as mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres. Para vocês terem ideia do perigo que é isso, eles estão querendo colocar a imposição de uma realidade que não é a realidade”, disse.
Do Tocantins, apenas Ricardo Ayres (Republicanos) manifestou-se contra o comportamento extremista do colega de parlamento. “São estarrecedoras, machistas e extremamente desrespeitosas as falas do deputado Nikolas Ferreira. A Câmara dos Deputados não pode ser palco de discursos extremistas e preconceituosos. Hoje é dia de dar visibilidade para a luta das mulheres e não para discursos de ódio”, rechaçou Ayres.
Os demais tocantinenses, incluindo-se os senadores, preferiram fazer vistas grossas ao episódio machista em pleno Dia Internacional da Mulher. Até mesmo a senadora Dorinha Seabra Rezende (UB), única mulher na bancada tocantinense no Congresso Nacional, manteve silêncio ante os ataques protagonizados por Nikolas Ferreira contra as mulheres.
Entretanto, todos os membros da bancada tocantinense compartilharam em seus perfis nas redes sociais mensagens, cards e vídeos de homenagens às mulheres nesse 8 de março. "Quando nossos parlamentares não rechaçam isso nós entendemos que eles estão de acordo com a violência; não é de acordo com o Nikolas, é de acordo com a violência. Se nossos parlamentares estão de acordo com a violência, eles não deveriam nos representar porque a democracia não dialoga com a violência, ou não deveria", analisou a professora do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e coordenadora do Observatório Feminista Outras, Gleys Lally Ramos.
Segundo a pesquisadora, o parlamentar cometeu violência ao achincalhar deliberadamente as mulheres-trans. "Se nós mulheres estamos em conformidade que a identidade de gênero não coincide com a genitália ou com o sexo de nascimento, não é ele, um homem-cis que deve questionar. Nós temos uma lei que ampara mulheres-trans são mulheres cuja identidade vai pertencer a um grupo social coletivo. Então, quando a gente permite que um parlamentar violente uma mulher dessa forma e provoque transfobia, o objetivo maior é violentar todos os outros grupos, porque, ora, se eu estou dizendo que a violência contra as mulheres é inadmissível, isso quer dizer que qualquer outra violência também é inadmissível", esclareceu Gleys.
Repercussão
A fala transfóbica de Ferreira repercutiu mal entre os colegas de parlamento e movimentos feministas. As deputadas Tabata Amaral (PSB-SP) e Érika Hilton (PSOL-SP), disseram que vão entrar com pedido de cassação do mandato do deputado mineiro.
Já o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que não vai tolerar o preconceito de Ferreira no Parlamento. “Plenário da Câmara dos Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém. O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje.”