Membros da Coalizão Vozes do Tocantins e juventudes em formação estiveram em Belém/PA entre os dias 4 e 8 de agosto para contribuir com o debate e o levantamento de soluções para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. O encontro Diálogos Amazônicos reuniu mais de 20 mil representantes com o objetivo de elaborar uma proposta participativa, baseada nos interesses dos povos e comunidades. A proposta está sendo apresentada aos chefes de Estado durante a reunião da Cúpula da Amazônia, iniciada na terça-feira, 8.
Darleide Rosa, jovem liderança quilombola de Arraias/TO, teve espaço de fala no evento e ecoou as demandas do Tocantins e do Cerrado. “A nossa comunidade, assim como a dos indígenas, sofre com desmatamento e mineração, e não é isso que eu, como jovem, quero para a comunidade onde eu nasci e cresci. Não é somente o Estado do Pará, não é somente a Amazônia, o Estado do Tocantins e o Cerrado também estão ameaçados e merecem ficar em pé. Vocês não estão sozinhos e a gente também está nessa luta”, discursou a jovem de 21 anos.
Na delegação, estiveram presentes os membros do Conselho Gestor, Antônio Marcos e Joice Silva, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Matheus Santos da Escola Família Agrícola Bico do Papagaio Padre Josimo (EFA - Esperantina) e os jovens Barbara Sousa, Darleide Rosa, Matheus Gomes e Thalyfer Ferraz, do Curso de Formação de Jovens em Comunicação e Justiça Climática. Após uma série de debates, mesas redondas e palestras, a participação tocantinense se encerrou nessa terça-feira, 8, com a Marcha dos Povos da Terra Pela Amazônia.
A resolução do evento está sendo apresentada em forma de carta na Cúpula da Amazônia, onde estão presentes chefes de Estado dos oito países integrantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. O encontro pretende inaugurar uma nova etapa na cooperação e adoção de uma política comum para o desenvolvimento sustentável da região.
Amazônia x Cerrado
A relação entre os dois biomas é bem maior do que suas diferentes características podem dar a entender. Desde que foi estabelecida uma nova postura nacional no combate ao desmatamento, os números na Amazônia têm apresentado significativa redução, enquanto na região do Cerrado o desmatamento tem batido recordes, chegando a apresentar no mês de maio deste ano um aumento de 83% nos alertas, quando comparado ao ano anterior, chegando a 1.326 km² desmatados em 31 dias.
Especialistas como a mestre em Ecologia, Isabel Figueiredo, coordenadora do programa Cerrado e Caatinga no ISPN, tem apontado um tratamento de “bioma de sacrifício” no Cerrado para a conservação da Amazônia. “Existe uma relação muito forte entre os biomas e claro, é importante que todos sejam conservados, mas se você deixa de lado o Cerrado, você está inclusive prejudicando a Amazônia”, comenta a especialista, exemplificando com a contribuição do Cerrado para o abastecimento de importantes bacias hidrográficas.
Ao todo, 110 milhões de hectares do Cerrado (49% do total) já foram destruídos, sendo substituídos pelo cultivo extensivo de commodities agrícolas, principalmente soja, milho, cana-de-açúcar e algodão.
Coalizão Vozes do Tocantins
A coalizão é composta pelas organizações: Associação da Comunidade Remanescente de Quilombo Kalunga do Mimoso - Arraias (AKMT), Associação Centro Cultural Kàjre (povo Krahô), Associação Pyka Mex (povo Apinajé), Colônia de Pescadores/as de Araguacema-TO (Copesca), Cooperativa de Trabalho, Prestação de Serviços Assistência Técnica e Extensão Rural (Coopter), Escola Família Agrícola Bico do Papagaio Padre Josimo (EFA - Esperantina), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST - Tocantins), Associação Onça D´água de Apoio às Unidades de Conservação, Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários da Universidade Federal do Tocantins (UFT), curso de Turismo Patrimonial e Socioambiental da Universidade Federal do Tocantins - Campus Arraias, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e Núcleo de Estudos Rurais, Desigualdades e Sistemas Sociológicos (Neruds).
Curso de Formação
Cerca de 30 jovens entre quilombolas, indígenas, acampados, pescadores e estudantes universitários indicados pelas organizações membros da Coalizão, participam de Curso de Formação de Jovens em Comunicação e Justiça Climática, com temas relacionados a mudanças climáticas, contexto socioambiental, comunicação, liderança, desenvolvimento pessoal e comunitário, planejamento, gestão de projetos, entre outros. As ações contam com o apoio da Fundación Avina e da Vac Brasil - Vozes Pela Ação Climática Justa.