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Saúde

Foto: Divulgação

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A fabricação e venda da Leish-Tec, única vacina contra a leishmaniose visceral, doença conhecida por calazar, está suspensa no Brasil desde maio de 2023, pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). No Tocantins, quem procura as unidades veterinárias para imunizar seu animal de estimação, é orientado a adquirir produtos alternativos: coleiras especiais e spray de citronela são os mais indicados, para atuar como repelentes contra moscas, mosquitos e pernilongos.

Acontece que mesmo adquirindo esses produtos, os tutores temem pela saúde dos seus animais, já que calazar é um doença grave. A doença é causada por protozoário que é transmitido através da picada de um inseto, popularmente conhecido por mosquito palha, e que pode atingir pessoas e animais, principalmente o cão. O mosquito palha se contamina picando um cão infectado e posteriormente infecta a pessoa. Não há transmissão direta entre pessoas e entre pessoas e cães.

Conexão Tocantins entrou em contato com o Ministério da Agricultura, que informou que a fabricação da vacina poderá ser retomada, se houver interesse da empresa e desde que haja correção dos fatores que levaram à suspensão cautelar. Não há previsão de liberação. 

A Leish-Tec foi desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e está disponível no mercado desde 2008. Dentre os motivos para suspensão, alguns lotes da vacina foram reprovados "por apresentarem teor de proteína A2 inferior ao limite mínimo estabelecido na licença do produto". 

Mesmo sendo grave e podendo causar a morte tanto de animais, quando de humanos, a vacina contra calazar, quando disponível, não é oferecida gratuitamente e pela saúde pública, como é ofertado o imunizante contra a raiva. Nas clínicas veterinárias, cada dose custa em média R$ 150. 

Mortes no Tocantins 

De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), em 2022 foram registrados 108 novos casos confirmados de leishmaniose visceral humana no Tocantins. Em 2023, os dados acumulados de janeiro até 26/09, indicam a ocorrência de 71 novos casos confirmados. Considerando os dados de janeiro a agosto, destaca-se a redução de 10,4% no número de casos em humanos entre 2022 e 2023. As informações são com base no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). 

No ano passado, segundo a pasta, foram contabilizados no Sinan 10 óbitos por leishmaniose visceral no Estado, sendo sete em pacientes do sexo masculino e três do sexo feminino. As vítimas tinham idades entre 1 e 64 anos. Ainda não há registro de óbitos pela doença em 2023.

Questão de saúde pública 

Questionada sobre a carência de campanhas voltadas ao combate da leishmaniose visceral, a Saúde do Tocantins defende tratar-se de uma doença de relevância para a saúde pública do Tocantins e no Brasil e que há um conjunto de ações estruturadas para prevenção, assistência, vigilância e controle estabelecido pelo Ministério da Saúde. "O Programa Nacional de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral tem como objetivos a redução da morbidade e da mortalidade pela doença, por meio do diagnóstico precoce e tratamento oportuno e adequado dos casos humanos, bem como da redução dos riscos de transmissão, por meio de ações de controle de vetores e reservatórios, além de ações de educação em saúde voltadas à população", esclarece. 

Com relação à vacinação gratuita de animais, a Secretaria Estadual de Saúde afirma não haver campanhas pois não há até o momento, evidências científicas que suportem essa ação como medida de saúde coletiva. A SES defende o uso de coleiras nos animais. "Ou seja, em linhas gerais, não há estudos que indicam que a vacinação em massa dos cães contra o calazar, evitaria ou impactaria na transmissão da doença para as pessoas. Por outro lado, o uso das coleiras impregnadas com inseticida nos cães são uma excelente ferramenta de controle, cujos estudos indicaram um impacto positivo em evitar a ocorrência da infecção nos cães e também nas pessoas. Essa ferramenta encontra-se incorporada ao SUS e disponível para uso nos municípios de maior risco de transmissão, conforme diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Atualmente, 6 municípios no Estado encontram-se utilizando essa estratégia de controle (Araguaína, Araguanã, Carmolândia, Gurupi, Porto Nacional e Tocantinópolis) além de outros 7 em etapa de planejamento para início, dentre eles, a capital Palmas", informa a pasta. 

Questionada se o Tocantins prevê alguma ação estadual contra a doença, a Secretaria de Estado da Saúde pontua que, por meio da Área Técnica das Leishmanioses, seguindo os princípios e diretrizes do SUS, coordena o programa de vigilância e controle da leishmaniose visceral no âmbito estadual com a implementação das políticas e prioridades para o enfrentamento da doença no território, apoiando e cooperando tecnicamente com as equipes municipais de saúde no fortalecimento da gestão das ações de vigilância. A SES ainda informa que, de acordo com a política do SUS, a execução das ações se dá de forma descentralizada, no âmbito municipal, com participação complementar do nível estadual.

Após o diagnóstico para calazar 

O diagnóstico e tratamento da leishmaniose visceral é garantido e gratuito no SUS. Pessoas que apresentem sintomas da doença como febre irregular e prolongada, fraqueza, anemia, perda de apetite, perda de peso e/ou barriga inchada devem buscar atendimento na unidade básica de saúde mais próxima, imediatamente. 

A Saúde Estadual alerta que o diagnóstico precoce salva vidas. Após avaliação médica, os exames necessários serão realizados gratuitamente e, diante da confirmação da doença, o tratamento, também gratuito, será administrado na própria unidade de saúde ou em uma unidade hospitalar nos casos mais graves. O tratamento deverá ser concluído com rigor e o paciente segue acompanhado pelo serviço de saúde pelos próximos 12 meses para se evitar o risco de recaídas.

Segundo a SES, há alguns medicamentos disponíveis para o tratamento da leishmaniose visceral. São de uso injetável e devem ser administrados em um estabelecimento de saúde com acompanhamento profissional conforme prescrição médica. 

População tem papel central 

A população tem papel central no enfrentamento da doença, pois é nos quintais com matéria orgânica em decomposição, como restos de alimentos, fezes de animais (como em galinheiros, por exemplo), galhadas, folhas e frutos apodrecendo, dentre outros, que o vetor transmissor da doença, popularmente conhecido como mosquito palha, coloca seus ovos e se desenvolve. O alerta é da Secretaria Estadual de Saúde. 

A pasta orienta para manutenção da limpeza de quintais e abrigos de animais e destinação adequada ao lixo doméstico, embalando adequadamente o lixo para coleta. Orienta ainda ser importante que os cães tenham sua saúde acompanhada por um veterinário, que sejam bem alimentados e vivam em condições de higiene para que se evite que contraiam a leishmaniose. "Os cães têm papel importante no ciclo de transmissão, pois eles são os hospedeiros/reservatórios da doença, ou seja, o mosquito palha pica um animal com calazar para então transmitir a doença para as pessoas ou outros animais", conclui a SES.