A gravidez é um momento especial e o acompanhamento da saúde da mãe e do bebê por profissionais de saúde, durante a gestão e após a gestação, é essencial. Uma série de exames são solicitados para, junto com as visitas ao médico, avaliar o quadro geral de ambos.
Um dos maiores cuidados nesta fase é a chamada infecção congênita, quando uma doença é transmitida da grávida para a criança, o que pode causar sequelas após o nascimento. Uma das ocorrências mais comuns é de infecção por citomegalovírus (CMV), que pode não causar sintomas em indivíduos saudáveis, mas em sistemas imunológicos enfraquecidos, como o de bebês, pode provocar danos graves, como surdez, cegueira, microcefalia e atraso no desenvolvimento.
“Muitas mulheres grávidas, quando infectadas pelo CMV, não apresentam sintomas ou têm sintomas leves, como febre, fadiga e dor no corpo. Daí a importância de buscar acompanhamento médico durante e após a gestação. Alguns sintomas visíveis, apesar de raros, são lesões na pele”, afirma o infectologista e consultor médico do Sabin Diagnóstico e Saúde, Marcelo Cordeiro.
Embora os dados sobre a doença sejam escassos no Brasil, um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) apontou que a infecção por citomegalovírus ocorre em, aproximadamente, 0,2% a 2,5% dos recém-nascidos. A maioria é assintomática e apenas 10% a 15% apresentam sintomas após o nascimento. A mortalidade nos recém-nascidos pode chegar a 30% dos casos.
“A maioria dos bebês nascidos com infecção congênita por CMV é assintomática no nascimento, mas alguns podem desenvolver problemas de saúde ao longo do tempo, incluindo perda auditiva, deficiências visuais, atraso no desenvolvimento ou deficiências cognitivas. Sinais visíveis ao nascimento podem incluir baixo peso, icterícia [aspecto amarelado na pele], erupções cutâneas e aumento do tamanho do fígado e baço”, explica o infectologista do Sabin.
Diagnóstico
De acordo com Marcelo Cordeiro, o diagnóstico para citomegalovírus em gestantes é feito, geralmente, por meio de exames de sangue que podem detectar anticorpos contra o vírus, como o exame de Sorologia para Citomegalovírus (IgG/IgM). Já em bebês, o diagnóstico pode ser feito por meio de testes com amostras de sangue, urina ou saliva nas primeiras semanas de vida do bebê (confira os prazos abaixo).
O biomédico e gestor regional do Sabin em Manaus, Fabiano Castro, explica que os exames mais procurados para o diagnóstico em bebês são o teste do pezinho e o teste da bochechinha. O primeiro, quando realizado na rede privada, tem variações que podem detectar até mais de 100 doenças, e o segundo, mais de 300.
“Dispomos da análise de anticorpos IgG para citomegalovírus no pacote do teste do pezinho master (38 doenças) e completo (mais de 100 doenças), e esse é o mais procurado”, afirma. O exame consiste na coleta de sangue do calcanhar do recém-nascido e deve ser realizado entre o 3º e 7º dia de vida. Em casos especiais, pode ser feito em até 30 dias após o nascimento.
Já o teste da bochechinha detecta mais de 390 genes associados a centenas de doenças tratáveis. Em 2023, o Sabin incluiu a detecção do citomegalovírus (CMV), um agente infeccioso no exame. Segundo o biomédico, o exame é realizado pela saliva, coletada por um profissional capacitado com um cotonete na bochecha da criança. “A área de genômica do Sabin foi pioneira na inclusão do CMV no teste da bochechinha. Para o procedimento, é necessário um jejum de 60 minutos, período em que o bebê não deve ingerir alimentos, água ou por qualquer objeto na boca. A indicação é realizar o exame em até 20 dias após o nascimento”, diz o biomédico.
O teste da bochechinha, por ser indicado ainda na primeira semana de vida do bebê, costuma ser realizado antes do teste do pezinho. No entanto, segundo Fabiano, “não há prioridade entre um ou outro, ambos se complementam”.
Prevenção e tratamento
A prevenção contra citomegalovírus é feita, principalmente, por meio de práticas de higiene, explica o infectologista Marcelo Cordeiro. Já o diagnóstico precoce, ainda na gravidez, permite o monitoramento e potencial intervenção para reduzir o risco de transmissão ao feto.
“Atualmente, não há um tratamento estabelecido para prevenir a transmissão do CMV da mãe para o feto. Em alguns casos, medicamentos antivirais podem ser considerados, mas seu uso durante a gravidez é controverso e deve ser discutido com um médico”, afirma o especialista.
Já em recém-nascidos, quando há presença de sintomas, o tratamento pode incluir medicamentos antivirais para limitar os efeitos do vírus. “O tratamento pretende minimizar as complicações e sequelas, como problemas auditivos e de desenvolvimento. O acompanhamento regular com especialistas é fundamental para monitorar e tratar eventuais problemas de saúde relacionados à infecção”, orienta Marcelo Cordeiro. (KIW/AI)