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Cultura

Guerreiros chegando para lutar, durante Hetohoky, na Aldeia Santa Isabel.

Guerreiros chegando para lutar, durante Hetohoky, na Aldeia Santa Isabel. Foto: Mazim Aguiar/Secom-TO

Foto: Mazim Aguiar/Secom-TO Guerreiros chegando para lutar, durante Hetohoky, na Aldeia Santa Isabel. Guerreiros chegando para lutar, durante Hetohoky, na Aldeia Santa Isabel.

Indígenas da Ilha do Bananal reuniram-se para realizar um dos eventos mais tradicionais do povo Karajá, o Hetohoky, nos dias 9 e 10 de março. A festa ocorreu na Aldeia Santa Isabel do Morro, no sudoeste do Tocantins, próximo à divisa com o Estado do Mato Grosso, e contou com o apoio do Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot) e da Secretaria de Estado do Turismo (Setur). A comunidade é a maior do povo Karajá com mais de mil indígenas.

O Hetohoky é um rito de passagem dos adolescentes indígenas Iny para a vida adulta. Moradores de várias aldeias chegaram ao local em barcos de madeira e voadeiras atravessando o rio Araguaia.

Este é um dos momentos mais aguardados da festa, em que os guerreiros vizinhos chegam e já começam as provocações com cantorias e gritos que marcam a rivalidade sadia entre as comunidades para o início das lutas e dos jogos. A anfitriã, aldeia de Santa Isabel, recebe os visitantes com cânticos e danças. Em seguida, todos se deslocam para a Casa Grande, Hetohoky, para o ritual da passagem. Neste momento, seguindo a tradição, as mulheres não podem se aproximar. Por sete dias, os garotos ficam reclusos na Casa Grande e só saem para praticar a pesca ou a caça.

Durante toda a madrugada, os guerreiros lutam e tentam derrubar o mastro erguido próximo à Casa Grande. A aldeia Santa Isabel defende o mastro para que os vizinhos não o derrubem, o que seria motivo de vergonha para a aldeia anfitriã.

A comemoração reuniu cerca de 3 mil indígenas da região do entorno da Ilha e contou com a presença de cerca de 300 visitantes.

A empresária, Katharina Brazil, veio de São Paulo, rodou mais de 2 mil km para chegar até a ilha para vivenciar a cultura do povo Karajá. “Os indígenas vivem o momento, nós que vivemos na cidade não sabemos mais fazer isso. Sempre fazemos as coisas pensando no amanhã, mas o indígena vive o momento e isso, pra mim, é muito interessante”, comentou a visitante, ao enaltecer a cultura e o modo de vida dos indígenas.

Toda a preparação para a festa exige muito esforço, trabalho e dedicação da aldeia anfitriã para que possam receber as comunidades. O Cacique tradicional da aldeia Santa Isabel, Sokrowe Karajá, falou da valorização da cultura e de receber um evento de grande porte como esse. “A gente se prepara e se organiza antes. É muito trabalho para que tudo dê certo. Exige muito de nós, mas a gente gosta de fazer”, comentou o Cacique.

Hetohoky

No Hetohoky, a Casa Grande, venerada pelos povos Iny (Karajá, Karajá-Xambioá e Javaé), os garotos a partir de 12 anos passam por uma cerimônia de transição para a vida adulta. Durante o ritual, os espíritos da mata, conhecidos como aruanãs, cercam a casa, entoando cânticos, vestidos com indumentárias feitas de palha de palmeira, decorados com adereços coloridos e penas, que representam os animais.

Os aruanãs orientam os adolescentes a participarem das atividades e os ensinam sobre tradições e valores da cultura Iny. Ao longo da cerimônia, recebem lições de disciplina e respeito. No encerramento, participam de rituais simbólicos, como banho no rio, remoção de penas, cuidado com os cabelos e pintura corporal, simbolizando a transformação em adultos guerreiros.

“É muito importante manter essa tradição. A gente luta para não acabar. Eu sou um dos defensores da cultura dos Iny. As lutas, a dança, o canto, a pintura, toda a cultura é importante manter”, afirmou o cacique Iwraru Karajá, ao mostrar sua pintura corporal específica de guerreiro.

No próximo final de semana, dias 14 e 15, o ritual ocorrerá na Aldeia Macaúba; e nos dias 22 e 23, na Aldeia Fontoura.

“O Governo do Tocantins valoriza o etnoturismo e o governador Wanderlei Barbosa tem o compromisso de promover e apoiar para preservar a perpetuação da cultura dos indígenas que vivem no Tocantins”, pontou o secretário de Estado do Turismo, Hercy Filho.

Ilha do Bananal

A maior ilha fluvial do mundo está no Tocantins. Com quase 20 mil km² de extensão, a Ilha do Bananal é cercada pelos rios Araguaia e Javaés, e é considerada um dos santuários ecológicos mais importantes do país e do mundo. Seu território preserva rara diversidade de animais e plantas típicas dos ecossistemas Cerrado e Floresta Amazônica.

A maior parte da Ilha do Bananal está dividida em duas áreas de reserva ambiental. Ao norte, o Parque Nacional do Araguaia; ao sul, a Terra Indígena do Araguaia, que abriga povos originários das etnias Karajá e Javaé, reconhecidas como Povo Iny, além dos Avá-Canoeiro (Cara Preta).

Vale destacar ainda que as indígenas da Ilha são exímias artesãs e produzem peças como as bonecas Ritxokó, que reproduzem o modo de vida Iny e os animais do Cerrado, e são certificadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural do Brasil. (Secom/TO)

Cacique tradicional, Sokrowe Karajá, anfitrião da festa Hetohoky, recebendo os visitantes  (Foto: Antônio Neves/Secom-TO)

Momento de luta corporal entre os guerreiros das aldeias, durante Hetohoky  (Foto: Mazim Aguiar/Secom-TO)

 Jire, dança que representa o espírito de ariranha, durante festa do Hetohoky (Foto: Mazim Aguiar/Secom-TO)

Crianças Karajá adornadas durante Hetohoky   (Foto: Mazim Aguiar/Secom-TO)

Comitiva da aldeia vizinha Fontoura chegando para o Hetohoky, na aldeia Santa Isabel (Foto: Mazim Aguiar/Secom-TO)

 Casa Grande, Hetohoky, que dá nome à festa tradicional Karajá (Foto: Mazim Aguiar/Secom-TO)