Opinião

Foto: Divulgação

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Junho é considerado o mês do meio ambiente, período que nos convida a refletir sobre os desafios que estamos enfrentando e também aqueles que virão. Sabemos da importância da preservação ambiental para a garantia de um futuro de qualidade, porém, pouco tem sido feito e cada vez mais observamos uma série de problemas, como mudanças climáticas, escassez de água, poluição e outros que necessitam de medidas inovadoras imediatas. Diante disso, as deep techs surgem com potencial para oferecer soluções às adversidades atuais e futuras.

As deep techs são tecnologias avançadas que atuam na criação de soluções inovadoras para desafios complexos em diversos âmbitos, como a causa ambiental. Hoje, já podemos ver exemplos concretos do impacto delas no tratamento de resíduos, na produção de energia limpa e renovável, na agricultura sustentável, no apoio à economia circular e até mesmo na redução da pegada de carbono das indústrias, sendo essencial para combater as mudanças climáticas. Para termos uma ideia de seu potencial, de acordo com o relatório "Deep Tech: The Great Wave of Innovation" da Hello Tomorrow, 97% das deep techs contribuem com pelo menos um dos ODS da ONU.

Naturalmente, os investimentos em startups que utilizam tecnologias complexas são mais complicados se comparados a outras startups, devido à elevada percepção de risco para estes negócios e também à sua natureza de retorno a longo prazo. Para desenvolver essas inovações, costuma-se levar um certo tempo, o que acaba afastando alguns investidores. E quando falamos de deep techs com foco específico em sustentabilidade e meio ambiente, o caminho parece ser ainda mais difícil.

Apesar da relevância dessas startups e de seu potencial para abordar problemas socioambientais, os investimentos em empreendimentos com esse enfoque não refletem a urgência atual. As questões socioambientais não têm sido um critério que efetivamente impacta a decisão do investidor. Em um estudo com deep techs brasileiras, que realizei junto a outros pesquisadores da FEA/USP, vimos que a sustentabilidade não demonstra exercer uma influência notável na atração de investimentos em deep techs, sejam estes investimentos de mercado ou governamentais. 

A falta de investimentos nas soluções com foco sustentável reflete uma priorização inadequada de recursos e uma visão de curto prazo que ignora as necessidades urgentes do planeta e das gerações futuras, limitando o desenvolvimento de inovações importantes. É preciso que os investidores, sejam eles do setor público ou privado, reavaliem suas prioridades e aloquem recursos significativos para negócios que buscam resolver essas questões através da ciência e tecnologia. É essencial um maior reconhecimento dos elementos de sustentabilidade do ponto de vista dos investidores e a capitalização do impacto socioambiental que os empreendimentos deep tech podem ter.  

Enfim, a meu ver, fica claro o quanto as deep techs, especialmente aquelas com foco em causas sustentáveis, são necessárias para enfrentar os desafios socioambientais, que já estão causando prejuízos em todo o mundo. Os investimentos e a colaboração entre os múltiplos atores devem ser urgentes, é preciso que os players comecem a entender essa necessidade e vejam a sustentabilidade como critério importante na hora de investir. Quem sabe assim, conseguimos desenvolver cada vez mais soluções para impactar o futuro.

*Ana Calçado é CEO e presidente da Wylinka, pós graduada em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, com estudos de pós graduação em Inovação pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT ), mestre em Ciências de Alimentos pela UFMG e graduada em Bioquímica pela Universidade Federal de Viçosa/MG (UFV).