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Estado

Foto: Nonato Rocha/Secom-TO

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A Associação dos Brigadistas Akwe Xerente de Prevenção e Controle às Queimadas e Combate a Incêndios (Abix), representante legítima do povo Xerente, emitiu nessa segunda-feira, 30, Nota de Repúdio aos ataques racistas, preconceituosos e desrespeitosos que têm circulado por meio de áudios e mensagens em grupos de Whatsapp, no município de Tocantínia.

A presidente da Associação, Ana Shelley Xerente, manifestou-se após ter acesso a áudios de grupos da cidade de Tocantínia com expressões desrespeitosas como “índio nem é gente”, “índio não é cristão igual a nós, não pensam igual a gente”, dentre outras. “São manifestações que atingem diretamente a honra e a dignidade do nosso povo”, declarou.

A representante afirma ser inadmissível que nos dias atuais haja esse tipo de atitude. "É inadmissível que, em pleno século XXI, nossos irmãos e irmãs Xerente, que contribuem imensamente para o bem-estar e preservação do meio ambiente por meio de ações como o combate aos incêndios florestais e a recuperação de áreas degradadas, sejam alvo de atitudes discriminatórias que buscam desumanizar e inferiorizar nossa identidade e cultura", critica. 

Confira a Carta na íntegra abaixo:

Carta de Repúdio - Tocantínia, 30 de setembro de 2024 

À sociedade de Tocantínia, autoridades locais e regionais, e a todos os cidadãos conscientes, A Associação dos Brigadistas Akwe Xerente de Prevenção e Controle às Queimadas e Combate a Incêndios (ABIX), representante legítima do povo Xerente, vem a público manifestar seu mais profundo repúdio aos ataques racistas, preconceituosos e desrespeitosos que têm circulado por meio de áudios e mensagens em grupos de Whatsapp, atingindo diretamente a honra e a dignidade do nosso povo. É inadmissível que, em pleno século XXI, nossos irmãos e irmãs Xerente, que contribuem imensamente para o bem-estar e preservação do meio ambiente por meio de ações como o combate aos incêndios florestais e a recuperação de áreas degradadas, sejam alvo de atitudes discriminatórias que buscam desumanizar e inferiorizar nossa identidade e cultura. Esses ataques são atos de racismo, um crime previsto em lei, e configuram uma violência moral e psicológica contra o nosso povo, que já carrega o peso histórico de lutas e sofrimentos pela defesa de seu território e direitos. É importante lembrar que o racismo não é apenas uma ofensa pessoal, mas uma ferida aberta na nossa sociedade, que precisa ser combatida com rigor e justiça. A ABIX reafirma que o povo Xerente tem contribuído de forma valiosa e indispensável para a preservação do Cerrado, um dos biomas mais ricos e ameaçados do Brasil. Nossa missão de proteger a natureza e nossas terras tradicionais é uma prova de nosso compromisso com o futuro de toda a sociedade. Além disso, somos cidadãos e cidadãs brasileiros e temos direitos e deveres como qualquer outro cidadão em nosso país, inclusive de votar e ser votados para cargos eletivos.

Exigimos respeito, dignidade e o fim imediato dessas manifestações de ódio. Apelamos às autoridades competentes para que investiguem e responsabilizem aqueles que propagam mensagens discriminatórias, e tomem as devidas providências para garantir que situações como essas não se repitam. Conclamamos ainda a todos os cidadãos de Tocantínia e de outras regiões a se unirem contra o preconceito, promovendo o respeito mútuo, a igualdade de direitos e a convivência pacífica. O povo Xerente sempre existiu e resistiu, e continuaremos lutando por nossa dignidade, nossa cultura e por uma sociedade justa e inclusiva.

Respeitar os povos indígenas é respeitar o Brasil e a sua história.

Ana Shelley Xerente 

Presidente