As mudanças climáticas estão aumentando a migração de populações em busca de locais com mais recursos e acelerando a perda de biodiversidade na Amazônia, é o que mostra relatório Planet on the Move da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), apresentado na COP16 da Biodiversidade nessa segunda-feira (28), em Cali, na Colômbia, durante o painel Planeta em movimento: Biodiversidade, alterações climáticas e mobilidade, organizado pela OIM (Organização Internacional para as Migrações) e IUCN.
“Em 20 anos, mais de 10 milhões de pessoas tem sido afetadas por desastres na Amazônia como secas extremas, inundação, fogo e deslizamento de terras. 65% da população indígena vive nos municípios que foram mais negativamente afetados sendo que, em 20 anos, quase 7% do crescimento econômico desses municípios foi perdido com os impactos dos desastres das mudanças climáticas”, afirmou Patricia Pinho, diretora-adjunta de Pesquisa do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) durante sua participação.
Segundo Pinho, quando impactadas, essas populações migram forçadamente para ocupar áreas marginais dos grandes centros urbanos, onde viverão em condições mais vulneráveis de pobreza e violência. “Povos indígenas são dependentes da biodiversidade pra cultura e segurança alimentar, portanto estão sendo impactados mais severamente por esses desastres climáticos”, diz Pinho.
“É urgente a implementação de estratégias de adaptação, ajudar esses municípios menores e mais impactados a se recuperarem, estabelecerem planos de prevenção e adaptação, a fim de reduzir essa crise que é composta por perda de biodiversidade, mudanças climáticas e crise humanitária”, complementa a diretora-adjunta.
Conflito com vida selvagem e impacto nas mulheres
O fluxo massivo de pessoas gerado pela falta de recurso de biodiversidade tem provocado alto nível de degradação, segundo Veronica Ruiz, gerente de Programa de Resiliência Climática e Desastres da IUCN. Ainda, criam conflitos entre humanos e vida selvagem. “Temos a situação dos corredores de elefantes, que passam pelos mesmos lugares durante mais de 100 anos. Com a migração de pessoas para esses espaços, elas acabam sendo atacadas por eles. Nosso trabalho é fazer com que eles convivam pacificamente”, explica.
A instituição também trabalha com comunidades de mulheres que estão ficando isoladas em montanhas após imigração masculina para as zonas urbanas, criando novas oportunidades para elas.
Conflitos armados e conservação
Maria Cristina Cifuentes do Ministério de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável trouxe a experiência dos esforços de conservação do governo em meio ao contexto de conflito armado no país.
“Muitas das nossas estratégias se embasam, em primeiro lugar, nas transformações territoriais para a paz e prevenção de conflitos. Isso é feito por visitas a territórios em conflito para identificar prioridades e necessidades que geram conflito e criam obstáculos para desenvolver iniciativas exitosas que protejam a biodiversidade”, disse.
Segundo a integrante do governo colombiano, não é possível desenvolver iniciativas de proteção da biodiversidade articuladas à ação climática se não forem acompanhadas por estratégias que reduzam a pobreza e fomentem o desenvolvimento. “Portanto, sempre priorizamos as manifestações das comunidades locais que dizem: como vamos ter mais ambição climática e proteger mais os recursos se aqui temos fome, insegurança alimentar e ameaças de morte?”, explica.
Cifuentes é negociadora da transição justa na COP de clima e disse ser preciso instrumentos de planificação nacional e implementação de políticas que possam trazer elementos das convenções e integração de agendas. “Estamos levando elementos de biodiversidade e uma de nossas prioridades é também levar o tema de deslocados por mudanças climáticas, pois quando falamos sobre transição justa não implica só em setor energético, mas todas as outras dimensões como mobilidade urbana”, explica. (Imprensa Ipam)