O violento e desregrado Pedro Chão (Felipe Camargo) aparece ferido e sem memória em uma comunidade ribeirinha. Os residentes locais o acusam de roubo e tentam, em vão, que ele recupere a memória - e devolva o dinheiro. Em um julgamento popular, vem à tona uma trama que envolve violência doméstica, de gênero, tráfico de pessoas e desvio de verba pública. Condenado ao isolamento, ele busca um novo sentido para sua vida.
Esta é a premissa de "Filhos do Mangue", quinto longa de Eliane Caffé, que chega aos cinemas do Brasil a partir do dia 17 de julho de 2025. O filme teve sua estreia nacional no Festival de Cinema de Gramado, onde conquistou os prêmios de melhor direção e atriz coadjuvante (Genilda Maria), e também esteve na programação do Festival do Rio e Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Antes, o filme participa da programação do Festival Goiamum Audiovisual no dia 12, às 14h, em Natal, Rio Grande do Norte, estado onde o longa foi produzido. As praças de exibição podem ser conferidas no Instagram @bretzfilmes.
Com uma extensa filmografia em cinema e TV, o carioca Felipe Camargo ("O Juízo”) vive o protagonista que procura na natureza e entre os residentes da pequena vila de pescadores as peças perdidas de sua vida. O trabalho rendeu uma experiência intensa para seu intérprete, segundo a cineasta. O ator usou como inspiração sua convivência com os habitantes da paradisíaca Barra do Cunhaú, que serviu de locação para o filme, para compor seu personagem.
Na história, a amnésia repentina de Pedro Chão o fez esquecer uma existência que ninguém gostaria de lembrar. Em seu processo de reconstrução, ele vai encontrar as pessoas de sua convivência. Entre seus muitos acusadores, estão a ex-esposa, vivida pela atriz potiguar Titina Medeiros ("Cangaço Novo"), e a filha (a atriz mirim Maria Alice da Silva).
Ainda que o filme lide com traumas e temas particularmente espinhosos como violência doméstica e exploração do trabalho, a narrativa de "Filhos do Mangue" acha espaço para a ironia e alguma leveza nas andanças do protagonista. “O humor pode ser uma ferramenta valiosa para humanizarmos questões complexas e áridas”, acredita a realizadora de "Os Narradores de Javé" (2003). "A dosagem, vamos tecendo na vivência das cenas", explica Eliane Caffé.
Outro ponto chave da trama é o mangue, que retrata no filme a nascente da pesca familiar, devorada pela exploração de terceiros, e, ao mesmo tempo, serve de expressão da mãe natureza. "Ela traz o elemento que nos transcende a todo instante", elabora a diretora. "E, se escutamos a natureza, como os personagens fazem em alguns momentos, alargamos a relatividade de tudo o que nos forma como identidades", conclui a diretora. Como um náufrago perdido na memória, Pedro Chão procura por respostas no coração do mangue.
O projeto original baseia-se em argumento adaptado de um livro do escritor Sérgio Prado, "Capitão", de 2011. "Depois, quando chegamos na Barra do Cunhaú, tudo foi virado do avesso. A própria localidade e seus personagens começaram a apontar novos caminhos de narrativa", relembra a cineasta. A direção também deu espaços a improvisações em quase todas as cenas, porém mantendo a estrutura do roteiro, dividido entre Eliane e seu parceiro habitual de texto, o dramaturgo Luis Alberto de Abreu.
O elenco traz também Roney Villela, Jeniffer Setti, Thiago Justino, Genilda Maria, Pequena Cintilante, Luana Cavalcante e outros, além de pescadores, criadores de ostras e população local da comunidade de Barra do Cunhaú. Fernando Muniz e Beto Rodrigues assinam a produção executiva. O roteiro original é de Sergio Prado. Pedro Rocha e Rodrigo Frota são os responsáveis pela direção de fotografia e direção de arte, respectivamente. A direção de produção ficou a cargo de Andrea Lanzoni.
"Filhos do Mangue" é uma realização da Pé na Estrada Filmes, com patrocínio da Protege e Britânia. Apoio: Sebrae, Pousada Vila da Barra, Pousada do Forte, Naturezatur, Coco Mango, AOC (Associação de Ostreicultores de Canguaretama), Aldeia Indígena Katu e prefeitura de Canguaretama. A distribuição é da Bretz Filmes. Este filme foi produzido com recursos públicos operados ou geridos pela ANCINE, BRDE e FSA.