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Opinião

Daniel Cassetari é especialista em comércio exterior.

Daniel Cassetari é especialista em comércio exterior. Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Daniel Cassetari é especialista em comércio exterior. Daniel Cassetari é especialista em comércio exterior.

Desde sua ascensão à presidência, Donald Trump adotou uma abordagem agressiva para lidar com questões internas dos Estados Unidos, especialmente no que diz respeito à política comercial. Sob o pretexto de proteger a indústria americana, impôs uma série de tarifas sobre produtos estratégicos — como o aço e componentes utilizados na construção civil e na indústria automobilística — numa tentativa de conter a concorrência internacional, especialmente da China.

Ao taxar a importação de aço chinês, Trump acreditava que tornaria a exportação de veículos ao mercado americano inviável, forçando a China a redirecionar sua produção para o consumo interno. Da mesma forma, impôs barreiras à entrada de vigas metálicas tipo H e T no setor da construção civil para desacelerar o mercado e, supostamente, evitar o surgimento de uma nova bolha imobiliária. Mas, na prática, essas medidas acabaram encarecendo insumos, pressionando a inflação e comprometendo o dinamismo da economia americana.

O que inicialmente parecia uma estratégia nacionalista se transformou em um jogo de isolamento e perda de aliados. Em abril deste ano, uma nova leva de taxações foi aplicada a diversos países, incluindo o Brasil, com tarifas de até 10%. A retórica da força foi levada ao extremo, e a guerra comercial com a China se tornou o símbolo máximo dessa postura. No entanto, a tentativa de Trump de impor regras unilaterais em um mundo interdependente tem se mostrado contraproducente. Ao dificultar o acesso ao mercado americano, ele estimula países a buscarem novas alianças e blocos econômicos, como os BRICS.

A resposta global a essa política é clara: reconfiguração. A China e a Índia, potências em escala e consumo, estão liderando esse processo. A África do Sul apresenta avanços econômicos notáveis, e o Brasil, mesmo enfrentando turbulências regionais, continua ativo no Mercosul e cada vez mais engajado em acordos multilaterais. Essas movimentações desenham uma nova geopolítica do comércio, menos dependente dos Estados Unidos e mais focada em cooperação entre mercados emergentes.

Trump parece acreditar que a ameaça constante é uma ferramenta eficaz — seja em negociações comerciais ou em temas delicados da geopolítica global, como as tensões com Rússia, Irã ou Coreia do Norte. Contudo, sem embasamento técnico e visão estratégica de longo prazo, essas ações apenas fragilizam a economia americana. O custo de crédito sobe, a inflação avança, e os consumidores e empresários locais pagam a conta. E quando um mercado se fecha, o comércio internacional encontra novas rotas.

Um exemplo concreto disso vem do setor de divisórias de vidro. O Brasil tem absorvido tecnologias chinesas sofisticadas — como divisórias de vidro duplo com persianas internas — e criado uma nova cultura de consumo. Ou seja, uma boa oferta pode gerar nova demanda, criando oportunidades e inovação em mercados antes estagnados. O comércio exterior não espera: ele se adapta.

A grande preocupação de Trump agora não é apenas a resistência externa, mas a reorganização global que se desenha. Com Índia, China, África do Sul e Brasil cada vez mais integrados e cooperativos, os Estados Unidos perdem influência. E, quanto mais insistirem em políticas isolacionistas, mais estarão incentivando o fortalecimento dos concorrentes.

Em um cenário onde o diálogo e a integração são ferramentas-chave para a competitividade global, o uso da força como única estratégia não só isola os Estados Unidos, como os torna menos relevantes no novo tabuleiro econômico mundial. Ao tentar proteger seus interesses com tarifas e barreiras, Trump pode estar, na verdade, entregando aos concorrentes as melhores oportunidades de crescimento.

*Daniel Cassetari é CEO da HKTC e especialista em comércio exterior.