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Opinião

Claiton Cavalcante é contador, membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis (AMACIC) e do Instituto dos Contadores do Brasil  (ICBR).

Claiton Cavalcante é contador, membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis (AMACIC) e do Instituto dos Contadores do Brasil (ICBR). Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Claiton Cavalcante é contador, membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis (AMACIC) e do Instituto dos Contadores do Brasil  (ICBR). Claiton Cavalcante é contador, membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis (AMACIC) e do Instituto dos Contadores do Brasil (ICBR).

Muito tem se falado sobre a decisão dos Estados Unidos de taxar produtos brasileiros. Inclusive, recentemente escrevi um artigo intitulado “Tarifaço da amizade”. Pois bem, para alguns, seria uma retaliação política, uma resposta disfarçada ao cenário doméstico envolvendo figurões que aquecem a polarização no Brasil.

Mas, ao observar com atenção e sem viés ideológico o xadrez internacional, é possível perceber que o verdadeiro motivo é outro: interesses econômicos e, principalmente, o receio de perder a hegemonia global.

A imposição de tarifas comerciais ao Brasil não pode ser desvinculada do crescente incômodo dos Estados Unidos com o fortalecimento dos BRICS. O bloco formado por Brasil e outras potências econômicas têm se expandido e sinalizado abertamente uma vontade de construir novas formas de cooperação econômica, inclusive, com o objetivo de reduzir a dependência do dólar (desdolarização). Isso, por si só, já representa uma ameaça direta à liderança norte-americana no sistema financeiro global.

A possível desdolarização tem deixado Donald Trump de cabelos em pé, primeiro porque a união europeia transaciona boa parte dos seus negócios com sua moeda própria, o euro, e segundo, se os BRICS realmente criarem sua moeda, aí sim os Estados Unidos estarão em maus lençóis, dado que a economia do bloco já representa 35% do Produto Interno Bruto global.

Já imaginou como poderá ser 35% da economia mundial transacionando com uma moeda que não seja do dólar?

Mas há algo mais prático acontecendo: o Brasil vem se destacando com soluções que têm potencial de exportação tecnológica e inovações de mercado. Um exemplo claro é o PIX. Importante destacar que o Brasil se espelhou no modelo de sistema instantâneo de pagamentos utilizado na Índia e Reino Unido para desenvolver o seu próprio sistema.

O PIX, até prove o contrário, é simples, gratuito e eficiente, o sistema de pagamentos instantâneos, desenvolvido pelo Banco Central do Brasil já se tornou um fenômeno interno e começa a despertar interesse internacional. Diversos países estudam adotar o modelo brasileiro.

Adicionalmente, o Brasil está prestes a lançar o DREX, a versão digital do real, que segundo o Banco Central representará um marco na evolução das transações financeiras no Brasil.

A quem isso incomoda? As Big techs e as gigantes do sistema de pagamentos global, como American Express, Visa e Mastercard, empresas com sede nos Estados Unidos, cujos lucros dependem de taxas e comissões que o PIX simplesmente elimina.

Antes de anunciar o tarifaço, o governo norte-americano já havia anunciado a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil sob a alegação de que o PIX estaria prejudicando empresas americanas que atuam no setor de pagamentos.

É nesse contexto que surge a taxação. Mais do que proteger a população, agricultores ou fabricantes norte-americanos, trata-se de proteger um modelo de negócios e, sobretudo, um modelo de poder.

Não é difícil de perceber que a hegemonia dos Estados Unidos sempre esteve ancorada em três pilares: o dólar como moeda global, o domínio sobre as tecnologias financeiras e a influência sobre instituições multilaterais (FMI, Banco Mundial etc.). O Brasil, ao lado dos BRICS, começa a incomodar esses três pilares.

Portanto, não se trata apenas de exportação de aço, carne, café, banana ou commodities. Trata-se de uma disputa de influência e soberania, cujo pano de fundo são violações de direitos humanos (Lei Magnitsky) e divergências ideológicas partidárias; disfarces que vão muito além do que podemos imaginar.

O Brasil, apesar de desmoralizado por alguns dos seus representantes eletivos, com sua soberania, suas soluções, sua resiliência e seu protagonismo global crescente, está mostrando que é possível trilhar caminhos próprios e independentes. E isso incomoda muito.

Assim, em vez de enxergar as tarifas como punições, talvez devêssemos encará-las com sarcasmo ou ironia: estamos no caminho certo. E isso, para quem sempre esteve no topo, é motivo de preocupação.

Cuidado, gigantes também caem. Basta lembrar do Lehman Brothers!

*Claiton Cavalcante é contador, membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis (AMACIC) e do Instituto dos Contadores do Brasil  (ICBR).