“Arrasou”, “luxo” e “babado”. São muitas as expressões utilizadas no dia a dia das pessoas que vieram do mundo gay e isto se deve ao número crescente de personagens homossexuais na mídia. Na televisão aberta norte-americana, por exemplo, 12% dos papéis são coloridos. Já no streaming, 358 intérpretes purpurinados foram identificados em séries da Netflix, Hulu e HBO.
Na indústria musical, dos 1.000 maiores cantores do século XXI, 39 declararam-se membros da comunidade LGBTQIAPN+. Dentre eles, figuram-se grandes nomes do mercado internacional, como: Freddie Mercury, Sam Smith e Ricky Martin. No Brasil, não poderia ser diferente. Pabllo Vittar aparece no topo da lista, única brasileira gay com contrato firmado com a gravadora Sony.
E o que dizer da internet? No Instagram, o médico e influenciador Bruno Baroni parece dominar a plataforma. Em seu canal, mais de 1 milhão de cidadãos comuns acompanham os vídeos estrelados pela enfermeira Sandra. Lá, a protagonista apresenta-se como profissional da saúde travestida, dando dicas sobre etiqueta no pronto-socorro. Este último, com 368 mil curtidas.
“É por este motivo que o cotidiano hipermoderno virou este bafón linguístico-comportamental”, explica o sociólogo especialista em comportamento gay, Martin Levine. Em seu livro Gay Macho: The Life and Death of the Homosexual Clone,o autor é categórico em afirmar que, à medida que o vocabulário arco-íris traz consigo o tom humorístico em demasia, ele influencia as massas.
Assim, cada vez mais, em vez de dinheiro, fala-se agora “aqué”. Ao invés de roubar, é de bom tom dizer “dar a Elza”. Em vez de enlouquecimento, por que não ir direto para o “colocón”? Prática que a sociedade pegou emprestada dos homossexuais para repetir o mesmo mecanismo psicológico utilizado por eles para esconder um problema profundo, colorindo-o de muito riso.
Para Levine, portanto, rir é melhor do que chorar. Principalmente quando se olha para a estrutura familiar dos sujeitos homoafetivos. Deste modo, é bastante comum que o menino gay não tenha tido bom relacionamento com o seu pai, ainda na infância, uma vez que a sociedade patriarcal definiu que dois homens não devem se relacionar sexualmente como mandamento.
Neste sentido, o rapaz homossexual está sempre em busca deste masculino que faltou lá atrás, levando-o a recorrer a mecanismos psicológicos patológicos e disfuncionais para se proteger da dor que este complexo causa para si mesmo. O mais corriqueiro deles seria a compensação da tristeza causada pela ausência de um homem que o ame, substituindo-a pela alegria fechativa.
Psiquicamente, é como se a mente do gay executasse a seguinte sentença mental: “já que eu não tive um pênis presente na minha vida, irei deslocá-lo por compensação para a minha língua, fazendo-a se comportar como um. Desta forma, toda vez que o desamparo emocional bate à porta, recorro a este falo oral despirocado, enchendo a comunicação de penetração maníaca.
“O pênis simbólico é a representação que dá contorno à psique, individuando-a”, acrescenta Martin Levine. Consequentemente, sem este masculino que penetra a malha psíquica e a separa da simbiose com a mãe, não o ter e não aceitar esta perda significa tentar reviver o trauma desta ausência de maneira fantasiosa, encenando situações em que a representação retorna de forma atuada.
Consequentemente, no mundo LGBTQIAPN+, quanto mais se nega o pai ausente todo cobiçado, mais ele retorna nas mais variadas situações. A linguagem que faz chacota, saindo da boca perfurante e adentrando o tímpano dos ouvintes com boas doses de violência mascarada é apenas uma situação específica. Entretanto, outros casos podem ser citados com facilidade.
Em todo caso, da próxima vez em que você fizer “aloka” por aí no ouvido dos outros utilizando a linguagem escandalosa para não dizer jocosa, lembre-se de que, para cada neologismo criado utilizando este recurso, muito pai ficou pelo caminho. Afinal, pode ser que você nem soubesse por que motivo o seu amigo fala engraçado, mas, agora, já sabe que é porque algo deu errado.
*Renan Cola é psicanalista, formado em psicanálise pelo IBCP Psicanálise, maior escola de psicologia profunda do país, atendendo mais de 10.000 pacientes na última década. Ao longo dos 20+ anos de carreira voltada à clínica psicanalítica, escreveu artigos sobre comportamento humano para veículos comunicacionais de ampla abrangência, como: Psique, Mistérios da Mente, Estado de Minas, O Tempo, Hoje em Dia, Diário do Nordeste, Administradores e Empresas & Negócios.