Conhecidas popularmente como infecções urinárias de repetição, as infecções do trato urinário (ITU) recorrentes são caracterizadas por dois ou mais episódios em seis meses, ou três ou mais em um ano. A condição afeta principalmente as mulheres: segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), elas têm até 50 vezes mais chances de desenvolver ITU que os homens. Além disso, entre 30% e 40% das mulheres terão pelo menos um episódio ao longo da vida.
Entre as principais causas desse tipo de infecção estão a higiene íntima inadequada, o uso incorreto do papel higiênico e, em algumas mulheres, a relação sexual, que pode facilitar a migração de bactérias para o trato urinário. Outros fatores de risco incluem o hábito de segurar a urina por longos períodos, a ingestão insuficiente de água e alterações anatômicas nas vias urinárias, como cálculos (pedras) ou malformações.
De acordo com o médico infectologista do Sabin Diagnóstico e Saúde no Tocantins, Rafael Nogueira, o diagnóstico da ITU recorrente é feito com base nos sintomas e na solicitação de exames de urina e, em alguns casos, exames de sangue. “Sempre que a pessoa apresentar sintomas como ardência ao urinar ou dor no baixo ventre, deve procurar acompanhamento médico para uma investigação adequada”, explica.
A urocultura, segundo o especialista, é um dos exames mais importantes nesses casos. “Esse exame é imprescindível, pois permite identificar qual bactéria está causando a infecção. É através dele que conseguimos localizar o agente responsável e definir o tratamento adequado. Vale ressaltar que não basta realizar qualquer urocultura, mas sim um procedimento com qualidade técnica e tecnologia que favoreçam a identificação da bactéria presente e revelem também o perfil de resistência do microrganismo, o que auxilia na escolha do antibiótico mais eficaz”, destaca.
Tratamento e prevenção
O tratamento das infecções urinárias recorrentes difere da abordagem para um episódio isolado. “Quando um paciente apresenta infecções de repetição, existe maior chance de que a bactéria já tenha desenvolvido resistência aos antibióticos comuns. Isso pode caracterizar o que chamamos de ‘superbactéria’. Por isso, o tratamento exige mais cautela e o acompanhamento médico deve ser diferenciado e contínuo”, afirma Rafael.
Sobre o uso prolongado de antibióticos, ele ressalta: “Cada caso deve ser individualizado. É fundamental investigar a causa da recorrência, que pode estar relacionada a fatores imunológicos, alterações anatômicas ou até deficiências nutricionais. O uso prolongado só é indicado quando há justificativa clínica clara e sempre com monitoramento médico.”
As causas associadas, como cálculos renais, também podem interferir no tratamento. “As bactérias podem se alojar nos cálculos, dificultando a eliminação da infecção. Além disso, o formato de alguns cálculos, como os coraliformes, favorece a recorrência, estando frequentemente associados às infecções urinárias repetitivas”, complementa.
Para a prevenção, medidas simples do dia a dia são fundamentais. “Estudos mostram que a ingestão de mais de 3 litros de líquidos por dia pode reduzir em até 50% o risco de infecção urinária recorrente. Além disso, é importante não segurar a urina, urinar após as relações sexuais e manter hábitos adequados de higiene”, recomenda o especialista.
No caso das mulheres na menopausa, o médico alerta para os cuidados adicionais. “As alterações hormonais comprometem as defesas naturais do trato urinário e reprodutor. A lubrificação diminui e a quantidade de lactobacilos protetores também se reduz, o que aumenta a vulnerabilidade a infecções. Por isso, é fundamental procurar acompanhamento médico especializado. Em alguns casos, pode ser indicada reposição hormonal, sempre com cautela e sob orientação de profissionais experientes”, finaliza Rafael Nogueira. (Kiw/AI)