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Saúde

Foto: Freepik

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A crescente epidemia global de transtornos mentais, como ansiedade e depressão, um cenário que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado, intensifica o perigo da automedicação, uma prática comum, inclusive no Brasil.

O que muitos motoristas não sabem é que o uso de medicamentos simples, como antidepressivos, ansiolíticos, anti-inflamatórios ou antialérgicos, pode comprometer seriamente a capacidade de dirigir com segurança.

O alerta foi reforçado no 16º Congresso Brasileiro de Medicina do Tráfego, em Salvador, realizado em setembro. Segundo Adriano Isabella, diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), dirigir é um ato complexo que exige a coordenação plena das funções humanas, como a cognição e a função motora.

Segundo ele, diversos fatores influenciam na intensidade e na duração dos efeitos de medicamentos que podem comprometer a condução de um veículo, incluindo a capacidade de metabolização, a idade, o peso, a dose, o horário em que o remédio foi tomado e a combinação com álcool. “O uso de determinados medicamentos aumenta e muito o risco de sinistros indesejáveis no trânsito”, ressaltou o diretor.

presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Tocantins (Sindifato), Renato Soares Pires Melo, reforça a necessidade de atenção e destaca o papel crucial do farmacêutico neste contexto. "Em um cenário onde a prevalência de transtornos mentais e o consumo de diversas classes farmacológicas são crescentes, torna-se imperativo conscientizar a população sobre os riscos que a automedicação e o desconhecimento dos efeitos dos fármacos podem representar, especialmente para condutores", analisou. 

Segundo Melo, o farmacêutico emerge como um pilar essencial na orientação. "Nosso papel transcende a simples dispensação; somos educadores e conselheiros, aptos a detalhar a posologia correta, as potenciais interações medicamentosas e, crucialmente, os efeitos adversos que podem comprometer a capacidade psicomotora e cognitiva necessária para dirigir", complementou. 

Acidentes de trânsito no Tocantins

É alto o número de acidentes de trânsito no Tocantins, estando entre os primeiros estados na taxa de mortalidade no trânsito (cerca de 37,8 óbitos por 100 mil habitantes) - de acordo com dados do Ranking de Competitividade dos Estados de 2025, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).

Conforme o Painel de Monitoramento da Secretaria da Segurança Pública do Tocantins (SSP/TO), o estado apresentou aumento de 50% na média mensal de mortes no trânsito em 2024, atingindo 15 óbitos por mês, superando a média registrada em 2023, que foi de dez mortes mensais.

Entre os fatores de risco identificados, estão: excesso de velocidade, embriaguez ao volante, desrespeito à sinalização e falta de dispositivos de segurança, a exemplo de faixas elevadas para pedestres. O uso de medicamentos de forma indiscriminada ou sem a devida atenção também é um fator de grande risco, como acrescenta o presidente Renato:

"A segurança no trânsito é uma responsabilidade compartilhada, e a consulta ao farmacêutico antes de iniciar ou durante o tratamento medicamentoso é uma medida preventiva indispensável. Ao fornecer informações claras e personalizadas, garantimos que os cidadãos façam escolhas informadas, minimizando os perigos e contribuindo para a redução dos alarmantes índices de acidentes em nosso estado", disse. 

Medicamentos e o Risco de Acidentes

Uma diretriz recente da Abramet classifica os medicamentos que podem afetar a condução veicular, destacando os seguintes grupos:

Analgésicos

Condutores que utilizam ácido acetilsalicílico não se envolvem mais significativamente em sinistros automobilísticos.

Testes de desempenho cognitivo e de habilidades psicomotoras também não demonstraram comprometimento significativo do desempenho de motoristas em uso de paracetamol.

Já no caso de opióides, estudos epidemiológicos constataram resultados estatisticamente significativos da relação entre os medicamentos e sinistros de trânsito. O risco chega a ser oito vezes maior para ferimentos graves e cinco vezes maior para morte.

Relaxantes musculares

Os efeitos do carisoprodol foram avaliados em simuladores de direção, constatando-se sedação, raciocínio lento e falha de atenção. Além disso, o prejuízo da psicomotricidade é subestimado e, muitas vezes, não percebido pelo condutor.

Há risco de envolvimento em acidentes de trânsito com vítimas logo na primeira semana de uso.

No caso da ciclobenzaprina, foram constatados efeitos adversos no desempenho da condução, como sonolência, visão turva, equilíbrio e coordenação motora prejudicados e confusão mental.

Ansiolíticos, sedativos e hipnóticos

No caso dos benzodiazepínicos, foi constatado aumento significativo de risco de envolvimento em sinistros automobilísticos. A estimativa é que 2% da população adulta brasileira utilize esse tipo de medicação.

Testes de direção sob o efeito de buspirona comprovaram que não há alteração no desempenho do condutor.

Há evidências consistentes de que hipnóticos Z têm efeitos prejudiciais para a condução veicular segura.

Antidepressivos

No caso de tricíclicos, há maior risco de sinistros automobilísticos, sobretudo em condutores idosos. Mesmo doses baixas noturnas comprometem o desempenho na condução desde o primeiro dia de uso de forma similar ao que é observado em motoristas que consumiram álcool.

Já os inibidores seletivos de serotonina, em geral, são bem tolerados quanto aos efeitos colaterais.

No caso da trazodona, efeitos colaterais significativos na condução veicular, como perda de memória, sedação, sonolência e alterações cognitivas e motoras.

Antialérgicos

Anti-histamínicos de primeira geração (difenidramina, tripolidina, terfenadina, dexclorfeniramina, clemastina) prejudicam significativamente o desempenho ao dirigir.

Os de segunda geração (cetirizina, loratadina, ebastina, mizolastina, acrivastina, emedastina, mequidazina) também podem prejudicar o desempenho, mas com diferenças de pessoa para pessoa.

Já os de terceira geração (fexofenadina, desloratadina, levocetirizina) não produzem comprometimento após o uso.

Antipsicóticos

A maioria é sedativo e tem potencial para afetar negativamente as habilidade de condução.

Canabinóides

Entre os produtos medicinais provenientes da cannabis, muitos contêm THC, canabinóide com propriedades psicoativas que prejudicam a capacidade de conduzir um veículo devido aos efeitos na cognição, na função visual e na coordenação motora, que podem persistir por várias horas.