A força e a resistência de uma mulher negra que ousou escrever seu próprio destino ganham vida no palco com o espetáculo “Vozes Silenciadas: A Luta de Paula por Liberdade”, que será apresentado na próxima segunda-feira, 17, às 19 horas, no auditório do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO), em Palmas. A entrada é gratuita e a classificação livre.
O espetáculo é uma realização do Poder Judiciário do Tocantins, da Comissão de Gestão da Memória do Poder Judiciário e da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat), com o compromisso de valorizar a memória histórica e promover o debate sobre direitos humanos, justiça social e igualdade racial.
A peça, interpretada pela atriz e bailarina Meire Maria Monteiro e o Grupo Vozes de Ébano, revela a história real de Paula, uma mulher escravizada que, em 1858, conseguiu comprar sua liberdade na Justiça, 30 anos antes da assinatura da Lei Áurea. O caso, registrado em documentos preservados pelo Poder Judiciário Tocantinense e digitalizados pela Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat), tramitou na antiga Comarca de São João da Palma, atual Paranã (TO).
Idealizado pela desembargadora Ângela Issa Haonat, o espetáculo tem dramaturgia de Cinthia Abreu e Fran Santos e direção-geral de Whebert Araújo e Valdeir Santana. A montagem parte da leitura do processo histórico de alforria para construir uma narrativa que transita entre o passado e o presente — uma ponte entre a escravidão e os desafios que ainda marcam a trajetória das mulheres negras brasileiras.
No palco, Paula ergue a voz de tantas outras “Paulas” que seguem lutando por liberdade, dignidade e reconhecimento. A dramaturgia combina texto, música ao vivo e performance, com canções emblemáticas como O Canto das Três Raças, Zumbi, A Carne e Cota não é Esmola, costuradas por depoimentos poéticos e dados reais sobre o racismo estrutural no País.
“Ontem me chamaram de herança; hoje me chamam de resto. Eu não sou resto. Eu sou raiz, eu sou voz”, diz Paula em um dos momentos mais fortes da encenação, que une emoção, denúncia e memória. A peça traz ainda reflexões sobre o que significa ser uma mulher negra no Brasil de hoje, apontando para a continuidade da luta por justiça e igualdade racial.
“A história de Paula é um símbolo da resistência feminina e negra. Sua coragem ecoa no tempo e nos convida a pensar nas ‘Paulas’ contemporâneas, que ainda enfrentam as correntes invisíveis do racismo e da desigualdade”, destaca a desembargadora Ângela Issa Haonat, idealizadora do projeto.

