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Análise Econômica

Como se sabe, a taxa de juros real neutra é aquela que permite uma economia crescer no seu ritmo potencial sem gerar pressões inflacionárias ou deflacionárias. Reflete a estimativa da taxa de juros que equilibra as condições de oferta e de demanda de uma economia. Em outras palavras, é aquela que possibilita a redução do hiato entre o crescimento potencial e efetivo do PIB, favorecendo a convergência da inflação para a sua meta. Entre seus condicionantes há fatores domésticos, como a produtividade, e externos, como taxas de juros externas.

O Banco Central acaba de divulgar pesquisa com as estimativas medianas de instituições de mercado da taxa de juros real neutra para a economia brasileira. Observa-se que ao longo dos últimos anos estas têm aumentado, em especial para o curto prazo, conforme figura abaixo. As estimativas de mercado divulgadas pelo Banco Central também revelam que o crescimento do PIB efetivo não deve superar o seu crescimento potencial até o final do horizonte de projeção. Apesar disso, as estimativas não indicam convergência da taxa de inflação para a sua meta central nem no longo prazo.

Ou seja, a taxa real de juros precisará ser cada vez mais elevada para que crescimento econômico não supere o seu potencial. Mesmo assim, as estimativas medianas indicam que inflação seguirá acima da meta central perseguida pela autoridade monetária. Como explicar essa aparente contradição? A principal razão é que há expansão fiscal com efeitos sobre a demanda. Isso vem sendo provocado principalmente por maiores gastos públicos, além de políticas públicas que expandem a demanda agregada por meio de outros canais, como concessões de crédito subsidiado. Assim, o torniquete da política monetária precisa ser cada vez mais apertado para compensar o aumento de gastos.

O expediente de compensar a expansão fiscal por meio do contracionismo da política monetária tem seus limites. Quando o custo da dívida pública, a taxa de juros, é maior do que o ritmo de crescimento do PIB, a estabilização do endividamento público exige resultados primários maiores. As estimativas de taxa de juro real neutra acima superam a estimativa de crescimento potencial do PIB brasileiro, de 2,0%. Com isso, o resultado primário requerido para estabilizar o endividamento público supera os resultados correntes. Daí a dupla importância de reduzir gastos para estabilizar o endividamento público. Primeiro, para conter a expansão da demanda. Finalmente, para favorecer o resultado primário. Estas são as condições para o crescimento sustentado de longo prazo.

Banco do Japão eleva juros e rendimento de títulos soberanos japoneses é o maior desde 1995

Na última semana os principais índices acionários operaram em baixa, repercutindo o estreitamento de liquidez comum nesta época do ano. Além disso, o Banco do Japão surpreendeu e elevou sua taxa básica de juros de 0,5% para 0,75% a.a., maior nível desde 1995.

O índice Nasdaq encerrou a semana passada em baixa de 0,8% e o S&P 500 de 0,8%, enquanto o Ibovespa caiu 1,3% aos ~159 mil pontos, com ganhos acumulados de 32% em 2025. O dólar avançou 1,6% frente ao Real, cotado a R$ 5,50 / US$ 1,00.

Nos EUA foi conhecido o CPI referente a novembro, que variou 2,7% na passagem anual no índice cheio e 2,6% no núcleo, ambos abaixo do esperado, enquanto as expectativas do consumidor medidas pela Universidade de Michigan apontaram elevação nas expectativas de inflação para 1 ano e queda na confiança frente a última leitura.

Já no Japão os rendimentos dos títulos soberanos entre o miolo e a ponta longa da curva renovaram as máximas do ano, no nível mais elevado dos últimos 30 anos após o Banco do Japão elevar a taxa básica de juros. O movimento é materialmente importante, uma vez que o Japão é o maior credor dos EUA e sua moeda financia diversos ativos ao redor do mundo (carry trade). Nesse sentido, diferenciais de juros cada vez menores entre os juros japoneses e os dos demais pares podem inviabilizar as operações, deflagrando movimentos maciços de zeragem conforme o caso.

A curva de juros americana ligeiramente devolveu prêmios durante a semana, com o vértice de 10 anos fechando a 4,15% (contra 4,19% a.a. na semana anterior), enquanto o índice DXY avançou 0,2% a 98,63. Já o petróleo recuou 1,4% na semana anterior, com o barril do WTI cotado a US$ 56,61.

No Brasil, o destaque da semana ficou por conta do déficit em transações correntes de $ 4,94 bilhões em novembro, maior que o esperado, e do IGP-10 de dezembro que apresentou estabilidade. Os contratos de juros futuros DI na B3 incorporaram prêmios ligeiramente em todos os vértices.