Posições do governo e da indústria muitas vezes apontam em direções distintas, deixando em aberto aspectos de grande relevância para futuros telespectadores da TV digital.
A seguir cinco perguntas ainda sem resposta definitiva que devem ser acompanhadas com atenção até a estréia da TV digital. Confira:
Quanto vão custar os aparelhos conversores, também chamados de set-top boxes?
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, garantiu em mais de uma ocasião que o preço do aparelho que vai permitir receber o sinal digital em TVs convencionais não vai passar de 200 reais. "Totalmente fora de cogitação", ele enfatizou, em conversa com os jornalistas em julho. "Se um televisor custa 350 reais, até menos, como é que um conversor que é muito mais simples vai custar 600 reais ou 700 reais? É totalmente fora de cogitação um conversor de TV digital que seja superior a 200 reais para atender simplesmente a conversão do digital para o analógico de volta", disse o ministro.
No início do mês de agosto, o ministro afirmou ter em seu gabinete um protótipo de conversor para a TV digital que vai custar 180 reais. De acordo com o ministro, o protótipo é da parceria entre a indiana Encore e a brasileira RF Telavo. "Esse é o preço de hoje. Em um ano ele poderá custar 100 reais", garantiu Costa na ocasião.
No entanto, os fabricantes - que serão os responsáveis de fato por colocar os produtos nas prateleiras - já sinalizaram mais de uma vez que o valor é pouco realista, ao menos para a estréia, e posicionam as projeções de preço para o conversor acima de 700 reais. A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros) já se posicionou oficialmente em nome dos fabricantes dizendo que não será possível chegar ao patamar estabelecido por Costa.
"Seria ótimo poder oferecer conversores e televisores baratos desde o início. Seria fantástico, mas, infelizmente, isso não será possível, pelo menos não no início, e nem nos patamares de 100 reais como sempre foi anunciado", afirmou Lourival Kiçula, presidente da Eletros.
Segundo ele, o sistema brasileiro introduziu uma série de inovações tecnológicas, demandando componentes (semicondutores) específicos, que ainda não são produzidos em larga escala no mercado mundial. À medida que esses componentes começarem a serem produzidos em escala, os preços deverão começar a cair. "Nossa expectativa é que isso ocorra num curto espaço de tempo, mas não nesse ano, obviamente", apontou Kiçula.
Quando a TV digital será interativa?
A interatividade é um dos pontos mais celebrados da TV digital, mas ainda não está claro quando ela vai estar disponível. O middleware brasileiro Ginga, a camada de software intermediária que permite o desenvolvimento de aplicações interativas para a TV digital de forma independente da plataforma de hardware dos fabricantes de set-top boxes, está pronto e ainda não está descartado que ele esteja embutido nos produtos de TV Digital em dezembro, na ocasião do começo da transmissão do sinal.
Mas esse é um ponto importante a ser observado na hora que os equipamentos chegarem ao mercado, pois quem comprar os primeiros televisores e receptores pode ter que trocar de aparelho muito rápido para usufruir da interatividade, caso eles não tragam os recursos adequados.
Porém, a disponibilidade de aplicações interativas ainda vai depender de um outro fator: das emissoras, que vão enviar o sinal digital. Se elas não criarem as aplicações, o usuário pode até ter um receptor ou uma TV compatíveis, mas não poderá usar o recurso.
O usuário terá liberdade para gravar todos os conteúdos que quiser?
O Comitê de Desenvolvimento da TV digital vetou a instalação de um bloqueador nos aparelhos conversores do Sistema Brasileiro para impedir a reprodução de vídeos, como a gravação de novelas e filmes.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, que também integra o Comitê, já havia se manifestado contrário à colocação dos bloqueadores, durante o 24º Congresso de Radiodifusores, em maio. Segundo Hélio Costa, nos países mais desenvolvidos, a proibição não deu certo.
"A pirataria tem que ser combatida de qualquer forma. A lei e a justiça têm que tomar conta, e ter cuidado para que isso não aconteça, se acontecer, tem que penalizar", afirmou o ministro, ao defender que o controle da pirataria seja feito com base na legislação de direitos autorais existente no Brasil.
No entanto, a pedido das emissoras, o comitê definiu que os aparelhos não terão um dispositivo que permita ao telespectador pular o comercial quando fizer a gravação de um determinado programa.
Quando TV Digital vai chegar ao celular?
Uma das preocupações do governo ao definir o padrão para a TV digital no Brasil foi escolher um modelo que permitisse a transmissão dos conteúdos abertos para os celulares. Esse foi um dos critérios que basearam a escolha do padrão japonês, de acordo com o governo.
Mas mesmo no Japão, que é pioneiro na área, as experiências com TV móvel ainda são recentes. O país começou a testar a tecnologia comercialmente apenas no início do ano passado.
Para assistir a TV digital no celular é necessário ter um aparelho compatível com a tecnologia. A disponibilidade da TV digital móvel no Brasil vai depender, portanto, da oferta de aparelhos. Outro fator em jogo é se o preço destes modelos, que vão exigir naturalmente telas maiores e com melhor definição, vai ser acessível.
A fabricante Qualcomm anunciou em fevereiro o lançamento mundial do chip Universal Broadcast Modem (UBM), que permite receber sinal de programação televisiva no celular em três padrões: o americano MediaFlo, criado por ela mesmo, além do DVB (europeu) e do ISDB (japonês), este último de quem o Brasil vai adotar a modulação na TV digital nacional.
A companhia acredita que os primeiros aparelhos celulares com o chip cheguem ao mercado no início de 2008, o que será também o período do início da implantação da TV digital brasileira em caráter comercial. Do momento em que a Qualcomm coloca o chip no mercado até o desenvolvimento de um aparelho celular com ele e sua chegada ao consumidor costuma levar entre nove e 12 meses.
Já a Gradiente está trabalhando para lançar um modelo de celular preparado para a TV digital antes do Natal de 2007, de acordo com o vice-presidente de novos negócios, Moris Arditt.
Mas a oferta a oferta da TV digital móvel vai depender ainda de um outro fator: a disposição das operadoras em suportar os aparelhos compatíveis, o que ainda não está claro - uma vez que elas próprias oferecem serviços pagos de vídeo on demand.
O cronograma de implementação será cumprido?
A data oficial para a estréia da TV digital é 3 de dezembro de 2007, em São Paulo. Embora o governo não tenha sinalizado com o adiamento do lançamento, alguns representantes da indústria consideram o prazo "apertado". Octávio Florisbal, diretor-geral da TV Globo, declarou à Folha de S. Paulo em abril deste ano que o cronograma do Ministério das Comunicações é "otimista demais".
Já o presidente do Fórum Nacional de TV digital e diretor de tecnologia do SBT, Roberto Franco, declarou em entrevista em maio deste ano que o Brasil está correndo contra o tempo para implantar a TV Digital. "A indústria ainda tem inovações para fazer, as radiodifusoras têm investimentos a fazer, tem que capacitar pessoas. As alterações que foram feitas provocaram adaptações que a indústria está tentando atender. Tem pontos difíceis. E temos urgência", disse ele. No entanto, o mesmo Franco afirmou em junho que o prazo deveria ser cumprido.
Costa também reiterou recentemente todo o cronograma de implantação. "A partir de janeiro, estamos também com a obrigatoriedade de entrar em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Em julho do ano que vem, chegamos às demais capitais. A partir de dezembro de 2008, chegamos nas cidades-pólo no Brasil inteiro e em 2009, evidentemente, no resto do Brasil", afirmou o ministro, em entrevista à Agência Brasil.
IDG Now