O rastro mais visível do agronegócio é a violência, a degradação, a miséria e a morte. Por trás desse rastro está a impunidade, o excesso de poder político e econômico. O agronegócio é feito de exploração, miséria, degradação e mortes. As notícias recentes da ampliação da devastação da Amazônia só confirmam essa triste realidade. Por isso, para compreender esse genocídio é preciso saber associá-lo à lógica do modelo econômico em curso no país.
É preciso perceber inclusive que nós estamos retrocedendo aos tempos coloniais, basta lembrar que em pleno século XXI, o país detecta um surto de beribéri, doença típica entre escravos no Brasil colonial – no estado do Maranhão. O surto está associado ao consumo de arroz contaminado pela micotoxina, uma espécie de fungo que se prolifera em função da precariedade de armazenamento do grão. Apenas no ano passado, se contabilizaram 603 casos suspeitos. Desde o início do surto, 38 pessoas morreram e muitas demoraram meses para se recuperar dos sintomas da doença - inchaços, problemas respiratórios e dificuldades de locomoção.
Segundo relata Márcia Veras, da Secretaria da Saúde do Estado do Maranhão, integrante do grupo formado para combater o surto, "a população atingida é extremamente carente. Os homens cumprem jornadas de trabalho exaustivas na lavoura e todos apresentam uma dieta extremamente pobre." A micotoxina presente no arroz contaminado, quando ingerida, acaba impedindo a absorção da vitamina B1 pelas células do organismo, principalmente músculos e nervos.
Os trabalhadores pobres dos sertões brasileiros, que agora além da miséria, da falta de Reforma Agrária, da falta de dignidade e saúde, que agora estão morrendo de beribéri, estão morrendo porque o Programa Fome Zero e a Bolsa Cidadão que o ex-operário presidente distribui não foram capazes de melhorar a dieta desses sertanejos. Eles continuaram tendo uma dieta extremamente pobre, composta por arroz, farinha e feijão. Verduras e proteína animal (e até o feijão ultimamente) são exceção do cardápio desses excluídos social e economicamente.
Por onde olhamos hoje para os sertões brasileiros vemos trabalhadores rurais acometidos por doenças medievais ou típicas do subdesenvolvimento e má alimentação. De norte a sul a morte se apresenta através de doenças que poderiam ser facilmente tratáveis se nós tivéssemos um governo que de fato se preocupasse com o povo. No Maranhão é o beribéri, no Tocantins é o Calazar, em Goiás é a febre amarela, no Pará é a dengue hemorrágica, no Ceará é a tuberculose, no Mato Grosso é a epidemia de diabetes, que agora dizima os índios xavantes. Por onde se olha só vemos miséria, doenças e morte, enquanto isso o ex-operário presidente continua jactando que "nunca antes na história desse país o povo viveu tão bem", ele deve estar falando dos banqueiros é claro, que em 2007 teve mais um lucro recorde de algumas centenas de bilhões de reais.
Enquanto a burguesia de banqueteia com seus lucros os índios xavantes do Mato Grosso, vem sofrendo com uma epidemia de diabetes, que de acordo com um estudo produzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), já adoeceu 30 índios para cada mil índios. Em algumas tribos, o número sobe para 70 casos por mil habitantes. Essa taxa era praticamente nula há 10 anos. A raiz do problema está na miséria em que vive o povo xavante, que cada vez mais come produtos enlatados, refrigerantes, pães e massas por serem alimentos mais baratos e acessíveis.
A chegada dos "novos alimentos" , especialmente açúcar e refrigerantes, possibilitou um aumento substancial do número de obesos entre a população xavante e fez crescer o número de diabéticos, aumentando ainda mais os problemas sociais enfrentados por aquele povo. Mas eles não são uma exceção, pois no outro Mato Grosso, o do Sul, quem sofre é a população indígena Guarani-Kaiowá, cercados cada vez mais pela cana-de-açúcar e pelo desaldeamento, que os levam para as margens das rodovias, fundos de fazendas e favelas das cidades.
Em todas as regiões do Brasil, em todas as cidades do país, a mesma história de sofrimento e dor, de violência e impunidade, os mesmos dramas e lutas comuns e um único sonho: ter dignidade, uma vida em paz, ter comida, moradia, educação, saúde. Ter um lugar que lhes possa pertencer e onde possam criar os filhos. Tudo isso negado por um modelo econômico altamente nefasto para o povo e mantido por um governo de traição nacional, pró-imperialismo, corrupto e chafurdado no pântano da incompetência. Basta!
Paulo Henrique Costa Mattos
Professor de Sociologia e Antropologia da UNIRG e Presidente do PSOL-Tocantins