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Opinião

Há oito anos, durante uma reunião do Movimento Estudantil SOS Unitins, comentou-se que o rompimento entre o então deputado estadual, Raul Filho e o ex-governador Siqueira Campos, fora o suicídio do ex-prefeito de Araguaçu, irmão de Raul, por não suportar mais as constantes pressões psicológicas de Siqueira, por meio do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Sentimos raiva dos métodos perversos de Siqueira e nos solidarizamos com a dor de Raul. Quem não ficaria indignado? Pensei, que nem acometido de amnésia, Raul Filho esqueceria o fato. Mas hoje fui surpreendido ao ler matéria publicada no semanário O Jornal, intitulada: “Raul faz acordão com Siqueira”.

Será verdade? Raul estaria sofrendo de amnésia? Pensei. E novamente me vi invadido por aquele angustiante sentimento de indignação, como na época do suicídio.

A matéria a que me refiro, segue informando que o secretário da Administração e Finanças do Município, Adjair de Lima deixará o cargo no próximo dia 1º de abril (será pegadinha?), por não concordar com a decisão de Raul. E mais, o acordo teria as bênçãos do Partido dos Trabalhadores (PT). Essa me deixou tonto.

Não se pode deixar de refletir sobre o assunto. Ainda mais depois que as esquinas começam a propalar a história de um churrasco escuso, de Raul para Eduardo. Se verdadeira a matéria, me solidarizo com Adjair, um guerreiro que a memória viva do Movimento Estudantil SOS Unitins não esquece e agradece pelo imprescindível apoio logístico que resultou na reversão do processo de privatização da educação no Estado, na noite do dia 25 de abril de 2000, tornando-a novamente pública e gratuita. Caso único na nebulosa história das privatizações neste País.

Se os fatos abonarem as informações da matéria, então compreendo o vice-prefeito da Capital, Derval de Paiva demonstrar o temor de uma decisão equivocada do PT, ao dizer que só aceitaria ser candidato a Prefeito da Capital, se fosse para “unir o PMDB, evitar que o PT cometa equívoco e para congregar todas as tendências da Aliança da Vitória”.

A novidade não está no PT de Santana, que sempre teve uma tendência à direita. Inquietante será se o atual presidente regional do PT de Donizete Nogueira, que sempre foi coerente com a história de lutas do PT, concordar com tal acordão, tão defendido por correntes de visionários que querem o “crescimento” do partido a “qualquer custo”, abdicando sua postura histórica de esquerda.

A amnésia é uma doença caracterizada popularmente pelo esquecimento. Patologicamente o diagnóstico não é tão difícil. A causa da doença é que, às vezes, exige mais pesquisa. Difícil é quando se trata da chamada Amnésia Conveniente. Esta é desconhecida do meio acadêmico embora comum, no político. Neste caso, as causas são as mais diversas, sendo que, a mais vulgar preenche necessidades estratégicas e ocorrem quando o vírus da falta de caráter destrói a dignidade de uma vida inteira, para preencher todos os interesses adequados ao desvio de conduta.

Os estudantes de todo o Estado e principalmente os da Capital não sofrem de amnésia. Menos ainda da amnésia conveniente. Eles, a exemplo do que dizia um jornalista latino-americano, assassinado pela ditadura de Pinochet, no Chile, lembram que “aquele que esquecem ou ignoram o passado, estará condenado a repeti-lo”, e não querem o retorno de tudo aquilo contra o que lutou.

Ter memória é ter respeito à vida, inclusive a daqueles que se foram, mas ainda nos são caros; é não esquecer os ideais de lutas, como a que deu vida à Universidade Federal do Tocantins (UFT), levou Raul Filho ao Paço Municipal, e reconduziu Marcelo Miranda ao Governo do Estado, contra uma ditadura que o “acórdão” denunciado por O Jornal, pode, mas não deve ressuscitar, em nome da liberdade democrática.

Se consultados, Sérgio Augusto Lorentino, Ana Maria Negreiros, Élsio Paranaguá, Gilvan Nolêto, Ricardo Ayres, Orion Milhomem, Graziela Guardiola, Humberto, Rísia, tantos entre tantos outros heróis da resistência, hoje alguns até anônimos, mas que lutaram no Movimento SOS Unitins contra a ditadura da época, certamente condenarão o acordão. E para o passado não voltar, quem sabe, lutarão de novo. Só pra lembrar.

 

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