A utilização de índios da região de Tabatinga (AM) como “mulas” - responsáveis pelo transporte de drogas, entre os países da América do Sul - é uma realidade reconhecida pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Entretanto, para a entidade, a penalização dos nativos envolvidos não deve ser prioridade dos órgãos de Estado.
“Repressão tem que existir, mas os chefões do tráfico estão soltos e apenas usam os indígenas da região. Eles são vítimas e o problema não será resolvido com medidas punitivas. Se não promover o desenvolvimento sustentável, vai continuar”, defendeu em entrevista à Agência Brasil o coordenador geral da Coiab, Jecinaldo Barbosa Cabral.
Ele argumentou que a falta de perspectivas de vida é a principal responsável por tornar jovens indígenas vulneráveis ao narcotráfico na fronteira.
O diretor de Assistência da Fundação Nacional do Índio (Funai), Aloysio Guapindaia, afirmou na terça-feira, 18, que os índios da região de Tabatinga que trabalharam a serviço do tráfico podem responder a processo ou ser penalizados por seus atos, mas desde que seja dado a eles um tratamento diferenciado garantido por lei.
“Eles não podem ficar em celas comuns, pois sofrem processo de assédio, agressões e intimidações de outros presos por preconceito. A Funai sempre pede que a custódia do índio fique a cargo dela e não da polícia”.
Funai aponta falta de estrutura
A Fundação Nacional do Índio (Funai) não dispõe de estrutura adequada para proteger as comunidades indígenas da região de Tabatinga, no Amazonas, da entrada de drogas, do agravamento do alcoolismo e de problemas sociais como a prostituição. Foi o que afirmou Aloysio Guapindaia, após participar de um debate na Câmara dos Deputados sobre a exploração mineral em terras indígenas.
“A Funai infelizmente não tem estrutura para enfrentar a dimensão desse problema. Tem baixo orçamento, quantitativo de servidor insuficiente, formação técnica inadequada a esta nova problemática”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo Guapindaia, a descoberta de plantações de coca na região de Tabatinga e os relatos da existência de índios dependentes de drogas e trabalhando para o tráfico servem de alerta para que se reforce a presença do Estado: “Precisamos de um trabalho integrado entre as diversas esferas de governo para atacar um problema dessa ordem”.
As declarações do diretor da Funai coincidem com a crítica feita pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) à atuação governamental na área.
“O Estado é ausente. Não há políticas de proteção aos povos do Alto Rio Solimões, com programas de desenvolvimento sustentável na região. E a área é de alto risco pela presença do narcotráfico e da guerrilha na fronteira”, ressaltou o coordenador geral da Coiab, Jecinaldo Barbosa.
Segundo Jecinaldo, é preciso que os governos levem às aldeias ações públicas de educação e saúde integradas à cultura dos indígenas, paralelamente ao trabalho de conscientização feito pelas organizações sociais. “Sem isso, os jovens acabam ficando vulneráveis ao narcotráfico”, argumentou.
A Funai disse já ter solicitado a atuação da Polícia Federal (PF) no combate ao tráfico de drogas associado à indígenas na região de Tabatinga. "A PF tem feito de forma pontual e como o problema está se agravando, é necessário um trabalho mais profundo e integrado com a Funai", defendeu Guapindaia.
Da redação com informações Agência Brasil