Em que pese o fato da senadora Kátia Abreu (DEM) ter se recolhido para ficar só na orientação, como uma treinadora, dos seus “jogadores”, principalmente os deputados federais Nilmar Ruiz (DEM) e João Oliveira (DEM), - a primeira é pré-candidata a prefeita de Palmas - as articulações políticas guardam poucas semelhanças com o futebol. Sua semelhança maior é com o jogo de xadrez, o jogo dos reis. Um jogo-ciência assim como a política.
Se coubesse alguma condição de comparação futebolística neste caso, que leva em conta os ritos semânticos da política, o jogo de cena; poderíamos dizer com absoluta convicção que a partida é um massacre do prefeito Raul Filho (PT) sobre a representante dos demos no que se refere à conquista do apoio do governador Marcelo Miranda (PMDB).
Só para refrescar as memórias mais exauridas, da inauguração da TO- 050 para cá, são incontáveis as oportunidades em que o governador apareceu junto com o prefeito, seja em inauguração de obras, ou lançamentos, assim como as declarações de afinidades e admiração são mútuas.
Entretanto, uma análise política sensata sobre as claras possibilidades de articulação não só na capital, Palmas, mas em todo estado, passa pela análise do fortalecimento partidário provocado pelas novas regras da legislação pertinente que irão contribuir inclusive para reforçar a ética partidária e consequentemente as bases ideológicas dos partidos. Neste sentido o PMDB, que abriga o governador, é um partido que historicamente sempre foi mais próximo do PT e das causas populares, ao contrário dos demos que ao longo da sua história vem se metamorfoseando com o único objetivo do mascaramento ideológico e da ilusão popular.
O DNA dos Democratas tem sua origem na antiga ARENA, partido conservador criado com a intenção de apoiar o regime militar instituído com o golpe militar em 1964. De lá para cá se rebatizou como PDS, PFL e recentemente DEM, sempre representando o conservadorismo e as oligarquias no Brasil.
No Tocantins o partido luta para não perder espaço e exerce forte pressão sobre o governador Marcelo Miranda (PMDB) para que este mantenha uma aliança que nasceu com os dias contados. Nesta aliança o principal partido foi e é o PMDB, ao qual o DEM se esforça para manter junto de si. O problema é que o PMDB como já dissemos aqui no artigo opinativo “PMDB e DEM em rota de colisão no Tocantins (clique aqui para ler)”, já percebeu que seu maior adversário para o pleito de 2010 é o DEM. Portanto, se o partido deixar de se fortalecer nos municípios estará dando mamão com açúcar na boca dos demos e estará abrindo mão de uma perspectiva de poder.
Os Democratas liderados pela senadora Kátia Abreu tentam a todo custo emplacar o parasitismo político no PMDB e ainda por cima de tudo, com a chancela do governador, que anda refém das chantagens ladinas da senadora e seus comandados. Kátia utiliza-se de uma estratégia inteligente, tentando prender o governador tanto pelo compromisso quanto pela emoção, da forma como já escrevemos em outro artigo intitulado “Kátia agora coloca Nilmar na linha de frente (clique aqui para ler)” O que poderá deixar o governador em uma situação delicada com seu próprio partido.
Por analogia ao jogo dos reis, que tem no sacrifício de peças, jogadas clássicas, poderíamos dizer que Nilmar e João Oliveira são peças colocadas para o sacrifício pela senadora que ambiciona claramente com tal jogada ganhar espaço no tabuleiro para tomar a cadeira do executivo estadual em 2010.
Em entrevista na última edição de O Jornal, João Oliveira fez críticas aos deputados federais Moisés Avelino e Osvaldo Reis, sobre os quais disse estarem de olho em 2010. Para completar envolveu também o presidente da Assembléia Carlos Gaguim (PMDB) e o deputado estadual Junior Coimbra, também peemedebista, como integrantes da discórdia que intencionam tirar o DEM do jogo, ou melhor, Kátia Abreu.
Sobre as pretensões da senadora, Oliveira tergiversou e disse que, o que ela quer é ser presidente da CNA. Ora. Tenha a santa paciência, quem deu start no processo de 2010 foi a própria senadora, logo após sua eleição para o senado em 2006, dizer isto é subestimar a inteligência e chamar os peemedebistas de debilóides. A própria insistência em torno do nome de Nilmar na capital é um sinal claro.
Quem ainda não ouviu os ruídos da sua campanha que segue à boca miúda pelos quatro cantos do Estado? Vir agora criticar os outros segmentos partidários que tentam barrar sua sede de poder é puro cinismo. E o mais grave é tentar fazer escada nas costas do PMDB exercendo como já dissemos o parasitismo político. Mas a senadora que sempre gosta de dizer que derrubou fulano e beltrano da garupa pode vir a ter uma surpresa e cair do cavalo. Se ela não sabe o PMDB tem um acordo de cavalheiros e assim como o PPS, PT e outros, não antecipou processo nenhum, só está se defendendo e trabalhando para desenvolver seus projetos.
As pretensões dos Democratas são tão sedentas, que ultimamente corre o boato, que, em um lance de desespero, teriam tentado adoçar a boca do deputado estadual Eli Borges (PMDB) com a proposta da presidência da Assembléia em troca do apoio na capital para a candidata democrata. A forma impetuosa de fazer política da senadora faz lembrar um outro personagem tocantinense de quem parece ser discípula, o ex-govenador Siqueira Campos.
De agora até o final do mês, durante as convenções, a pressão da senadora e seu grupo sobre o PMDB vai atingir níveis altíssimos. Trata-se da sobrevivência do seu projeto em detrimento da perspectiva dos peemedebistas. Caberá aos cavalheiros do PMDB segurarem a pressão porque daqui a 2 anos o butim político será farto. É esperar para ver.
Umberto Salvador Coelho