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Ciência & Tecnologia

Os sistemas de identificação nos processos de abastecimento industrial, comercial ou doméstico evoluíram muito. Da fase dos nomes dos produtos “por extenso” até o código de barras, cuja grande vantagem é o padrão internacional, que estabelece um código único para cada item e indica ainda quem o fabrica e qual seu país de origem.

O código de barras já atingiu a “maioridade” e, surpreendentemente, existem ainda muitos segmentos que não se beneficiam das vantagens que oferece. Alguns deles, como bares, restaurantes, lanchonetes e padarias, apenas recentemente passaram a adotá-lo.

Mais surpreendente ainda é que, apesar de a grande maioria dos produtos industrializados saírem das fábricas com o código de barras impresso (padrão EAN, atualmente GS1), os próprios fabricantes, muitos de seus distribuidores, atacadistas e varejistas preferem utilizar outras formas de identificação. Investem em novos cadastros e, em geral, têm enormes prejuízos com os erros decorrentes da não-utilização de um sistema único.

A identificação por radiofreqüência (RFID) já tem um grande número de aplicações, de aviões e malas até animais no pasto e automóveis (caso dos serviços de pagamento eletrônicos utilizados nos pedágios). Em todas elas apresenta avanços, ganhos de eficiência, agilidade nos processos, possibilidades de automação e incremento na velocidade das operações, que se traduzem em crescente transparência e redução dos níveis de estoque de cada item pelo fabricante, seus fornecedores ou pelo consumidor final.

Se os códigos de barras são tão bons, e ainda subutilizados, qual a razão de se buscar um novo sistema, baseado em uma tecnologia que requer investimentos significativos? A radiofreqüência é adequada para quais empresas? Traz um retorno que justifique o custo?

O primeiro passo é entender de qual RFID estamos tratando, uma vez que existem muitas soluções com a mesma tecnologia, e quais suas características.

Há quase 10 anos, sua utilização para a identificação de produtos tem sido avaliada, mediante um padrão global denominado EPC (electronic product code), normatizado pela GS1. A entidade definiu a aplicação e o significado de cada um dos dígitos ou campos disponíveis e incorporou as informações já usadas no código de barras, para integrar os dois sistemas.

Do ponto de vista operacional, a base é a mesma: um objeto recebe uma etiqueta com um chip, acoplado a um transmissor de ondas de rádio, que “coloca no ar” as informações gravadas. Qualquer receptor na mesma faixa de freqüência e dentro do alcance das ondas emitidas captura a emissão.

Depois, passa por um decodificador (software de um computador acoplado), que vai efetuar a leitura e “limpar” o sinal, já que com a emissão contínua será lido repetidamente, enquanto o objeto estiver dentro do alcance do leitor. A decodificação vai indicar apenas que o objeto, agora claramente identificado, passou pelo local onde estava posicionado o leitor. Para que essa informação tenha valor, é necessário que gere algum tipo de ação. Por exemplo, avisar ao CD que a mercadoria está para chegar e liberar as docas de descarga.

O EPC permite automatizar a identificação do produto e uma série de outros processos, agilizando a cadeia e dando-lhe ainda maior transparência, na medida em que facilita o rastreamento de insumos e mercadorias desde o planejamento da produção até o trajeto físico ao longo da cadeia de produção e distribuição. A maior vantagem em relação ao código de barras é justamente a possibilidade de verificar cada unidade de venda (SKU) ao longo de sua “vida”, para reduzir as possibilidades de roubos e fraudes, acompanhar a validade e mais um enorme leque de outras facilidades, que proporcionam muito maior segurança em todo o caminho que percorre.

Seria o caso, por exemplo, de rastrear cortes de aves à venda nas redes de varejo quando se detectou, em alguns países, a existência da “gripe do frango”. Se todas as embalagens estivessem etiquetadas com o EPC, seria bastante simples separar as potencialmente contaminadas das isentas e resguardar a segurança alimentar e diminuir os prejuízos.

Muitos dos benefícios do EPC sobre o código de barras dependem de uma enorme base de dados, com a história e localização de cada uma das bilhões de unidades de produtos à venda ao redor do planeta. A criação, manutenção e acesso a esse sistema é, hoje, um dos principais custos e desafios para a adoção plena da tecnologia.

O retorno sobre o investimento nela deriva de muitos fatores – alguns quantitativos, como a automação de processos com redução dos custos de mão-de-obra, e outros qualitativos, entre eles, o ganho de segurança e confiabilidade. A automação, entretanto, afeta toda a cadeia porque os ganhos são compartilhados.

Sua utilização é tecnicamente possível e já está disponível em algumas lojas-piloto, mas depende de todos os produtos serem etiquetados, o que geraria um importante impacto ao atual nível de preços, especialmente para os itens de baixo valor agregado, e dificuldade adicional no caso dos não-industrializados como frutas, legumes e carnes.

Os fatores qualitativos têm também significativo valor, mas o reflexo nos custos sinaliza que o emprego do EPC no ambiente de loja ainda vai demorar muitos anos. Essa conclusão aponta que sua adoção seguirá o caminho inverso do código de barras, ou seja, iniciará pelas embalagens logísticas e processos de retaguarda para, com o tempo, chegar aos itens individuais e à loja.

Fonte: Portal HSM On-line