Subsidiar um diálogo internacional com base científica visando à criação e o desenvolvimento de um mercado mundial de biocombustíveis, tendo como base uma compilação didática que mostre as vantagens econômicas, sociais e ambientais do etanol da cana-de-açúcar produzido no Brasil.
Essa é a proposta do livro Bioetanol de Cana-de-Açúcar – Energia para o Desenvolvimento Sustentável, organizado por Luiz Augusto Horta Nogueira, professor do Instituto de Recursos Naturais da Universidade Federal de Itajubá. A publicação está disponível para consulta gratuita na internet.
“A obra aborda as principais características, limitações e vantagens do etanol produzido no Brasil. Ela mostra, por exemplo, estudos que comprovam que o bioetanol é o combustível que melhor atende as necessidades de redução de gases do efeito estufa, podendo ele ser introduzido, sem grandes problemas, na matriz energética de quase todos os países”, disse Nogueira à Agência FAPESP.
Segundo ele, essas e outras questões são abordadas em bases competitivas. “Nesse momento em que a humanidade se preocupa em obter alternativas sustentáveis para seu desenvolvimento energético, destacamos que o Brasil vem desenvolvendo e aperfeiçoando, há mais de 80 anos, uma alternativa energética que pode servir de modelo para outros países.”
A idéia é que a obra também sirva de referência para o estudo dos potenciais da produção do biocombustível a partir da cana-de-açúcar em condições tecnológicas e climáticas adequadas, especialmente nos países tropicais e subtropicais.
O conteúdo do livro tem como base artigos e estudos científicos de diversos autores brasileiros, além da literatura técnica disponível e levantamentos específicos sobre o setor realizados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e pelo Escritório Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
O trabalho contou ainda com a participação de pesquisadores do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e de representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“O CGEE acumula uma série de textos e estudos sobre o etanol, realizados principalmente em 2004 e 2005, que geraram conhecimentos de ponta que agora estão se convergindo nessa publicação”, disse Lúcia Melo, presidente do CGEE durante o lançamento do livro no fim de novembro, na capital paulista.
“Os textos foram propositalmente produzidos em uma linguagem simples, em três idiomas, para que o Brasil possa participar, de modo mais intensivo, do esforço internacional de uso da biomassa. A obra ajudará a difundir a idéia de que o país tem condições reais de ampliar sua produção de etanol a partir da cana-de-açúcar a partir de uma agenda comum entre os países”, explicou.
A publicação está dividida em nove capítulos: “Bioenergia e biocombustíveis”, “Etanol como combustível veicular”, “Produção de bioetanol”, “Co-produtos do bioetanol de cana-de-açúcar”, Tecnologias avançadas na agroindústria da cana-de-açúcar”, “Bioetanol de cana-de-açúcar no Brasil”, Sustentabilidade do bioetanol de cana-de-açúcar: a experiência brasileira”, “Perspectivas para um mercado mundial de biocombustíveis” e “Uma visão de futuro para o bioetanol combustível”.
Aviões flex
Além de descrever as características biológicas da cana-de-açúcar como planta, as técnicas de produção do álcool e de seus co-produtos como a bioeletricidade, o livro aponta que, em 2007, o agronegócio da cana movimentou cerca de R$ 41 bilhões no Brasil, quando foram produzidos 30 milhões de toneladas de açúcar e 17,5 bilhões de litros de bioetanol no país.
A produção de cana-de-açúcar saltou de 88,92 milhões de toneladas na safra 1975/76 para 489,18 milhões de toneladas na safra 2007/08. A cultura da cana ainda ocupa, no entanto, apenas 9% da superfície agrícola do país, perdendo em área cultivada para a soja e milho.
No Brasil o consumo do etanol produzido da cana-de-açúcar já substitui metade da procura pela gasolina e seu custo é competitivo mesmo sem os subsídios que antigamente viabilizaram a produção do biocombustível. Esses incentivos tiveram início com a criação do Proálcool, programa lançado no país em meados da década de 1970 visando a reduzir a dependência da importação de petróleo.
“Considerações econômicas da indústria do açúcar também pesaram no estabelecimento do Proálcool, porém preocupações de caráter ambiental e social não tiveram papel significativo na ocasião”, lembra o físico José Goldemberg no prefácio do livro.
“Já nos Estados Unidos, o grande produtor mundial de etanol com base no milho, o programa é mais recente e suas justificativas são a eliminação de aditivos da gasolina e a redução das emissões de gases que provocam o aquecimento global”, acrescenta Goldemberg, pesquisador do Centro Nacional de Referência em Biomassa, vinculado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).
Nos países da Europa Ocidental, por sua vez, o etanol é produzido a partir do trigo e da beterraba, sendo que o custo do biocombustível é de duas a quatro vezes mais elevado do que no Brasil e subsídios internos e barreiras alfandegárias protegem as indústrias locais, impedindo a importação de etanol brasileiro.
Goldemberg alerta ainda que o que se pode chamar de “solução brasileira para os problemas dos combustíveis fósseis”, caracterizada pelo uso do etanol de cana-de-açúcar para substituir a gasolina, não é exclusivo do Brasil e também está sendo adotado em outros países produtores de cana, dos quais existem quase cem no mundo.
A obra aborda ainda assuntos como “O etanol em motores aeronáuticos”, “As possibilidades do açúcar orgânico”, “Evolução da produção de eletricidade nas usinas brasileiras”, “Primeiros passos da etanolquímica no Brasil” e “Melhoramento genético e disponibilidade de cultivares”. De acordo com a publicação, o uso do etanol hidratado como combustível aeronáutico é uma realidade comum no interior do Brasil, o que comprova o bom desempenho desse combustível em motores alternativos.
Desde 2005 a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) fornece kits para adaptação de aviões agrícolas, de gasolina para etanol, e atualmente está desenvolvendo sistemas flex fuel para motores aeronáuticos, visando a atender aviões agrícolas de pequeno porte com motor a pistão, cuja frota estimada no Brasil é de 12 mil aeronaves.
“O uso do etanol hidratado permite a expressiva economia operacional, pois reduz em mais de 40% o custo por quilômetro voado e incrementa em 5% a potência útil do motor”, destaca o livro.
Para ter acesso ao conteúdo na íntegra de Bioetanol de Cana-de-Açúcar – Energia para o Desenvolvimento Sustentável, (clique aqui)
Fonte: Agência Fapesp