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Opinião

Considerado um dos maiores escritores de todos os tempos e famoso por tornar-se, na velhice, um pacifista, cujos textos e idéias batiam de frente com as igrejas e governos, pregando uma vida simples e em proximidade à natureza, Tolstoi afirmava, com muita propriedade, que a religião sem o conhecimento é cega, o conhecimento sem a religião é paralítico.

Certamente, Deus, como elemento de adoração, deve estar no centro das atenções do homem nesse particular e, isso por si só, já nos constitui em religiosos por essência, induzindo-nos quase que inconscientemente ao ato de adorar, independente de credos e formas religiosas instituídas.

Esse sentimento se encontra arraigado em todos nós de forma tão expressiva que até os que se dizem ateus oram a alguém quando estão em estado de angústia.

Lembro-me da oração do ateu Richard Wumbrand, com o seguinte teor: "Deus eu sei que tu não existe, mas se por acaso tu existires não é meu dever me revelar a ti, mas sim teu dever se revelar a mim". Quem ora assim, não pode ser ateu no sentido genérico da palavra.

Mas a religião no decorrer dos tempos se organizou, reorganizou-se e, finalmente, se fragmentou pelo impacto mortal entre as denominações. Tal fato atingiu até os livros sagrados, que não escaparam das aberrações de várias traduções e interpretações falsas, produzidas com o intuito de sustentar pontos doutrinários convenientes.

Produziram-se desajustes no ato de adorar. Cada grupo religioso passou a procurar modelos de adoração que se pressupõe melhor agradar a divindade adorada. Esses grupos prescrevem formas das mais diversas e assim ensinam aos seus fieis como modelo de adoração.

Os Judeus com o "Yom Kipur" (Dia do Jejum), onde jejuam por 25 horas ininterruptas, incluindo até as crianças, orientados pela torah (lei). Não menos radical vem o Islã com um mês chamado Ramadan, Mês do Jejum, seguido de adoração festiva, mas tudo prescrito pelo alcorão.

Jesus, na condição de fundador do cristianismo também traçou regras na adoração a Deus, especialmente no ato de orar, pois sendo esse o modelo de comunicação entre o homem e Deus, são necessários cuidados específicos como Ele mesmo ensinou:

"Quando orares não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens (Mt 6: 5...) Mas tu, quando orares, entras no teu aposento e, fechando a tua porta, ora ao Teu Pai que está em secreto" ( V 6... ). Em Eclesiastes 5:2, está escrito: "Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse em pronunciar palavra alguma diante de Deus; por que Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras".

No entanto, nos dias atuais, existem vários grupos religiosos que oram gritando, pulando em movimentos bruscos, fazendo piruetas e outras ações desajustadas e, ainda, sem critério na coordenação das palavras pronunciadas diante de Deus. Tal procedimento demonstra ingenuidade, fanatismo, falta de cultura bíblica e alienação religiosa. Quem assim se comporta, está negando a onisciência de Deus, que sabe do que vamos lhe falar, antes que haja uma palavra em nossa língua.

 

João Gomes da Silva

Escritor e teólogo, orador oficial da Academia Gurupiense de Letras

E-mail: revjoaogomes@gmail.com

 

 

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