O Governador Carlos Gaguim da mais uma prova de que não está brincando e aqueles que acham que ele vai se contentar com apenas um ano e pouco de governo estão enganados. Agora, Gaguim deu um abraço de tamanduá em seus aliados criando o Conselho Político, quem quiser ficar com ele vai ter de se expor. Ver esta noticia na imprensa local faz com que uma pergunta venha a cabeça. Cadê os conselhos políticos das gestões de esquerda do Tocantins? No inicio da gestão do atual prefeito, ele, foi o primeiro a esvaziar o Conselho criado por ele mesmo. Sim, em todas as três vezes que o Conselho Político de Raul se reuniu apenas Deocleciano Gomes e Donizeti Nogueira compareceram.
Com a desculpa esfarrapada que as reuniões do conselho estavam se tornando choradeira de aliados, logo o Paço Municipal enterrou o fórum consultivo que qualquer executivo deve usar, Lula faz isso muito bem. Em Porto Nacional na gestão Mourão o mesmo ocorreu, infelizmente o salto que Porto deu nos últimos anos se deve quase que apenas a ele, porém, seu mandato contou com significativas contribuições do Planalto. E assim vai, apenas Lula usa o artificio de consultar, mesmo que simbolicamente, seus aliados, os beneficios são claros, basta ver as altas popularidades do presidente, não que isso seja o fator decisivo, más é com certeza um dos elementos, pois todos sabemos que muitas cabeças se forem bem dispostas, entendam a política, cofiem nos compromissos e tiverem boas intenções pensam bem melhor que uma ou duas, ou até cinco, como foi o caso do Conselho do Raul, porque querendo ou não todo homem público tem seus conselheiros. Seria hora de instituir tal conselho? Não! Gaguim foi mais ousado e pulou na frente, imita-lo agora seria erro, se bem que erros políticos são frequentes neste campo.
Em 2005 o PT ficou preocupado com a filiação de Leomar ao PCdoB, se afastou dos aliados tradicionais e ficou esperando a Convenção do PMDB optar por Kátia Abreu. Agora realiza, em Palmas, um segundo mandato que não trouxe novidades com relação ao primeiro, poucas informações e muitas viagens, a diferença agora é que as viagens são menos à Brasília e mais para o interior do Estado. Raul é posto como um pré-candidato ao governo, porém seus planos ficaram mais difíceis, já que no quesito aglutinação Gaguim está alguns passos adiante, Raul que já foi uma unanimidade entre os esquerdistas, democratas e progressistas não o é mais.
Carlos Gaguim saiu da quadijuvância para o papel principal na eleição de 2010. Atropelando gente que tava na estrada a mais tempo, que o diga a Senadora Kátia Abreu, que já planeja reatar com a UT, levando em consideração a aliança nacional isso já é certo basta escolher o cabeça de chapa. Resta saber se neste bolo cabe João Ribeiro ou se ele vai ficar com Gaguim. Onde ele tiver, tem a força de ter sido um Senador presente durante as eleições do ano passado, em especial, no interior do Estado. O outro Senador Leomar é convencional do PMDB, isso significa que só se ele não quiser não fica com uma das vagas do Senado na chapa de Gaguim.
Quando Siqueira Campos protocolizou o RCED há 2 anos atrás mal sabia ele que poderia dar nisso. Como quase todos “os grandes” deste Estado Gaguim tem suas raízes no siqueirismo. Pertenceu muito tempo ao PTB e no PMDB, há quase um mandato ele não esperava causar mais abalo que causou quando, literalmente, peitou a máquina dos Miranda e ganhou a presidência da Assembleia Legislativa. Se ele esperava este desfecho, parabéns pra ele e suas fontes, o certo é que ninguém esperava, quem não acreditava na permanência de Marcelo contava como certa a volta de Siqueira.
O fato é que a decisão inédita do TSE causou estranhesa, mais que isso, mexeu e muito nos conflitos internos dos campos conservadores e progressistas e a todos os tocantinenses, acostumados com a polarização o que se vê agora são preocupações de todos os grandes do Estado, todos preocupados com Gaguim. Siqueira, Kátia, João, Raul, PT e forças de esquerda todos atentos a qualquer movimento do executivo estadual.
Os conservadores se entregaram num primeiro momento, porém, reconstruíram suas forças e forjam a idéia da unificação de nomes que estão bem nas pesquisas internas, no entanto seus partidos e lideranças não definiram exatamente sua posição em relação ao Governo Gaguim, os deputados participam, lideranças e partidos, não. O mesmo acontece no campo das esquerdas, quem esta com mandato teve influência e é retribuído com ações de Governo.
Os partidos são outra questão, como vimos no inicio do texto, uma das grandes heranças da gestão Raul foi o desmantelamento dos fóruns consultivos supra-partidários que remontam aos primórdios do Tocantins, tratando aliados diferentes de maneira igual, o PT e Raul deram um tiro no pé dos democratas e progressistas, que vinham de um acúmulo de experiências derrotadas eleitoralmente, más, fortalecidas politicamente, tal acúmulo foi por água abaixo e deixa as marcas claras na eleição de 2008, quando Raul foi o último a sair da toca e conversar com os partidos de maneira companheira.
PMDB, PT, PDT, PCdoB, PSB, PPS deram, e podem, dar juntos grandes contribuições para o Tocantins. Antes é preciso reativar o debate franco e aberto sobre a visão que cada um destes partidos têm sobre o Tocantins e o Brasil. PMDB, PT e PCdoB são legendas com grande identidade nas lutas democráticas. No Tocantins fazem parte de uma frente de resistência que teve inicio em 90. Apesar das vezes que o PT optou por lançar candidaturas, houve diálogo entre estes partidos, esta experiência sofreu forte abalo com o retorno de Marcelo ao PMDB, com a chegada do governador o partido dividiu-se entre os pró-governo e aqueles que viam nas lutas com PT e PCdoB e outros partidos a verdadeira saída para as crises eleitorais dos progressistas do Tocantins estes na maioria pertencente ao quadros do Governo de Raul.
O certo é que Gaguim precisa passar segurança aos dois grupos que se mantem atuantes dentro de seu partido, este é sem dúvida o grande desafio do governador Gaguim. A partir de sua construção interna no PMDB, o passo seguinte é ganhar a confiança da esquerda, este é, sem dúvida, um movimento mais complicado. Apesar de ter em sua base deputados de partidos de esquerda Gaguim, parece ter dificuldades com os dois principais partidos deste campo. PT e PCdoB, ambos, tentaram jogar papel na sucessão tampão, mas foram engolidos; o PT por sua deputada, o PCdoB por não te-los. O PT até tentou mas o tamanho da articulação de Gaguim surpreendeu a Articulação de Doniseti.
Os comunistas estão atentos a todos estes movimentos na conjuntura estadual, de início sabe-se que o PCdoB colocará esforço na manutenção das forças sociais de apoio a Lula, capitaneadas por candidaturas de Dilma e Ciro, no Tocantins o cenário exige serenidade e seriedade nas ações de homens e instituições. Temos um grande potencial para ser marco na integração nacional com corredores logísticos e transposição de biomas. O Comitê Estadual do PCdoB se reúne dia 5 e fará um balanço mais detalhado de suas posições e suas projeções para 2010. As outras legendas da esquerda ainda carecem de certo acumulo político principalmente a compreensão de que política de faz com idéias e práticas coletivas, alguns partidos de esquerda no Tocantins acabaram se tornando de liderança única.
A grande herança que a eleição indireta de Carlos Gaguim deixará ao povo tocantinense foi o fato de sua acensão ter sido obra de articulações que não vieram das casas de coronéis, é o primeiro governo parlamentarista da República moderna, um parlamentarismo eminentemente de centro-direita. Foi um insuflar da base parlamentares das oligarquias. Mais que isso, Gaguim modifica um cenário construído em diversas frentes durante décadas, e, que antes mesmo de ser criado o Tocantins já havia sido loteado.
A primeira década teve fechamento da democracia no Tocantins, de 95 até 2005 inicialmente com Siqueira e depois com Marcelo o Tocantins viveu momentos de progresso econômico e social relativo, mas, na outra ponta da balança sobraram agressões ao patrimônio público, direitos dos trabalhadores e ao cidadão que desde cedo acreditava estar em um exército de sei lá o que, pois, a instrução-educação, que é base de qualquer força, foi sucateada amargando resultados inexpressivos na passagem do milênio.
Nos últimos quatro anos o Estado amargou dias de desmando total, Marcelo para se reeleger usou de métodos legais e ilegais, os tempos mudaram e Siqueira que teve vários RCED's contra ele usou o mesmo artificio e acabou com a farra que havia se instalado no Araguaia, como num passe de mágica, para encerrar com duas décadas de práticas nocivas, um desafeto marcelista se torna seu sucessor. Ao adentrar da terceira década o Tocantins vive um momento impar na história do País. Gaguim deve aproveitar este momento e, verdadeiramente, enterrar as práticas de seus antecessores, porém, com exceção a iniciativas isoladas, como a criação deste Conselho, a grande maioria das ações adotadas pelo executivo estadual diferem em muito pouco.
Politicamente falando espera-se que tal Conselho seja mais que uma manobra de marketing, que realmente seja um fórum consultivo apropriado para os diversos seguimentos darem sua opinião respeito das grandes questões do Estado e, diferentemente do que Raul Filho pensa, dirigentes partidários podem e tem a obrigação institucional de dar opinião sobre temas de relevância e homens públicos devem saber ouvir, em especial o contraponto, o companheiro, todos aqueles que querem o bem do Estado, mas sobretudo dizer quem são seus conselheiros, pois a coisa pública não deve ser obra de um ou dois iluminados. Que Gaguim não siga o exemplo da capital e realmente use da melhor forma possível o instituto o Conselho Político a iniciativa é boa, vamo ver a acabativa. É esperar pra ver.
*Adriano Francisco - Licenciando em Filosofia, Técnico em Atendimento e Secretário de Formação e Propaganda do PCdoB-TO