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Opinião

A movimentação do senador João Ribeiro (PR) retirando seu nome da disputa pela cadeira do Palácio Araguaia na noite de ontem, quinta-feira, 25, levantou uma cortina de fumaça sobre um cenário que caminhava para clarear. Através de nota à imprensa o senador foi enigmático afirmando que a decisão foi para fortalecer “o nosso grupo político”, que ele não cita qual, e que foi tomada “diante da instabilidade política por que passa o Estado, bem como as movimentações que assistimos ocorrer em setores próximos ao governador Carlos Henrique Gaguim”. Como se vê, uma nota enigmática, como muitas vezes é a política, para aqueles que não a acompanham de perto.

Caso se confirmasse realmente a candidatura do senador João Ribeiro (PR) ao governo do Estado com apoio do governador Gaguim (PMDB), teriamos tido um cenário interessante onde o governador poderia vir a ser o coordenador da campanha da presidenciável Dilma Rousseff para região norte com perspectiva de assumir um ministério lá na frente, em caso de vitória da candidata. Seria a primeira vez que o Tocantins teria um ministro, portanto, um fator de grande relevância histórica para o caçula da federação.

Numa eventual chapa para concorrer ao governo, encabeçada pelo senador, teriamos ainda possibilidade de ter o PMDB ocupando a vaga de vice na chapa majoritária com uma liderança do sul do Estado - A participação do sul na majoritária é cobrada há anos pela região, a última vez que teve um representante foi com o saudoso João Cruz, vice, naquela oportunidade, do ex-governador Siqueira Campos (PSDB) -. Mais especificamente a deputada estadual Josi Nunes, que conjuntamente com o prefeito Alexandre Abdalla (PR) que foi seu adversário na eleição municipal passada, fecharia o terceiro colégio eleitoral do Estado que é Gurupi. Somados os votos obtidos pelos dois durante a eleição municipal atingiu-se a 99% do eleitorado da cidade.

Nesta mesma majoritária haveria espaço para o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB) buscar sua tão sonhada vaga de senador – sua pré-candidatura até o momento vem sendo limada – e com isto arrebanhar o eleitorado do segundo colégio eleitoral do Estado, onde ele mantém domicílio eleitoral, Araguaina. Poderia se completar a majoritária com outro nome do PMDB para o Senado, a exemplo do atual senador Leomar Quintanilha, ou mesmo com um nome do PT, que neste caso agregaria a força da capital, o maior colégio eleitoral do Estado. Seria uma chapa fortíssima para passear nas eleições e vencer o velho Siqueira Campos, que já contratou o Duda Mendonça para criar a versão “Siqueira paz e amor”.

Faço aqui uma digressão no tema principal para ponderar que será muito difícil o marqueteiro mudar a imagem truculenta do velho, guardada a sete chaves no imaginário popular nos mediterrâneos do Tocantins. Um palaciano em tom de pilhéria afirmou que nem o mentor da campanha publicitária de Barack Obama daria conta. Será?

Voltando. O certo é que parece ter pesado na decisão do senador o fato de ele não ter conseguido se deslanchar nas intenções de voto do eleitorado. Inexplicavelmente, João Ribeiro, mesmo tendo um excelente trabalho municipalista prestado junto aos prefeitos, pelos quatro cantos do Estado, não conseguiu amenizar a rejeição que se tornou sua sombra.

A pergunta que se faz agora é se João Ribeiro voltará mesmo para a União do Tocantins, ou se ficará ao lado dos governistas da base do presidente Lula de quem ele é conselheiro. João Ribeiro teme ficar e numa eventual composição de majoritária, tendo o ex-governador Marcelo Miranda na outra vaga ao senado, ficar enfraquecido.

Para os governistas, a solução para garantir a eleição de João Ribeiro na base da coalizão do governo é a outra vaga da majoritária para a disputa ao senado ser ocupada por algum pretendente com cacife eleitoral fraco. Neste caso a pré-candidatura do forte Marcelo Miranda à alta Casa do Congresso Nacional continuaria sendo limada com anuência do Palácio Araguaia, que vê no ex-governador um calcanhar de aquiles da majoritária, caso venha compor, em função da sua cassação e denúncias que pesam sob seu governo. O Palácio Araguaia não quer carregar este fardo.

Depois desta quinta-feira o que parecia estar caminhando para clarear, novamente se turvou e uma leitura mais definida do cenário só deveremos ter mesmo a partir de abril, limite para a desencompatibilização de quem pretende concorrer. Como é o caso do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), que tem feito barulho, mas que não tem a mínima condição de ir para a disputa, em face dos problemas que vem enfrentando com sua fraca administração. O prefeito não tem nenhuma grande obra para apresentar, mesmo estando há 6 anos à frente do Executivo da capital e os problemas pontuais da cidade são resolvidos na base do improviso e gambiarra como é o caso dos tapa buracos nas avenidas que ele prometeu recapear. Para muitos a administração Raul Filho, é uma administração porca, além do mais não teria tempo hábil para viabilizar seu nome até abril.

Outra peça importante que compõe o cenário é a senadora Kátia Abreu (DEM) que fez juras na reconciliação ao ex-governador Siqueira Campos, mas que não está lá tão firme. A senadora tem conversado com setores do PMDB e pode deixar o velho tucano na chapada, retornando para uma reedição de uma articulação semelhante à Aliança da Vitória que derrotou Siqueira em 2006. Ela já disse que neste sentido só não dá para conversar com o PT.

Uma volta da senadora decretaria o ocaso do envelhecido Siqueira, que teria sua já frágil chance de voltar ao poder dissipada pelos prenúncios dos ventos do outono tocantinense. Seria verdadeiramente a materialização do chapão. A composição dos partidos da base do presidente Lula com o partido da senadora. A Siqueira Campos restaria seu esfarrapado PSDB, o quase nanico PP do deputado Lázaro Botelho e Duda Mendonça na condição de milagreiro.

Nos próximos dias a agitação política vai aumentar consideravelmente e um novo cenário começará a ser montado. Resta saber se o velho Siqueira Campos terá fôlego para ir até fim da campanha correndo os rincões do Estado na mesma velocidade do acelerado Gaguim. Se ele pensa que vai ganhar as eleições sentado no estúdio do Duda Mendonça, está comentendo um grave erro. É esperar para ver.