É verdade que eu estava muito zangada, pensando o que aquela velha feia, magra, encapuzada, de machado em punho e corcunda tinha contra a felicidade alheia? e por que ela se sentia no direito de tirar de perto da gente as pessoas que a gente ama? Ai, lembrei de um livro que li no final do ano passado: A Menina Que Roubava Livros.
De qualquer forma, me consolou pensar que a morte pode não ser assim tão feia. Se for como no livro, não existem machados, nem capuz, nem roupa escura. No lugar, há uma pessoa que vem ao encontro de quem parte, pra que no caminho desconhecido a pessoa não se sinta perdida e só.
Eu sei que se a gente conseguisse encarar a morte como uma parte natural da vida, seria tudo mais fácil. Porém, quando ela chega dói saber que a ausência vai ser companheira, que nunca mais vamos ouvir a voz, o riso, as explosões.
Dói mais ainda ficar pensando no que poderia ter sido, em como é o outro lado; se a pessoa está bem ou se ela vê e sabe o que aconteceu... Estas coisas que a gente insiste em especular, mesmo sabendo que nunca vai ter uma resposta e que também, respostas não mudariam nada.
Eu fiquei pensando sobre isso, depois de chegar em casa, ainda duvidando do que vivi hoje, desde a hora que fui acordada com o telefone me dizendo uma história muito sem graça, de que Luana, a menina que combinava com a vida, havia morrido.
Pra dizer a verdade, ainda fico pensando que alguém vai chegar e dizer: “Ei, Gê, acorda. Teu sono tá agitado. Você deve tá tendo um pesadelo”. Mas se não for isso, vou pensar que ela foi recebida pelas mãos e levada a um lugar seguro; que ela está feliz.
Segundo o livro, as pessoas boas têm a alma leve. A dela então devia ser uma pluma. E não estou falando de uma pessoa boazinha, como as pessoas costumam dizer após a morte. Luana era uma menina exuberante, feliz e intensa. Por ser assim, era generosa, amiga de seus amigos, companheira e uma leoa pra defender quem amava e o que acreditava.
Tinha começado a viver agora e nunca foi uma “pessoa de plástico”. Ela era tomada por todas as emoções a que tinha direito. Era muito bom vê-la exercer plenamente a arte de viver e de não aceitar menos do que ser feliz, se divertir, aprender e receber tudo o que a vida tinha pra oferecer.
Talvez ela fosse assim porque adivinhasse, lá no fundo, que teria pouco tempo e quisesse sorver a vida numa única respiração. Eu só peço a Deus pra estar certa num pensamento que me ocorre. Acho que se ela pudesse mandar um recado diria: “Diga a todos que vivi e que fui feliz”.
(Georgethe Pinheiro é Assessora de Comunicação da Prefeitura de Palmas)