Ir à escola é um verdadeiro transtorno para as
crianças e adolescentes que vivem na comunidade rural Boa Esperança,localizada
a 75 quilômetros da cidade de Mateiros.
Os alunos que cursam a partir do sexto ano do ensino fundamental têm que se deslocar
das casas até as margens do rio –cerca de seis quilômetros de caminhada, ou de
carona em motos ou no lombo de animais, já que o percurso é todo de areia fina,
onde não existe transporte escolar – e lá fazer a travessia numa balsa
construída com 12 galões, madeira e cordas, precisando ter habilidade já que o
controle é feito pelas cordas amarradas de cada lado do rio, onde qualquer
descuido pode resultar em acidentes.
Para os que estudam até o quinto ano,na comunidade há um local onde as aulas são
ministradas de forma multiseriadas- onde alunos de séries diferentes são atendidos
todos no mesmo horário e no mesmo espaço – na casa de farinha, que não oferece
condições nenhuma para as crianças. As paredes são pela metade, e quem está lá dentro
convive com asintempéries do tempo.
O presidente da Associação da Boa Esperança, Adão Cunha, relata que foram vários
os pedidos tanto para a construção de uma escola digna, quanto da regularização
de transporte escolar,só que até agora, nenhuma resposta satisfatória. “Eu sou
motorista concursado da Prefeitura, e já me coloquei a disposição para ficar
por conta do transporte aqui da comunidade, eu acho que ajuda, pois conheço
todos aqui e seria mais fácil levar todo mundo para a escola mais próxima e sem
falar do perigo que esses meninos enfrentam atravessando na balsa; antes era
pior porque eles se arriscavam em canoas feitas de buriti, mas essa situação já
era para estar resolvida”.
A saúde também é um problema. A comunidade é desprovida de serviços básicos de
saúde, sequer recebem visitas regulares de equipes do Programa Saúde da Família,
e muito menos tem acesso à médicos,enfermeiros, dentistas, farmacêuticos e
ambulância.
Os moradores sobrevivem do artesanato do capim dourado, do plantio de mandioca e produção de farinha, mas tudo em pouca quantidade, pois eles têm dificuldades
no escoamento da pequena produção.Entre eles, há o desejo do reconhecimento enquanto
remanescente de quilombolas,o que representaria de fato a tranqüilidade de
continuar na terra onde vivem, e a implantação de melhores condições de vida.
(Ascom Defensoria Pública)