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Opinião

Foto: Divulgação

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A Campanha eleitoral começa a esquentar. O assédio ao eleitor é visível. Cada candidato faz tudo para aparecer da melhor forma possível, usando, para isso, de todos os meios que dispõe. Normalmente, os pretendentes a um cargo eletivo sempre estão disponíveis para entrevistas, especialmente, as televisivas. Vários carros circulam pela cidade plotados com as suas fotos, que, na maioria dos casos, são devidamente manipuladas pelos modernos processos tecnológicos de rejuvenescimento da imagem.

Afinal, é necessário parecer jovem e belo, para tentar conquistar o voto do eleitor dessa faixa etária. Outra característica dos candidatos é o sorriso. Já repararam como são alegres? Bem, indiscutivelmente, os tapinhas nas costas, afagos e abraços, promessas de toda ordem, o ir ao encontro das crianças e recebê-las com entusiasmo, pose para fotos, beijinho no rosto, enfim, tudo isso faz parte, como dizem. E, assim, poderíamos enumerar dezenas de estratégias, comportamentos e atitudes minuciosamente pensadas e monitoradas por empresas altamente especializadas em marketing eleitoral.

Em campanhas eleitorais de um  passado recente, a poluição visual com outdoors e placas, se constituíam em verdadeiros crimes ambientais, e acertadamente proibidas pela lei eleitoral. Da mesma forma, não é mais permitida a distribuição de lembrancinhas como chaveiros, canetas, réguas, agendas e tantos outros "agradozinhos", sempre timbrados com o nome e número do candidato. Asim, o eleitor não esqueceria o que marcar na urna no dia da eleição. Outro artifício, agora ilegal, que onerava uma campanha eram os badalados showmícios, capitaneados por duplas ou bandas famosas. Tudo com um só objetivo: agradar o ingênuo eleitor, que talvez depositasse o seu voto naquele que bancara tudo isso de forma tão generosa e lhe trouxera momentos de alegria e entretenimento.

As mudanças na lei eleitoral efetuadas pelo Congresso Nacional, sancionadas pela presidência da República e as interpretações da própria lei pela Justiça Eleitoral acabaram com muitos dos mecanismos e artimanhas nefastos que impulsionavam e coloriam as campanhas eleitorais. Entretanto, entre as "liberdades" que ainda perduram estão os carros de som que, sem trégua, fazem ecoar pelas ruas, avenidas, praças e quadras de muitas cidades, os jingles de candidatos, entupindo e enchendo a cabeça dos moradores e eleitores com lixo sonoro, até o esgotamento de sua paciência.

Diferente da veiculação televisiva ou radiofônica, nas quais o telespectador ou o radiouvinte têm a possibilidade de, simplesmente, desligar o aparelho, no carro de som não resta alternativa do que, literalmente, aguentar. Não custa lembrar que os ouvidos das pessoas não são penicos, nem suas mentes lixeiras. Na capital tocantinense, a veiculação de propaganda política com o uso de carros de som é algo inconcebível e inaceitável: de manhã à noite, rodando, gastando centenas e centenas de litros de combustível. Diariamente, provocando absurdos, pois, em muitos casos, dois carros do mesmo candidato, na mesma pista a poucos metros de distância entre si e, ainda, um terceiro na pista contrária tocando o mesmo jingle, sem parar. Se isto não fosse o bastante, logo em seguida, vêm os dos outros candidatos.

Para este tipo de publicidade, da forma como vem ocorrendo, não há outro nome: tentativa de lavagem cerebral explícita. Convém lembrar, que lavagem cerebral é um recurso utilizado em várias partes do mundo, por grupos ou pessoas mal-intencionadas com o objetivo específico de fazer com que indivíduos submetidos a esse tipo de prática não saibam mais distinguir o certo do errado, ou tomar decisões por iniciativa própria.

Em Palmas-TO, há um bom número de escolas e universidades, além de uma boa estrutura midiática, cuidando da formação e informação de sua população. Essas duas características deveriam fazer com que os candidatos e comitês políticos visualizassem uma forma diferenciada de convencer o público eleitor. Ou seja, através da apresentação e debate de ideias, propostas, projetos e programas, como se requer em um regime democrático, e nunca na marra, utilizando métodos nada recomendáveis. Caso persista a atual situação,  o "tiro pode sair pela culatra", como diz o ditado, pois esse tipo de eleitor bem formado e informado espera uma campanha eleitoral inteligente, pautada na ética, não aceitando cabresto, nem viseira e, muito menos, lavagem cerebral.

*Wolfgang Teske é catarinense de Blumenau-SC, jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior e Mestre em Ciências do Ambiente/Cultura e Meio Ambiente. Reside em Palmas-TO, desde 1992, onde implantou o Complexo Educacional da Universidade Luterana do Brasil, sendo o seu primeiro diretor. Foi diretor de Relações Empresariais e Comunitárias da Escola Técnica Federal de Palmas, hoje IFTO, na sua implantação. Atualmente, é professor e pesquisador da Universidade Federal do Tocantins. Autor dos livros A Roda de São Gonçalo; Cultura Quilombola; co-autor do Fotolivro Roda de São Gonçalo e diretor de produção do Filme A Promessa. É Cidadão Palmense e Membro da Academia Palmense de Letras - cadeira nº 17. Wolfgang Teske ainda escreve semanalmente em seu blog Alfarrábio Pensar.