Mais de duas mil pessoas, entre empresários, colaboradores do comércio, entidades e instituições sociais e ONGs, participaram da passeata por mais investimentos na segurança pública em Araguaína na manhã desta quarta-feira, 17. A multidão partiu da Praça das Bandeiras e seguiu pela Avenida Cônego João Lima, a principal da cidade, na contramão, até a BR 153. O movimento foi uma iniciativa da Associação Comercial e Industrial de Araguaína (Aciara), em parceria com 16 entidades e instituições do município.
Durante o percurso, dezenas de lojas fecharam as portas em pleno horário comercial como forma de apoio à mobilização. Os manifestantes também aproveitaram a oportunidade para convocar os demais funcionários do comércio para aderir ao movimento. Aline Queiroz Tavares, assistente pessoal, percorreu todo o trajeto da manifestação e exaltou que a união é a ferramenta mais forte para reivindicarmos nossos direitos. “Se fizéssemos isso mais vezes, muita coisa poderia ser diferente. Acredito que essa ação trará resultados para nossa cidade”, afirmou Aline.
O diretor da Aciara, Renato Freire, lembrou que a luta dos manifestantes é em prol da coletividade. “A violência hoje não escolhe classe social. Ela atinge o comércio, casas, o transeunte, todos estão reféns. Esse movimento é pacífico, mas queremos deixar bem claro para as autoridades que não vamos mais admitir o descaso que Araguaína vem passando com a questão da segurança pública”.
Uma viatura e batedores da Polícia Militar deram apoio à passeata, organizando o trânsito durante o trajeto. Já na BR 153, os manifestantes fecharam as duas pistas da rodovia por 30 minutos após negociação com a Polícia Rodoviária Federal. Uma fila de caminhões, ônibus e carros formou-se enquanto os participantes cantavam o Hino Nacional e chamavam a atenção dos passantes para a necessidade de cobrança do poder público. “Ficamos extremamente satisfeitos com a adesão dos associados, empresários, funcionários e os fundamentais parceiros desta mobilização. Mostramos que juntos somos mais fortes para qualquer situação e acreditamos que, em breve, teremos resultados concretos em nossa cidade”, salientou o presidente da Aciara, Manoel de Assis Silva. No fim do ato, todos os participantes entoaram as palavras de ordem “Araguaína clama segurança, já!”.
Resposta do poder público
Ainda diante dos preparativos para a mobilização, os órgãos que formam a cúpula da segurança pública do Estado procuraram a organização do movimento para apresentar as propostas iniciais do poder público para conter o avanço da criminalidade em Araguaína.
Na noite da terça-feira, 16, o secretário de Segurança Pública do Tocantins, César Simoni, o comandante geral da Polícia Militar, Coronel Glauber de Oliveira Santos, o comandante do Policiamento do Interior da PM, Tenente-Coronel Luis Carlos Barbosa Ferreira, a comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar de Araguaína, Major Patrícia Murussi, e o sub-secretário de Defesa e Proteção Social, Hélio Marques, reuniram-se com diretores da Aciara e representantes das entidades e instituições parceiras da mobilização, no auditório do ITPAC, e anunciaram as primeiras ações do Estado em Araguaína.
Segundo César Simoni, de imediato, duas equipes do Grupo de Operações Táticas Especiais (Gote) serão deslocadas para Araguaína durante duas semanas. Periodicamente, o grupo fará operações na cidade, mas o projeto, de acordo com o secretário, é implantar aqui uma equipe fixa do Gote. Outro anúncio foi com relação à escala de trabalho dos delegados. César afirmou que a categoria comprometeu-se a estar à disposição da comunidade além das horas de trabalho previstas em lei. “Estamos buscando todos os dias as soluções e estamos convictos que vamos encontrar. Vamos superar as adversidades, constituir uma polícia forte e dar segurança para o cidadão”, garantiu o secretário.
Sobre o concurso público já realizado pela Secretaria, César disse que o Estado precisa dispor de recursos na ordem de R$ 9 milhões para dar posse aos aprovados, mas ainda não há previsão.
Polícia Militar
Para o aparelhamento da Polícia Militar, Coronel Glauber anunciou um novo contrato do Estado para a locação de 500 veículos, sendo que 167 já foram entregues. “Dentro de 30 a 40 dias, estaremos com todas as viaturas disponíveis”, disse o comandante. Para Araguaína, o Comando Geral garantiu um reforço inicial de viaturas e motos até que os novos veículos alugados cheguem à cidade. Segundo o coronel, o número não será divulgado por questões estratégicas.
Sobre o aumento no efetivo, o comandante autorizou o pagamento de horas extras aos policiais para que o policiamento nas ruas seja reforçado. “Vamos também aumentar o número de operações Fecha Quartel para deslocarmos nosso efetivo do administrativo para as ruas”, completou Coronel Glauber. O Comando Geral adiantou, ainda, que há um projeto de implantação de uma Escola Militar em Araguaína para o início de 2016.
Células Comunitárias
Segundo o presidente dos conselhos de segurança da cidade e diretor da Aciara, Dearley Kuhn, das nove células existentes em Araguaína, apenas uma mantém operação e em condições precárias. “A presença dos policias nos bairros com o auxílio da comunidade é uma estratégia importantíssima para identificar onde está a criminalidade e coibir suas ações. Mas já há algumas gestões, o Governo do Estado não demonstra mais interesse neste projeto”.
De acordo com o comandante do Policiamento do Interior, Tenente-Coronel Luis Carlos Barbosa Ferreira, com o incremento dos 1000 soldados aprovados no último concurso, haverá condições de reativar as células comunitárias de segurança. “Mas é preciso aguardar o prazo de formação dos policiais e planejar as ações”, informou o tenente-coronel.
Mais sugestões
Diante das justificativas dos representantes do Governo quanto às dívidas deixadas pela gestão passada, que estariam impossibilitando investimentos a curto prazo, o diretor da Aciara, Renato Freire enfatizou que o objetivo do movimento é cobrar um comprometimento do poder público com a cidade de Araguaína, “que está abandonada pelo Governo do Estado há anos”.
A também diretora Juliane Carneiro lembrou que a falta de segurança afetará diretamente a arrecadação do Estado. “Os comerciantes estão com medo de manter suas lojas abertas e até mesmo os consumidores temem ir às ruas para comprar porque podem ser assaltados a qualquer momento e em qualquer lugar”, reforçou Juliane.
Já para o presidente do Rotary Club de Araguaína, Ronaldo Assis Carvalho, a Polícia Militar deveria aumentar o número de blitzen nas ruas e avenidas. “Queremos que as autoridades cobrem o cidadão, exijam que estejamos em dia com nossos veículos. A população quer ver a polícia na rua”, afirmou. O advogado da Associação dos Praças da PM, Anderson Mendes, também chamou a atenção para a necessidade de retornar às ruas os policias que hoje cumprem funções de guarda ou administrativas em órgãos públicos. “É preciso também garantir mais delegados para plantões nas cidades do interior. Quando acontece um flagrante, o pequeno destacamento de policiais precisa se deslocar até Araguaína para apresentar o acusado ao delegado. Enquanto isso, o município fica desprotegido”.
O presidente Manoel ressaltou às autoridades que o intuito do movimento é colaborar, além de cobrar o que lhes é de direito, já que todos contribuem com impostos. “E esta ação irá adiante porque pretendemos efetivar fóruns permanentes de discussões para fortalecermos o movimento e nos mantermos vigilantes quanto às ações do poder público”. (Ascom Aciara)