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Polí­cia

A Polícia Federal realiza nesta sexta-feira, 20, a Operação “La Muralla” para desarticular uma complexa organização criminosa transnacional que atua principalmente no tráfico internacional de drogas e que tenta consolidar um estado paralelo na região norte do País.

Em ação coordenada, cerca de 400 policiais federais e 300 policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar e do Grupo Fera da Polícia Civil do Estado do Amazonas cumprem 442 mandados judiciais, sendo 127 mandados de prisão preventiva, 67 mandados de busca e apreensão, 7 buscas em presídios estaduais, 68 medidas de sequestro de bens, além do bloqueio de ativos registrados em 173 CPF/CNPJ ligados a integrantes da organização criminosa, todos determinados pela Justiça Federal no Amazonas. Dentre os presos, 17 serão transferidos para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) em penitenciárias federais. Por praticarem atos ilícitos no interesse da organização criminosa, também serão presos sete advogados e um vereador da cidade de Tonantins/AM.

As ações transcorrem nas cidades de Manaus/AM, Tonantins/AM, Tabatinga/AM, Crateús/CE, Caucária/CE, Fortaleza/CE, Natal/RN, Boa Vista/RR e Rio de Janeiro/RJ. Por meio de cooperação internacional, pela Difusão Vermelha da Interpol, também serão efetuadas prisões no Peru, Colômbia, Venezuela e Bolívia.

A investigação teve início em abril de 2014 com a apreensão de R$ 200 mil, em espécie, pela Polícia Federal no Amazonas. Na ocasião, durante ação no Rio Solimões, uma lancha de propriedade do grupo foi apreendida com o dinheiro ocultado no interior de um aparelho de ar condicionado. Apurou-se que a carga tinha como destino fornecedores de drogas que atuam na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Durante as investigações, a Polícia Federal conseguiu revelar como se estruturava uma facção criminosa que domina o sistema prisional do Estado do Amazonas, que se organizava de forma similar às facções criminosas que dominam os sistemas prisionais nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Com uma estrutura extremamente hierarquizada, a organização planejava controlar as ações do grupo de dentro dos presídios do Amazonas, almejando o domínio absoluto do sistema prisional e o monopólio do tráfico de drogas no Estado. A organização buscava executar um verdadeiro sistema empresarial do crime, sempre com o objetivo de auferir lucros. Estima-se que nos últimos anos a organização tenha sido capaz de incorporar em suas “fileiras” milhares de pessoas, em um sistema de divisão funcional de atividades, inclusive com núcleo jurídico próprio (advogados integrados às atividades criminosas do grupo).

A organização criminosa se utilizava de meios tecnológicos avançados para a realização de “negócios” com outras organizações criminosas, nacionais e internacionais, e ainda nos contatos com políticos e membros do poder público. Pretendia até indicar e financiar a candidatura de alguns de seus integrantes para a disputa de cargos políticos nas próximas eleições.

Com extrema violência, o grupo tentava consolidar um estado paralelo na Região Norte do País, com leis próprias, definidas por meio de seu “estatuto”, no qual suas lideranças ditavam sentenças diárias, muitas de dentro do sistema penitenciário, onde foi instituído um verdadeiro “tribunal do crime”. A facção criminosa estipulava os crimes que poderiam ser praticados, especialmente sobre quem deveria viver ou morrer. Os dados obtidos durante as investigações permitem responsabilizar o grupo por dezenas das mortes violentas ocorridas nos últimos meses em Manaus, incluindo alguns homicídios cometidos no período que ficou nacionalmente conhecido como “Fim de Semana Sangrento”, quando 38 pessoas foram assassinadas na capital amazonense em apenas três dias. 

Somente nos últimos seis meses de investigação foram realizadas 11 grandes apreensões de drogas pertencentes à organização, que resultaram em 27 prisões em flagrante e na apreensão de aproximadamente 2,2 toneladas de drogas, avaliadas em aproximadamente R$ 18 milhões. Houve, ainda, a apreensão de dinheiro, veículos, embarcações e armas de fogo de grosso calibre, incluindo submetralhadoras 9mm e granadas de mão.

Os presos serão ouvidos na Superintendência da PF em Manaus e recolhidos em presídios estaduais e federais. Todos responderão, na medida de suas participações, pelos crimes de Tráfico Internacional de Drogas, Tráfico de Armas, Lavagem de Dinheiro, Evasão de Divisas, Roubo, Corrupção, Homicídio, Sequestro, Tortura e outros crimes conexos.

La Muralha

“La Muralla” (em português, "A Muralha") era o nome do quartel general do Cartel de Cali, na Colômbia, local em que as principais lideranças daquele grupo coordenavam suas ações criminosas. A operação foi batizada com esse nome espanhol em função de diversas coincidências na estrutura, objetivos e modo de operação com a facção amazonense.