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Saúde

Foto: Dirceu Leno

Profissionais e usuários da área de Saúde Mental, deram na manhã desta segunda-feira, 14, um abraço simbólico no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Tocantinópolis. O ato é em protesto contra a decisão do ministro da Saúde, Marcelo Castro, de nomear para a Gerência Nacional de Saúde Mental, o psiquiatra Valencius Wurch Duarte Filho.

Os manifestantes consideram que a nomeação de Valencius Wurch é um retrocesso, já que ele é contrário à reforma psiquiátrica. A proposta muda radicalmente a antiga lógica dos manicômios, quando o paciente ficava internado quase que a vida toda.

O defensores da reforma afirmam que o melhor para o paciente – sem descartar ocasionais internações, em momentos de crise – é trabalhar em sua reabilitação psicossocial, ou seja, encontrar meio de reinseri-lo na sociedade. E a atual política nacional segue este caminho.

Um ponto que pesa contra Valencius Wurch é o fato de ele ter sido, nos anos 1990, diretor da Casa de Saúde Dr. Eiras, em Paracambi, na Baixada Fluminense, que já foi o maior hospital psiquiátrico da América Latina. Recaíram sobre a unidade acusações de maus-tratos e violação de direitos dos pacientes. Em 2012, a casa de saúde foi fechada definitivamente pela Justiça do Rio, após uma intensa batalha travada pelo Ministério Público.

A ação também faz parte do primeiro passo da mobilização em função da ameaça de retrocesso dos diretos conquistados pela Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. A manifestação contou com a presença dos usuários e servidores do CAPS de Tocantinópolis, que durante o ato, cobraram compromisso com a atual Política de Saúde Mental.

Usuários

Na oportunidade, alguns usuários do serviço psicossocial destacaram suas trajetórias e os bons préstimos ofertados pela instituição, dizendo que “manicômio nunca mais”. Dona Cícera falou que no CAPS de Tocantinópolis ela se sente como se estivesse na própria casa ao lado de seus familiares. “Aqui no CAPS eu me sinto muito bem. Aqui sou tratada igualmente como se estivesse na minha família. Manicômio nunca mais”, destacou.

Já a Dona Rosidalva fez questão de relatar que o CAPS é a segunda casa dela e lá se sente muito feliz. “Quando eu estive no manicômio eu paralisei minhas pernas, só depois de muito tempo eu voltei a caminhar de novo, aí foi o tempo que fizeram o CAPS e a partir daí eu comecei a frequentar. Aqui é a minha segunda casa, os funcionários são muitos exemplares, fazem tudo o que é de bom conosco; basta dizermos que estamos com algum problema que eles ajeitam tudo para a gente. Por isso, manicômio nunca mais!”, frisou.

Maria das Graças que já esteve numa clínica psiquiátrica disse que teve uma experiência muito ruim e hoje no CAPS a situação é bem diferente, pois recebe respeito e carinho. “Em 2004 fui para a clínica de repouso São Francisco e lá tive uma experiência muito ruim, porque eu fiquei em choque com aquela situação e até hoje eu sinto um trauma ainda. Estou no CAPS desde de 2008 e aqui eu encontrei uma família onde sou amada, sou respeitada e tenho uma defesa e eles me defendem em tudo que eu preciso”, comentou.

A dona Antônia Alves dos Reis relatou que recebe ótimos cuidados pela equipe. “O CAPS é um ótimo lugar. Aqui fazemos nosso tratamento, nós recebemos nosso remédio e somos bem recebidos. A equipe nos busca em nossa própria casa. Então, eu acho que o CAPS é muito importante para todos nós e ele não pode parar”, disse.

O usuário Elturielton disse que têm vivido boas experiências e que o serviço prestado pelo CAPS é excelente. “Eu tenho vivido boas experiências, a começar pelas medicações e ter tido um bom controle sobre minha vida; não ter mais voltado para a clínica psiquiátrica, que era o que acontecia antigamente. Estou levando uma vida normal. Tem as ações sociais que faz com que a gente fique inserido novamente na sociedade. Então eu espero que essa nova coordenação nacional que vier a assumir, possa respeitar a lei de 2001 que dá prioridades, que dá autonomia aqui no nosso país para que sejam mantidas essas leis que regulamentam os CAPS”.

Luta em favor dos assistidos

A coordenadora do CAPS de Tocantinópolis, Antônia Pereira, disse que a luta em favor dos assistidos é antiga e que uma nova direção contrária à política psicossocial seria um retrocesso. “Estamos hoje aqui de braços abertos nesta causa porque a gente já sabe que a luta é de muito tempo e estamos vendo essa evolução desse tratamento humanizado. Então hoje para gente ver toda essa luta que estamos tendo e tudo que conseguimos até agora ser destruído é uma preocupação muito grande, acredito que não somente nossa, mas todo o Brasil está preocupado nessa possibilidade de retrocesso. A luta nossa é por esta causa, porque a gente tem que lutar por uma melhora e não por um retrocesso que vai prejudicar com certeza os nossos usuários”, destacou Antônia.

A coordenadora disse ainda que os usuários ficaram tristes com o comunicado da possível mudança de diretor. “Quando mencionamos para eles o que estava acontecendo, percebemos a tristeza que eles ficaram, porque antes eram isolados, eram tratados não como seres humanos e, hoje eles são tratados como seres humanos, tratados no meio da família e eu acredito que isso vai prejudicar não só o serviço como eles também e, a gente pode ter uma grande derrota nos tratamentos que estamos conseguindo, pois eles estão todos bens, nunca mais tiveram crises. Eu acredito que precisa ser dado continuidade no trabalho que estamos fazendo”, concluiu.